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O mundo depois da COVID-19: menos globalização, mais tecnologia

Uma vez derrotado o SARS-CoV-19, o novo normal será marcado por um crescimento muito mais lento e pelo risco de deflação, dizem os analistas. Vai haver menos globalização, mas claramente mais tecnologia.

Já vimos este ‘filme’ antes mas…
Os responsáveis pelas empresas e os trabalhadores já passaram por crises económicas anteriores. E por isso sabem que as ‘dores’ de cada crise são diferentes mas também sabem que as empresas se adaptam e recuperam. Pelo menos até agora. Ainda assim, o choque que atravessa o mundo dos negócios é assustador e o colapso da actividade comercial muito mais grave do que nas recessões anteriores. O caminho de saída das actuais restrições será precário, com consumidores desconfortáveis e uma visão de pára-arranca que inibe a eficiência. A longo prazo, o The Economist diz que as empresas que sobreviverem terão que dominar um novo ambiente, à medida que a crise e a resposta a ela aceleram três tendências: uma adopção energizante de novas tecnologias, um recuo inevitável das cadeias globais de fornecimento e um aumento preocupante nos bem-relacionados oligopólios. Escreve o The Economist que muitas empresas estão a lidar com isso de forma heróica. Cheios de adrenalina, os responsáveis pelas empresas estão a transmitir mensagens empolgantes aos seus funcionários. Gigantes corporativos «normalmente cruéis», diz o The Economist, estão a ajudar o serviço público. A lvmh, fornecedora parisiense de perfumes Dior, está a destilar o desinfectante para as mãos, a General Motors quer fabricar ventiladores e o fundador da Alibaba está a distribuir máscaras em todo o mundo. Os rivais no comércio de retalho estão a cooperar para garantir que os supermercados tenham stock. Poucas empresas listadas tornaram públicos os seus cálculos dos danos financeiros causados pelo “congelamento” nos negócios. Como resultado, Wall Street espera apenas uma ligeira queda nos lucros em 2020.

Mas os analistas não se deixam enganar por estes números. Na última recessão, dois terços das grandes empresas americanas sofreram queda nas vendas. No pior trimestre, a queda média foi de 15% em relação ao ano anterior. Nesta crise, serão comuns quedas de mais de 50%. O The Economist diz mesmo que inúmeros indicadores sugerem stress extremo. A procura global de petróleo caiu em até um terço, o volume de carros e peças embarcadas nas ferrovias americanas caiu 70%. Muitas empresas têm apenas inventários e dinheiro suficientes para sobreviver por três a seis meses. Isto nos Estados Unidos. Tentámos arranjar um paralelismo para Portugal mas ninguém se arriscou a dar. O máximo que conseguimos foi um «não me cite, mas penso que no nosso país as empresas não terão como sobreviver mais do que dois a três meses». Valha-nos o facto de, em Portugal, os números do Covid-19 não serem tão duros – pelo menos aquando escrevemos esta reportagem – como em terras do tio Sam. Por lá, na quinzena de 28 de março, 10 milhões de americanos pediram subsídios de desemprego. Na Europa, talvez um milhão de empresas se tenham apressado em reivindicar subsídios estatais para os salários de funcionários inactivos. Dividendos e investimentos estão obviamente a serem cortados.

TIC desaceleram, com excepções
Por cá, os analistas da IDC trabalharam vários cenários e chegaram à conclusão de que, seja ele qual for, a Europa enfrenta um impacto significativo nas pessoas, na economia e no investimento. Entre as projecções da consultora está um golpe significativo na confiança, maior incerteza e restrições em deslocações que diminuem o consumo em geral. A IDC prevê que o PIB europeu apresente uma variação de -4,7% em 2020 face a 2019. «A maior parte do declínio do PIB decorre dos efeitos directos da redução da procura, mas também do acumular da incerteza». Já o mercado de trabalho, segundo esta consultora, verá uma redução visível em funcionários e também um impacto sobre os trabalhadores por conta própria.

No que diz respeito aos investimentos em TI, a IDC prevê que os orçamentos desta área serão reduzidos significativamente a meio do ano, importando uma gama ampla de tecnologias. «As actualizações desnecessárias serão suspensas e a maioria dos projectos de transformação de negócios será revista». Por outro lado, haverá um impulso nas ferramentas de colaboração para trabalho remoto e serviços cloud. «Iniciativas para utilização de tecnologias de automação poderão ser lançadas, visando ganhos de eficiência».

Ou seja, os gastos em TIC irão desacelerar, com algumas excepções. Haverá um aumento de despesa nas ferramentas de colaboração online, impulsionadas pelo aumento do nível de trabalho remoto. Gastos com segurança podem aumentar nos trimestres seguintes, devido ao potencial de novas ameaças. «A abordagem por subscrição beneficiará da crise. Transição para IaaS poderá ser acelerada e um maior consumo Saas». A IDC estima ainda que o tráfego de banda larga móvel disparará.

No verso da moeda, haverá restrições de oferta e procura enfraquecida, o que deverá ao declínio nos dispositivos pessoais. Atrasos nas cadeias de abastecimento irão levar a uma desaceleração gradual nas despesas para datacenter. A IDC diz ainda que os serviços baseados em projectos poderão sofrer atrasos em adjudicações e na sua execução.