Entrevista

«As patentes são a inovação que se transforma em valor»

António Raposo de Lima, IBM Portugal

Está na casa IBM desde 1992. Mas, na verdade, António Raposo de Lima sente que entrou há apenas um ano. Isto porque é tal a capacidade da empresa de se reinventar, que é impossível chegar a uma zona de conforto. Mas também, não é suposto. O presidente da IBM Portugal gosta de desafios, move-se por resultados e insiste em trazer o melhor da IBM para Portugal e em exportar o Portugal inovador e de futuro para o mundo.

A história da IBM remonta a 1911. Uma empresa centenária que necessitou de se reinventar para acompanhar os tempos. Hoje como é que define a IBM? Como a apresenta?

A IBM é uma empresa que já está em Portugal há 78 anos a contribuir para um mundo melhor. E tem algo que é permanente: a inovação, o serviço ao cliente e a transformação. E a transformação mais recente é no sentido de termos uma empresa que promove soluções cognitivas em plataformas cloud. Sempre numa lógica setorial.

 

Hoje temos Big Data, Cloud Computing, Analítica, conceitos que têm de ser materializados em negócio, em resultados. É esse o papel da IBM?

Há uma palavra-chave por trás de tudo isso: ‘valor’. O valor percebido e reconhecido pelos cidadãos, pelas empresas e pelas instituições. Em 24 anos, sempre tivemos o recorde em patentes, sendo que o ano passado registamos 8088. Isto significa que a IBM tem um ADN de investigar e criar soluções em novas áreas, que permitam ampliar o âmbito do possível.

O Homem foi à Lua também com a contribuição da IBM. Se hoje analisarmos como os médicos conseguem diagnosticar e encontrar curas para casos como o cancro, a IBM está lá. As patentes são a inovação que se transforma em valor. E o valor é este: soluções.

Somos um País de pequenas empresas. Ou melhor, de micro-empresas com uma reduzida capacidade de investimento. Hoje o negócio da IBM vem de onde?

Portugal é um país desenvolvido, dentro da União Europeia. E tem desafios e algumas características próprias quando comparado com os restantes países. A começar pela sua dimensão e posição geoestratégica, cultura e mentalidade. Somos muito reconhecidos por sermos early adopters de novas soluções. Somos muito reconhecidos por termos um conjunto de valências, competências e talentos únicos nos domínios das engenharias e das matemáticas.

Somos reconhecidos internacionalmente por termos um conjunto de infraestruturas tecnológicas únicas, como as redes 3G, 4G, fibra… Skills, infra-estruturas, cultura e sermos early adopters criam condições únicas que podem ser aproveitadas, por exemplo, para albergar centros de nearshoring de valor acrescentado. Não falo, por isso, de calls centres de baixo custo.

Falo de aceleradores de smart cities, falo de desenvolvimento e criação de soluções cognitivas que depois possam ser exportadas. E isto é válido para grandes ou pequenas empresas. Mas é verdade que temos importantes desafios económicos.

«Gosto de ver os resultados dos investimentos, os resultados nos clientes, o resultado da inovação e gosto de pensar logo na etapa seguinte».

Quais os argumentos que a IBM Portugal tem face à corporação para justificar que invistam em centros de competência no País? Que “armas” têm?

Somos assertivos naquilo que são os factores diferenciadores do País e na experiência que a IBM Portugal tem. Somos reconhecidos na estrutura global da IBM na implementação de soluções inovadoras em vários domínios.

Como por exemplo no sector financeiro, retalho, telecomunicações, nas startups… temos um conjunto de soluções inovadoras, de modelos de serviço em modo cloud e de outsourcing que são muito reconhecidos. Quando há resultados, é mais fácil acentuar o factor distintivo de Portugal.

 

Desde 1992 que António Raposo de Lima faz parte da equipa IBM…

Desde 1992? Sim… Sabe porque hesito? Porque a sensação que tenho é a de que estou na IBM há dois ou três anos. Há todo um processo de reinvenção da empresa, das áreas de actividade, dos países. Vivi fora, estive nas vendas, nos serviços… é verdade que, como diz, estou na IBM desde 1992. Mas nesta IBM em que estou hoje, estou há menos de um ano…

 

Uma típica empresa do Fortune 50 demorava qualquer coisa como vinte anos a alcançar os primeiros mil milhão de dólares. Algo que, actualmente, startups como o Facebook ou a Google em dois anos alcançam. Trabalhando numa empresa com a história da IBM, como vê esta concorrência?

Como um grande desafio. Gostamos de concorrência e competitividade, porque nos obriga a sermos mais assertivos e trazer cada vez mais valor. Vivemos num mundo concorrente e as empresas que referiu, e outras, são também nossos parceiros. Em alguns campos até são nossos clientes e, em outros, integradores.

Quando falamos de Inteligência Artificial, por exemplo, trabalhamos em conjunto para encontrar plataformas comuns de entendimento sobre a forma de evoluir neste domínio. A nossa visão é a utilização de ferramentas standard, abertas, open source sobre as quais as comunidades possam trabalhar. Promovemos e fazemos parte deste tipo de associações e comunidade, às quais aportamos valor. Essa é a nossa forma de estar. Temos a noção clara de que há uma agenda comum.

 

O que trava as empresas portuguesas na sua abordagem à tão apregoada transformação digital?

Não concordo com a palavra travar. Concordo com fatores inibidores. Uma startup não tem nada que a trave, já nasceu no mundo digital. O que pode ser um inibidor é justamente o capital e a capacidade de atrair parceiros que possam investir. E a dificuldade em traduzir uma proposta de valor fantástica num cash flow adequado, com um business plan onde há custos fixos e variáveis.

Mesmo se pegarmos em uma instituição como um banco ou uma telco, não acredito que haja nada que as trave. O grande desafio é como devem acelerar porque são processos de transformação enormes. E é preciso encontrar uma forma de aproveitar todo um legacy que existe – e os dados e os clientes estão aí –, transformar e introduzir os novos mecanismos da transformação digital e cognitiva (do qual o Watson é o expoente máximo).

Temos de ter clientes mais satisfeitos, mais envolvidos e criar novas áreas de negócio. O desafio é como acelerar este processo.

 

Pessoalmente, o que o move? É essa constante forma de reinvenção? Nunca estar na zona de conforto?

Identifico-me imenso com a chairman da IBM quando diz que há algo de errado a partir do momento em que nos sentimos entrar nessa tal zona de conforto. Move-me poder, modestamente e enquanto líder, dar o meu contributo para criar todo este valor que estivemos a falar. Trazer o melhor da IBM para Portugal e levar o Portugal inovador e de futuro para o mundo. É isso que me move.

Depois, sou muito orientado a resultados. Gosto de ver os resultados dos investimentos, os resultados nos clientes, o resultado da inovação, gosto de pensar logo na etapa seguinte. E, felizmente, temos observado esse desiderato.