Análise

Empresas geram cada vez mais dados, mas não os monetizam

A IDC organizou o Artificial Intellingence e Big Data Leadership Forum onde divulgou as principais tendências associadas aos dados e de que forma é que as empresas podem monetizar a informação.

A conferência, que se realizou no Museu do Oriente em Lisboa, contou com a uma palestra de Gabriel Coimbra, group vice president e director geral da IDC Portugal, que deu a conhecer o estudo Global Datasphere in 2025. O relatório prevê quanta informação vai ser criada, o potencial da monetização da informação e define estratégias de como é que as organizações devem gerir os dados.

O responsável disse que «o grande desafio já não é só como extrair e refinar os dados, mas também como extrair valor desses dados» e revelou que a «quantidade de dados continua a crescer de forma exponencial». Assim, dentro de seis anos vão existir 163 Zettabytes de dados, que significam «um crescimento anual de 25% do volume da informação gerada», explicou.

A consultora divide os dados em quatro grandes grupos: entretenimento, a categoria que representa o maior volume de dados e que mais cresceu nos últimos anos; produtividade e embebidas; vigilância e outros, em que se encontra a informação gerada por scanners e impressoras multifunções e voz, que inclui o dados gerados pelas telecomunicações.

Gabriel Coimbra salientou a importância do crescimento dos dados de ferramentas de produtividade e embebido em sistemas, como os provenientes da IoT, que estão a crescer mais do que os de entretenimento: «Estamos a ver um aumento da informação criada pelas empresas. Vimos nos últimos vinte anos o crescimento de dados criados pelos indivíduos, mas hoje vemos um crescimento maior ao nível empresarial». Isto deve-se ao facto de quase «todos os produtos e serviços estarem conectados» e de «gerarem informação em real-time», acrescentou.

Em 2023, o entretenimento vai continuar a ser a maior categoria, mas «não vai crescer ao mesmo ritmo dos dados provenientes de ferramentas de produtividade e IoT».

Origem dos dados
O desafio adicional das empresas «vai ser de onde vem e como é processada a informação». Grande parte dos dados das empresas «ainda são criados no core, ou seja, nos grande data centers e na cloud, mas há um crescimento enorme no edge que faz a ligação entre o centro e os endpoints», disse.

O estudo da IDC prevê que, em 2023, «52% da informação vai ser criada no endpoint mas o edge e core, onde estão os dados empresariais, vão crescer acima da média». Em relação ao storage a consultora acredita que, em 2023, 36% da informação esteja na cloud, quando, em 2014 era de 1 a 2%. «Mas a cloud não tem um papel importante só ao nível do storage mas também ao nível da capacidade de análise de informação em streaming», esclareceu. É aqui que entra o Big Data, a analítica de dados e a inteligência artificial (IA) como explicou Gabriel Coimbra: «Há que garantir que temos um infra-estrutura que reúne toda a informação de várias fontes de dados para tirar todo o potencial do machine learning e do analytics».

Monetização da informação
Extrair valor dos dados é um dos principais objectivos das empresas e a IDC revela que a transformação digital está no centro desta mudança. «Em 2020, 70% das empresas da Europa Ocidental terão o tema na sua agenda e vão criar sistemas e competências para monetizar os dados, criando novas formas de receitas», referiu o director da IDC em Portugal.

Assim, a IDC sugere que para criar valor, as organizações devem fazer uma «avaliação da sua maturidade para saber em que estado está a transformação digital da organização; fazer um benchmark da maturidade para perceber como estão os concorrentes e o que está a ser feito em outras indústrias; criar casos de uso para ter fórmulas de sucesso, linhas estratégicas e áreas de inovação para entender que situações podem criar valor e entender quais são as melhores práticas. Por último e com base nos processos anteriores deve ser «definida uma estratégia e o roadmap para monetizar os dados».

Adopção da IA
A inteligência artificial foi o outro tema central da conferência e Joana Vasconcelos, head of applied intelligence da Accenture, enumerou os elementos fundamentais para o sucesso da IA nas empresas. A responsável explicou que adopção não se faz apenas com tecnologia: «Temos de garantir que temos as pessoas e a cultura. A organização tem de estar preparada para fazer este processo». Um estudo recente da Accenture revelou que «é evidente a consciencialização do executivos de topo sobe o tema, com 92% a reconhecem a importância da AI na organização». No entanto, apenas 50% referiu que «compreendem as tecnologias de IA e entendem a sua aplicação prática». As empresas que já têm uma estratégia digital são as que estão mais avançadas na adopção da IA. Entre os sectores, são os serviços financeiros e as telecomunicações que lideram os processos de inteligência artificial. É também patente que normalmente isto acontece «em grandes empresas, com maturidade digital, com apoio dos C-level e que têm foco no crescimento».

A receita
A Accenture acredita que não há uma receita geral para todas as organizações, mas há ingredientes que são fundamentais e devem ser usados pelas empresas que querem vingar e ter uma estratégia de IA. «Ter capacidades end-to-end na organização, ou seja, tecnologia, dados, pessoas e cultura; garantir que a empresa tem um equilíbrio entre a colaboração homem-máquina que extrai o melhor dos dois mundos e proximidade a de um ecossistema de inovação» são os factores chave referidos por Joana Vasconcelos.

Para que isto aconteça, «a empresa deve ter uma figura chama chief digital analytics officer e o apoio dos C-level, alinhar a AI com as necessidades do negócio, ter formas ágeis de trabalhar e começar de forma pequena para puder escalar mais rápido».

A responsável salientou a importância de «testar e falhar rápido para se encontrar as fórmulas certas e industrializar para o resto da organização» e que as organizações devem «ter uma cultura de experimentação».

Joana Vasconcelos apelou para a utilização da IA de forma responsável e disse que para finalizar a receita há que juntar também um pouco de bravura: «É preciso de coragem para avançar e para tomar decisões».