A Hays comemora vinte anos em Portugal e apresentou o seu mais recente Guia do Mercado Laboral, num evento no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O estudo, que inquiriu 3259 profissionais qualificados e 793 empregadores, mostra as tendências e caracteriza o mercado de trabalho em Portugal.
Paula Baptista, managing director da Hays Portugal, falou do percurso da empresa e começou por explicou «a importância crescente das empresas apostarem na captação e retenção de talento».
Já Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, disse ser necessária a existência de um «salário digno para os trabalhadores» algo que considera que ainda não existe e que está a atrasar a produtividade de Portugal: «Não há dúvida de que o nível de rendimentos dos portugueses continua a ser um dos grandes problemas ao desenvolvimento do País».
Os desafios do recrutamento
A apresentação do Guia do Mercado Laboral 2020 foi divido em duas partes – uma com a perspectiva dos empregadores e outra com a dos colaboradores. Coube ao director regional da Hays Portugal, Carlos Maia, destacar as principais conclusões ligadas as empresas. Assim, para os empregadores as principais dificuldades ao nível da contratação são a falta de profissionais qualificados (53%), a desadequação entre a oferta de profissionais e as vagas disponíveis (49%), uma legislação laboral demasiado rígida (36%), a pouca articulação entre sistema de ensino e as empresas (33%) e uma taxa social única excessiva (22%).
O responsável destacou ainda o facto de 59% dos empregadores considerarem que as instituições de ensino «não preparam adequadamente os profissionais para o mercado de trabalho», embora tenha ressalvado algumas excepções e «as boas práticas da Universidade Católica, da Universidade Nova, do ISEG e do ISCTE». Entre as razões apontadas para esta falta de preparação estão «a desadequação da oferta formativa e das competências ensinadas», esclareceu.
A Hays questionou também os empresas relativamente às principais dificuldades que enfrentaram na gestão dos seus recursos humanos em 2019 e a maioria referiu a atracção e retenção de talento, com 54% e 51%, respectivamente. Ambos os valores «cresceram 6% em relação ao ano anterior», disse. Em terceiro lugar, a comunicação interna foi o motivo mais apontado com 31% quando em 2018 tinha sido referido por apenas 28% das empresas. O director regional realçou que este indicador significa que «há cada vez mais dificuldade em passar uma mensagem coerente às equipas que faça sentido para a organização como um todo».
TI entre os mais difíceis de contratar
O ano passado foi bom para as empresas inquiridas no estudo com apenas 15% aquém das expectativas nos seus resultados financeiros, o que fez com que 51% tenham contratado colaboradores em linha com que tinham previsto e 37% acima. Além disso, 74% fizeram aumentos salariais. O ano de 2019 foi também de promoções em cerca de metade das empresas, um valor que tem vindo a crescer de forma gradual desde 2017. Ainda que o desempenho do colaborador seja o principal motivo de promoção (71%), outros factores apresentam-se também com algum destaque, como é o caso da reestruturação interna (36%) e a necessidade de motivar o colaborador (33%). Um dado que «surpreendeu» a Hays, disse Carlos Maia, foi «o valor dos despedimentos com um aumento de 6%», em comparação com 2018. Em 2019, 69% dos empregadores despediram; desses, 62% alegaram que a causa foi o mau desempenho dos funcionários e não as dificuldades económicas.
Entre as competências mais valorizadas pelos patrões estão a apetência para trabalhar em equipa, com 56%, as competências técnicas, com 55%, e a ética e valores, com 54% das organizações a referirem esse indicador.
Os perfis mais difíceis de recrutar são nas TI (32%), seguido dos comercias (31%) e engenheiros (18%). O responsável destacou este facto com «a abertura de muitos centros tecnológicos de grandes multinacionais em Portugal, situação que acelerou particularmente em 2019».
A importância dos benefícios
Do ponto de vista dos colaboradores, o estudo revelou que em 2020 vai existir um aumento significativo do número de pessoas com intenção de mudança de emprego: 78%. Isto será mais visível «nas áreas do retalho, turismo e de office support», referiu Sandrine Verissimo, directora regional da Hays Portugal.
O recente Guia do Mercado Laboral apontou ainda algumas discrepâncias entre o que os trabalhadores querem e o que os empregadores oferecem. Por exemplo os profissionais valorizam mais a oferta salarial (86%), bom ambiente de trabalho (68%) e o plano de carreira (64%) enquanto as empresas consideram estes factores com 27%, 68% e 14%, respectivamente. Por seu lado, os empregadores destacam como mais importante o prestígio no mercado, e a solidez financeira.
«Os benefícios têm ganho cada vez mais relevância ao longo dos anos», disse a responsável e, por isso, a Hays foi tentar perceber se os empregadores estavam a ir ao encontro das necessidades dos profissionais. Assim, «os benefícios que os profissionais mais valorizam, são o seguro de saúde, a flexibilidade de horários, a formação e a possibilidade de trabalhar a partir de casa. Por outro lado, os benefícios que os empregadores mais disponibilizam são o seguro de saúde, cartão/tickets de refeição e telemóvel para uso pessoal.
O mercado de trabalho das TI
O emprego no sector das tecnologias de informação continua a ser um dos que mais tem crescido e, em 2020, será um dos mercados em que os salários mais vão aumentar.
Cátia Carvalho, team leader da Portugal esclareceu que esta é «uma área liderada pelo candidato, dado que a procura por estes perfis é bastante elevada, especialmente regiões como Braga, Porto, Cascais, Lisboa e Oeiras». Além do mais, a responsável revelou que «o talento disponível para uma mudança de emprego é reduzida», o que leva a «uma grande pressão salarial».
De acordo com o estudo, 33 % dos profissionais do sector das TI foram aumentados no ano passado, 62% recusaram ofertas de emprego e 6% foram promovidos. Os inquiridos revelaram como as principais mais-valias no campo profissional a oferta salarial (90%), o bom ambiente de trabalho (80%), o plano de carreira (62%), localização geográfica (56%) e a cultura empresarial (55%). Quanto aos benefícios mais desejados para aceitarem uma oferta de trabalho, os profissionais de TI apontam o seguro de saúde (81%), a possibilidade de trabalhar a partir de casa (78%), a flexibilidade de horários (67%), formação/certificações (65%) e dias de férias extra (42%).
Em 2020, os cargos mais procurados nas TI serão de analista de business inteligence; cientista de dados; front-end, mobile e full-stack developer; consultor funcional ERP; AI e machine learning engineer.
