Tecnologia e cultura são entraves
A maioria dos auscultados apontaram as questões tecnológicas e culturais como os principais entraves à transformação digital – sobretudo a tecnologia e infra-estrutura envelhecidas das empresas, a dificuldade de integrar o digital em sistemas legados e os desafios associados ao impulsionar de mudanças culturais no seio das próprias estruturas TI das empresas.
Para os inquiridos, as aplicações legadas, em particular, são consideradas um fardo, sendo a principal preocupação o efeito negativo que elas têm na agilidade do negócio, seguido por aquilo que exigem ao orçamento tecnológico e que poderia ser mais bem usado se servisse para suportar a inovação.
«O desafio que a maioria das organizações enfrenta é que elas não foram concebidas para a era digital. Muitas fizeram grandes progressos, mas continuam a enfrentar a concorrência de novos actores no mercado que são nativos digitais. Para competir eficazmente, as empresas estão a remodelar a sua infra-estrutura tecnológica, desde o back end até às aplicações empresariais e às ferramentas de produtividade, mas são confrontadas com opções esmagadoras e uma enorme confusão de mudanças nos portfólios das marcas.
E não se trata apenas de implementar a infra-estrutura certa para ir ao encontro das necessidades digitais de um negócio; muitas empresas começam a perceber que, a menos que os funcionários estejam a acompanhar o ritmo, até as estratégias mais bem pensadas irão falhar», salientou Nick Mayes, director de Investigação na PAC.
No entanto, os resultados do estudo revelam algum optimismo face à mudança de paradigma das empresas europeias: embora apenas 20% das questionadas tenham realizado a migração de mais de metade das suas aplicações para a cloud, este número deverá mais do que duplicar nos próximos três anos
Portugal pode beneficiar
Portugal poderá beneficiar de um crescimento de 3,2 mil milhões de euros até 2020 se melhorar a sua economia digital, diz o Accenture Strategy, que juntamente com a Oxford Economics, desenvolveu, pelo terceiro ano consecutivo, um indicador – Índice de Densidade Digital (IDD) – que identifica a real penetração das tecnologias nas economias de vários países, entre eles Portugal.
Luís Pedro Duarte, vice-presidente da Accenture e responsável pelo estudo, admite que «o papel das tecnologias digitais está a mudar – deixou de ser fundamentalmente de ganhos de eficiência para servir de base à inovação e disrupção em estreita relação com a estratégia de negócio. As barreiras existentes entre as indústrias estão a ser quebradas e as empresas dominantes a ser desafiadas ou até ultrapassadas por novos modelos de negócio, alavancados em tecnologias digitais.
A velocidade de mudança é cada vez mais rápida e toda esta transformação requer uma reflexão sobre os impactos, não só nas organizações, como na sociedade e na economia».
Para Portugal beneficiar do crescimento económico, o estudo da Accenture Strategy identifica as dimensões em que manifesta um maior distanciamento face aos casos de referência. E para isso detectou as áreas onde a intervenção deverá ser prioritária. Primeiro, sugere a duplicação do peso dos especialistas de tecnologia na força de trabalho, de 2,5% para 5%.
Em segundo lugar, recomenda que a proporção do investimento anual das empresas em analytics e em soluções de cloud deve aumentar em 35% e 250%, respectivamente. E que deverá haver um incremento de aceleradores.
Em 2020, apenas 25% das 500 maiores organizações portuguesas irá conseguir ter uma estratégia de diferenciação competitiva de sucesso através da transformação digital.
Não temos suficientes diplomados
Mas vamos por partes. As competências tecnológicas digitais dominam a lista das mais procuradas pelas empresas – ex: cloud, data mining, mobile development e cybersecurity – e o número de novos alunos formados pelas universidades nestas áreas não chega para responder aos empresários portugueses.
A percentagem de diplomados no ensino superior na área de Ciências, Matemática e Informática em Portugal é de 7%, quando na Alemanha, por exemplo, é de 14%. Assim que este estudo aponta como crítico que Portugal ponha em marcha ações de capacitação digital. Ou seja, adoptar modelos de recrutamento flexíveis ou fomentar a reconversão de perfis para o digital.
Rui Serapicos vai mais longe e diz estar na hora de cativar os jovens que emigraram a virem aplicar os seus conhecimentos em Portugal: «Muitos deles querem voltar. Temos de os tratar como talentos, de lhes dar condições, dotá-los de meios para que regressem, agora com maior bagagem do que quanto saíram».
Relativamente ao segundo vector, o estudo da Accenture aponta ser fundamental intensificar os esforços do desenvolvimento de analytics para obter um maior conhecimento do cliente e garantir serviços mais personalizados e simplificados.
«Com um investimento de cerca de 40 milhões de euros neste domínio (dados de 2016), Portugal utiliza apenas 0,6% do orçamento do software das empresas de tecnologia», lê-se no documento enviado à imprensa.
Em termos de aceleradores, a Accenture esclarece que o Estado desempenha um papel fulcral na potenciação de políticas e iniciativas que impulsionem as empresas e cidadãos na adopção do digital. «Numa primeira instância, a promoção da literacia digital dos cidadãos está no caminho crítico para o desenvolvimento da Economia Digital.
Em Portugal, 26% dos indivíduos nunca usaram internet, comparativamente com 14% na UE28. Deve assim ser incentivada a formação de cidadãos no digital».
Rui Serapicos corrobora esta opinião, admitindo que o Estado tem de liderar pelo exemplo. «Sim, temos já bons modelos dentro da Administração Pública, mas há ainda muito a fazer».