Reportagem

EY Portugal debate as principais tendências para as TMT

EY Beyond - TMT

Dentro de cinco anos, a tecnologia mais disruptiva para um sector pode bem vir a ser criada por alguém que nem opera na área. De que forma é que as TMT podem reagir a estes desafios e acompanhar as tendências?

Pela segunda vez, a EY Portugal organiza o evento Beyond – Portugal Digital Revolutions, num movimento para gerar a reflexão e o debate sobre o tema da transformação digital. Depois das conferências de saúde e turismo e administração pública, foi tempo das Telecomunicações, Media e Tecnologias de Informação (TMT). Na agenda para aquela manhã na Fundação Calouste Gulbenkian, estavam prometidos temas como a inteligência artificial, cibersegurança ou blockchain – ou seja, todas as grandes tendências.

Segundo a conclusão da EY, dentro de cinco anos, a tecnologia mais disruptiva para um sector vai ser criada por alguém que é uma figura externa para esse sector. E, segundo Rui Henriques, partner da EY Portugal, «o sector TMT está em convergência – e isto é também um momento de convergência para os demais».

Para Paula Panarra, da Microsoft Portugal, empresa que é transversal a vários sectores, no futuro, «todos os negócios vão ser negócios de tecnologia», destacando a capacidade do pensamento disruptivo nesta quarta grande revolução, como é apelidada por muitos.

Numa intervenção focada nas potencialidades da inteligência artificial, a responsável da Microsoft focou alguns pontos de destaque nestes avanços tecnológicos: a modernização do posto de trabalho, as novas formas de interagir com os consumidores, as optimizações de processos e ainda a transformação dos produtos, a possibilidade de criação de negócios.

«O digital vai permitir-nos tudo isto – mas também vai criar-nos mais desafios», explicou. Neste momento, a Microsoft já trabalha com empresas como a Uber, para fornecer um serviço de autenticação facial, por exemplo, além de desenvolver também projectos na área da IA.

«A IA não é algo de novo… A diferença é que agora está democratizada», explicou Paula Panarra, reforçando que isto foi auxiliado pelo «aumento da computação em cloud e também por algoritmos mais poderosos». No reverso da medalha, a responsável reforça que há que manter «respeito pela privacidade» de quem utiliza esta tecnologia.

«A cibersegurança é um jogo assimétrico»

A afirmação é de José Alegria, chief security officer da Portugal Telecom, como pontapé de saída da sua apresentação. «A cibersegurança é um jogo assimétrico», explicava o responsável, destacando que existe «uma diferença entre o nível de inteligência média dos hackers e o nível de inteligência média dos defensores» – e normalmente são os hackers quem está no nível superior.

Dando como exemplo o aumento do número de ataques, como o Wannacry ou o roubo de dados da cadeia norte-americana Target, José Alegria explicava que «as pessoas não se podem habituar aos alarmes», a ter tantos sinais de alarme que há tendência para desvalorizar a situação. «É importante haver uma análise situacional», alertava.

Além disso, o responsável pela segurança da PT lançava ainda outro alerta: «a evolução da economia digital pode ter um processo de estagnação se as questões de cibersegurança não forem tratadas» – e a verdade é que o número de ameaças continua a crescer. «Não é linear que atirar ao problema vá resolver a questão», concluía José Alegria.

Como áreas importantes onde as empresas devem agir, o chief security officer da Portugal Telecom enumera a governança 360º da cibersegurança, a ciber higiene interna e externa, a ciber higiene das pessoas e a diversificação das infraestruturas. «Temos de perceber quantas pessoas da nossa organização é que são capazes de clicar num link de phishing, é preciso ter um número», reforçava.

 

Visualizações, watchtime… e novos players

Já há uns tempos que a tecnologia transformou a forma como vemos televisão. Para o consumidor, a possibilidade de andar para trás na emissão, gravar programas é conveniente – para os canais tradicionais de televisão… nem tanto. Ricardo Tomé, chief digital officer da Media Capital, falou sobre os desafios que estão a mudar a forma de fazer televisão.

«O prime time acabou, foi substituído pelo ‘my time’», exemplificando que «o espectador já não fica preocupado por perder o início do jornal da noite, quando pode andar para trás». «Os hábitos mudaram e tivemos de nos adaptar», explica o responsável, num período em que também se vêem surgir novas métricas que analisam os resultados das audiências das gravações.

Até aqui, havia que adaptar os conteúdos ao perfil demográfico e horário. Agora, há que estar também presente no digital – a TVI apresentou o TVI Player, em 2013, por exemplo. «Tivemos de olhar para as analytics e perceber as diferenças, tivemos de aprender a fazer vídeo na vertical, a conhecer novos perfis de espectador», exemplificou, reconhecendo que há uma clara diferença entre o espectador que vê vídeo no Facebook.

Além disso, há também outra concorrência no mercado: «existem novos players: o YouTube, a Netflix, em breve o Facebook Watch», reforçou Ricardo Tomé.

Rui Henriques _TMT Tax Leader EY Portugal
Rui Henriques – TMT Tax Leader EY Portugal

Big data versus good data

«Os últimos cinco anos trouxeram mais evolução na área financeira do que os últimos 50 anos», principiava Rui Henriques, partner da EY Portugal e TMT Tax Leader, durante a sua intervenção sobre a relação entre o digital e a área de digital tax. «A forma de comunicar com os clientes, a forma de trabalhar… tudo é diferente e acontece a uma velocidade vertiginosa».

Actualmente, a EY já conta com um bot, o Simon bot, que permite responder a questões simples dos clientes – taxas de juro, prazos, por exemplo. A partir do momento em que as questões se tornam demasiado complexas para um bot, é possível ter contacto com um humano, para responder às questões.

«São as autoridades quem está a definir o passo, as empresas estão só a ser reactivas», acrescentou Rui Henriques, em relação às mudanças tecnológicas na área das finanças. No meio de tantas mudanças, o responsável é perentório numa questão, relativamente ao aumento da quantidade de informação: «mais do que big data, é importante ter good data», com informação que seja proveitosa para as empresas.