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O futuro da energia está na tecnologia, não nos combustíveis fósseis

Esqueçam o petróleo. O futuro da energia passa pelo Sol, pelo hidrogénio e pela adopção de tecnologias como Internet das Coisas, Big Data, redes inteligentes, medidores inteligentes e processamento na nuvem.

Em 2019, a realidade mudou: a palavra ‘tecnologia’ foi escrita três vezes mais que ‘recursos’ e até ‘veículos eléctricos’ subiu no número de menções. Já em 2020, houve um crescimento acentuado nas alusões à palavra ‘tecnologia’, apesar do termo vencedor – aparece quase quatrocentas vezes – ter sido ‘COVID-19’. «É justo que a tecnologia e os veículos eléctricos, que neste momento são tendências de longo prazo face ao petróleo, sejam mencionadas relativamente menos este ano, pois a palavra pandemia acabou por se destacar. Mas a questão a longo prazo, porém, não é sobre uma pandemia. É uma questão de tecnologia e se a procura por petróleo responde, ou não, às novas tecnologias, da mesma forma que o carvão agora está a responder à energia solar: com declínio estrutural», disse Miguel Freitas.

Os objectivos verdes
É urgente desenvolver e abraçar tecnologias de energia limpa para cumprir as metas internacionais de energia e clima, especialmente para reduzir as emissões de carbono de sectores como os transportes, edifícios e indústria, de acordo com um relatório de Setembro da IEA.

Com as emissões globais de carbono em níveis inaceitavelmente altos, pelo menos segundo esta agência, são necessárias mudanças estruturais no sistema de energia para atingir o declínio rápido e duradouro nas emissões, exigido pelas metas climáticas partilhadas pelo mundo.

O documento conclui que bastava a transição do sector para energia limpa e um terço do caminho, para atingir zero em emissões líquidas, estava feito. Mas terminar este ‘caminho’ vai exigir muito mais atenção aos sectores dos transportes, indústria e construção, que hoje são responsáveis por cerca de 55% das emissões de CO2 do sistema energético. O elevado uso de electricidade nesses sectores – para fornecer energia a veículos eléctricos, reciclar metais, aquecer prédios e muitas outras tarefas – pode ser a maior contribuição para alcançar zero emissões líquidas, de acordo com o relatório, embora muito mais tecnologias sejam necessárias.

«Apesar das dificuldades causadas pela crise da COVID-19, vários desenvolvimentos recentes dão-nos motivos para aumentar o optimismo sobre a capacidade do mundo em acelerar as transições para energia limpa e alcançar os seus objectivos relativamente à energia e ao clima. Ainda assim, os principais problemas permanecem. Este novo relatório da IEA não mostra apenas a dimensão do desafio, mas também oferece uma orientação vital para o superá», disse Fatih Birol.

Miguel Freitas corrobora esta tendência: «A energia solar está a levar as energias renováveis a novos patamares em mercados um pouco por todo o mundo, as taxas de juros ultrabaixas estão a ajudar a financiar um número crescente de projectos de energia limpa, ao mesmo tempo que mais governos e empresas estão a investir em tecnologias críticas. Toda uma inovação energética pode estar prestes a acontecer”.

No entanto, Fatih Birol reforça a necessidade de haver mais países e empresas a embarcar nesta viagem. «Precisamos de redobrar os esforços para levar o acesso à energia a todos aqueles que actualmente não a têm e combater as emissões da vasta quantidade de infra-estrutura de energia em uso em todo o mundo, algo que ameaça colocar os nossos objectivos comuns fora de alcance».