Reportagem

Building the Future: a transformação digital passa também por uma mudança cultural

A terceira edição do Building The Future realizou-se, como tem acontecido com a maioria dos eventos, em formato digital. ‘Transformação digital’ foi a expressão mais ouvida durante os três dias desta conferência que também abordou temas como a cloud, os dados, a segurança, a sustentabilidade e a educação.

Um jogo infinito
Heath Slawner, igniter na Simon Sinek Inc., começou por explicar que a única coisa que se pode controlar é a forma como se reage ao que acontece: «É como reagimos e como enfrentamos o desafio, que dá sentido à experiência. É assim que criamos o próximo normal». O responsável disse que nos últimos dez meses houve uma «aceleração digital de dez anos», em que o mundo foi «forçado» a adaptar-se: «Temos de adoptar uma mentalidade experimental, uma mentalidade de crescimento. Acreditar no desenvolvimento do talento, das competências e que os desafios são a melhor maneira de o fazer. Isto é o que vai ser preciso para construir e reimaginar o futuro». Em seguida, esclareceu que existem os «jogos finitos», como o futebol, em que há regras claras, onde é fácil distinguir o adversário e em que no final há um vencedor, e os «jogos infinitos». Nestes, os jogadores podem não ser conhecidos, nem sempre se sabem as regras (ou estas estão sempre a mudar) e não há um claro vencedor. O principal objectivo do jogo infinito é perpetuar o jogo e permanecer nele o máximo possível – exemplos disso são a educação ou o casamento. Nas empresas também deveria ser assim: Slawner disse que «em vez de os líderes estarem obcecados com a concorrência e o crescimento» deviam olhar para o negócio como um «jogo infinito», uma vez que quando se joga com uma mentalidade finita num jogo que não tem linha de chegada há «um declínio de confiança, da cooperação, da inovação e eventualmente, é o fim da organização».

Novas lideranças
O igniter colocou a questão ‘como é que lideramos com uma mentalidade infinita?’ e deu um conjunto de cinco práticas para conseguir fazer isso: «Ter uma causa justa, ou seja, uma visão do futuro tão convincente que as pessoas se sacrifiquem voluntariamente para lá chegarem»; «construir equipas de confiança, em que as pessoas se sintam seguras para admitir e perdoar erros e aceitar ajuda»; «reconhecer e estudar os rivais, vê-los como dignos e respeitá-los porque são melhores em algumas coisas e os seus pontos fortes revelam-nos as nossas próprias fraquezas, que podemos trabalhar para melhorar». O igniter na Simon Sinek Inc. falou ainda em «flexibilidade existencial», que significa ter «vontade e a visão para fazer uma mudança estratégica profunda», mesmo que isso signifique uma «perda a curto prazo», porque as regras estão «sempre a mudar».

Finalmente, Slawner referiu a «coragem para liderar» porque todos os outros elementos são «muito difíceis e é preciso estar disponível para sacríficos». O responsável salientou que é «muito mais fácil gerir uma empresa de forma trimestral ou anual, olhando apenas para os números», que «tomar decisões com uma causa justa em mente» e disse ainda que a liderança é a «responsabilidade incrível de ajudar a melhorar aqueles que nos rodeiam».  Heath Slawner deixou uma última mensagem: «Temos a oportunidade de fazer a diferença, de viver vidas com mais significado, de construir e reimaginar o futuro que é infinito».

Construir o futuro
Paula Panarra, directora-geral da Microsoft Portugal, destacou que o «mundo mudou» e que a pandemia trouxe «desafios, desaceleração económica, agravou a crise climática» e que é preciso «estabelecer confiança na utilização da tecnologia, já que ela vai ser fundamental para a recuperação económica, assim como para reduzir as desigualdades das competências digitais». O mesmo foi dito por Cindy Rose, presidente da Microsoft Western Europe, que referiu que a empresa está a fazer «parcerias com organizações sem fins lucrativos, privadas e instituições governamentais para criar oportunidades de formação e programas que se centrem na literacia digital».

A responsável divulgou os números com os quais a Microsoft se comprometeu em Portugal: até ao final de 2022, a tecnológica vai ajudar no aumento de competências digitais para mais de duzentas mil pessoas no sector público e privado, no desenvolvimento de competências tecnológicas de mais de setenta mil estudantes do ensino superior e apoiar startups portuguesas em regiões menos desenvolvidas do País até um milhão de euros. Além disso, na Microsoft Portugal, serão criados trezentos empregos. Aqueles que podem fazer mais, devem», avisou Paula Panarra.

Falando ainda da situação nacional, a directora-geral frisou que a aceleração digital foi um «catalisador do possível» e que veio trazer às empresas a «consciência de que é possível fazer mais» e de que o digital «vai ser crítico para a economia nacional». Esta transformação «tem também de ser cultural» para que «a tecnologia seja o enabler que é preciso para a digitalização».

A responsável da Microsoft Portugal alertou ainda que a transformação digital e o crescimento económico têm de «ter em conta a sustentabilidade», já que esta «é uma questão core nos negócios pelo impacto que pode ter no ambiente e na reputação das marcas».