A NFON AG considera-se o único fornecedor pan-europeu de PBX na cloud e escolheu Lisboa para a abertura do seu centro de investigação e desenvolvimento. Markus Krammer explicou o que motivou a aposta da NFON em Portugal e de que forma a pandemia afectou a situação da empresa.
O que levou a NFON a escolher Lisboa para instalar o seu centro de I&D? Como foi o processo de selecção?
A nossa operação é na Alemanha, é aí que temos os data centers, a nossa equipa de investigação e desenvolvimento (I&D) e os nossos programadores. No entanto, é muito difícil encontrar talento porque há também outras empresas e grandes organizações a contratar. Além disso, a mão-de-obra não é barata.
Assim, a escolha de Portugal e em particular Lisboa recaiu no rácio qualidade-custo, a combinação de quanto podemos pagar versus a qualidade dos profissionais. A relação qualidade/tecnologia foi determinante. Quanto ao processo, fizemos uma análise de 25 critérios em sete países e Portugal surgiu como a localização que mais se adequava à NFON. Portugal, teve o melhor resultado, a pontuação mais alta do nosso modelo de pontuação e classificação.
Quais são os objectivos do centro de I&D e de forma esperam que o centro vá contribuir para o desenvolvimento da empresa?
Nos últimos quatro anos fui responsável pelo portfólio de produtos e pelo desenvolvimento da estratégia de produto e claro, neste papel, compreendi muito claramente o que temos de fazer para nos mantermos no topo, ao nível do desenvolvimento e da inovação. O objetivo do centro de I&D em Lisboa é claramente impulsionar o desenvolvimento de produtos e de novas funcionalidades.
O foco é ter um centro de investigação e desenvolvimento com equipas multifuncionais, que trabalhem em estreita colaboração com as equipas na Alemanha. Neste momento, temos equipas de desenvolvimento em Berlim, em Frankfurt e Munique. Estas equipas vão trabalhar como uma só, mas distribuídas pelos vários locais contribuindo com o seu conhecimento e com a sua experiência. A equipa de Lisboa vai permitir-nos acelerar a nossa velocidade de desenvolvimento e com isso poderemos trazer novidades mais rápido ao mercado.
Qual será o investimento feito no novo centro de Portugal?
Vamos investir um valor correspondente a um único dígito alto até ao final de 2024, o que corresponderá entre dois a três milhões de euros ao ano no centro de I&D de Portugal.
Quantos profissionais pretendem contratar e que perfis procuram?
Queremos contratar oito colaboradores até ao final do ano, trinta profissionais até ao final de 2021 e poderemos ter entre setenta a duzentas pessoas em 2024. Em relação aos perfis estamos a recrutar engenheiros de software, programadores de front-end e back-end e engenheiros de quality assurance. Mais estar iremos também contratar developers de apps. É um processo com uma linha temporal muito ambiciosa e estamos plenamente conscientes disso.
A escassez de profissionais TIC, que também existe em Portugal, é hoje uma das grandes preocupações das organizações. Como é vêm este tema?
Em primeiro lugar, acho que a concorrência é uma coisa boa porque sem concorrência as pessoas seriam menos qualificadas. A NFON é uma marca forte, não queremos ser arrogantes, mas o facto é que estamos no mercado há doze anos e temos um negócio muito estável, crescemos a dois dígitos e isso é muito forte.
Claro que, no mercado português, não somos assim tão conhecidos, mas, no geral, em toda a Europa temos uma marca muito boa no sector de comunicações na cloud, somos uma das marcas de topo. Este é o ponto número um. O segundo ponto é que precisamos dar aos colaboradores tarefas desafiantes. Falei com algumas pessoas e o feedback que tive é que em Portugal, às vezes, os profissionais sentem-se como uma espécie de ‘satélite’ e querem fazer projectos grandes e interessantes onde podem trazer o seu conhecimento e é isto é definitivamente o que queremos fazer. Vamos incluir os colaboradores de Portugal diariamente, por exemplo, nas nossas sessões, e vamos ter um programa de onboarding, no qual vamos levar as pessoas até à Alemanha, para que conheçam os colegas e criem relações. Somos uma empresa grande, mas ainda temos algum ADN de startup. Se queremos fazer alguma coisa, trabalhamos em equipa.
Para nós o trabalho em equipa, as boas relações e contribuir para fazer algo crescer são muito importantes. Esta é a nossa filosofia. É, claro, temos de corresponder ao que as outras empresas oferecem em termos de remuneração, regalias e benefícios. No entanto, esperamos convencer as pessoas a vir para a NFON porque temos um ambiente em que se sentem em casa, felizes, desafiados e reconhecidos pelo trabalho que fazem. Vou tentar com toda a minha energia criar este ambiente.
Qual a estratégia da NFON para o mercado nacional?
O mercado português faz parte da NFON Iberia e é essa equipa de vendas que gere a Península Ibérica. Neste contexto, para os próximos doze meses, tudo permanecerá igual. É natural que o foco dessa equipa esteja em primeiro lugar em Espanha, mas vamos talvez colocar mais foco no mercado português. Isto é algo que terá de ser decidido no orçamento que será discutido para 2021. Para já a estratégia nos próximos meses, é muito clara e consiste na implementação com sucesso do centro, a contratação da equipa, fazer o onboarding com a equipa alemã e escalar até trinta pessoas até ao final do próximo ano.
A situação da pandemia da COVID-19 alterou de alguma forma a abertura do centro R&D e as vossas perspectivas de crescimento?
Começamos a planear o centro no primeiro trimestre e, entretanto, em Fevereiro/Março chegou a COVID-19. Tínhamos uma visita marcada a Portugal que acabou por ser totalmente virtual. Trabalhámos em conjunto com a AICEP e estamos-lhe muito gratos pela ajuda, o network e o apoio que nos deram. Também tivemos algumas decisões adiadas devido à pandemia que nos atrasaram um pouco. Começamos a análise em Março e abriremos o escritório em Setembro e já iniciamos o recrutamento. Tudo isto em quatro meses, penso que é rápido se tivermos em consideração a situação. Na NFON somos quatrocentas pessoas mas quando nos focamos em algo conseguimos ser ágeis e rápidos.
No que diz respeito ao segundo aspecto, temos muita sorte, porque ao sermos um fornecedor de serviços de comunicações na cloud, não tivemos um choque tão grande como outras empresas. Com muitas empresas a terem de colocar os seus trabalhadores em casa, nós tivemos uma entrada de encomendas positiva em especial em mercados como a Alemanha, a Áustria e Reino Unido. No geral, estamos numa situação muito positiva, temos muitas encomendas, temos muitos pedidos, especialmente de grandes empresas que precisam de mudar para um ambiente e infraestrutura muito flexível. Este é um dos nossos trunfos, em especial porque podemos fornecer isso não apenas num país, mas em toda a Europa. Os incumbentes, por exemplo, não conseguem oferecer um serviço em múltiplos países.
Não temos a bola de cristal e não podemos prever o que a segunda vaga trará, mas estamos no bom caminho para cumprir o orçamento. E penso que isto é muito importante porque o budget tem um crescimento muito forte de dois dígitos à volta de 25%. No ano em que nos debatemos com a COVID-19, isto é um desempenho forte.
Como é que vêm a vossa concorrência?
Em primeiro lugar, estamos satisfeitos por termos concorrentes, porque se não existisse concorrência, isso significaria que esta indústria não seria atraente. É muito atraente e a oportunidade, só na Europa, é enorme. Existem 135 milhões de telefones fixos e só 15 milhões estão na cloud. O potencial é enorme e todos os anos milhões vão passar de on-premises para um modelo na nuvem. Esta é a beleza e a atractividade deste mercado e é por isso que continuamos a investir tanto. Cada empresa que está a vender extensões na cloud é um dos nossos concorrentes e isso faz-nos felizes. Sabemos que em partes específicas podem ser melhores, mas no geral, temos muitos bons pontos de venda e podemos adequar a nossa oferta perfeitamente às necessidades do cliente. O nosso maior objetivo é sermos o número um em oferecer liberdade nas comunicações empresariais, ou seja, em qualquer lugar, em qualquer altura e em qualquer dispositivo.
A NFON tem mais de quarenta mil clientes. De que sectores de actividade são a maioria dos V. clientes? São sobretudo grandes empresas ou PME?
O nosso serviço pode ser usado por qualquer cliente e negócio porque apenas é preciso terem ligação à Internet. Temos clientes com uma extensão e clientes com oito mil extensões. Este é o benefício do nosso serviço e do nosso modelo de negócio.
Não temos foco específico em nenhuma indústria. Os nossos clientes podem ser um advogado, um dentista, o sector público, um fabricante de automóveis ou uma companhia de seguros. As empresas quando começam com o nosso serviço muito rapidamente descobrem os benefícios, e especialmente se estão em diversas localizações.
O nosso target são empresas de cinco a dez colaboradores até 250 a 500, é como definimos PME. O nosso foco são as pequenas e médias empresas.
Tem referido muitos mercados da Europa e o âmbito europeu da NFON. Há planos para expansão para outros mercados? Poderá o centro de Lisboa ser o ponto de partida para a entrada em África (PALOP) e na América Latina, por exemplo?
Existem muitas oportunidades lá fora e olhamos para elas regularmente, mas até agora o plano é centrado os nossos negócios na Europa. Porquê? Porque a oportunidade é tão grande. Dizemos na NFON, um passo de cada vez e o plano é concentrar tudo na Europa e talvez aconteça daqui a uns anos, não sei. Por enquanto o foco é muito claro e é na Europa.
A cloud é cada vez mais relevante, e tal, como as comunicações, revelou-se de vital importância recentemente. No V. entender, como será o futuro da área em que actuam?
Já não é uma questão se vão mudar para cloud mas sim de quando vão mudar para a nuvem. O negócio on-prem tradicional está mais ou menos morto. As empresas agora precisam de pensar em disaster recovery e para muitas a situação da COVID-19 foi um desastre. Acho que a única oportunidade ou solução é uma infraestrutura de comunicação baseada na cloud.
Considero que a comunicação na nuvem é fundamental para todas as empresas porque lhes dá flexibilidade. Por exemplo, com a NFON podem entrar no portal e activar uma nova extensão, se chegar um novo colaborador, independentemente da sua localização. Penso que para as empresas de comunicação baseadas em software o futuro será muito brilhante.