Actualmente, o Hospital de Cascais é um dos quatro mais tecnológicos da Europa, depois de garantir a certificação de nível 7, atribuída pelo HIMSS Analytics. Para Vasco Antunes Pereira, presidente do Conselho de Administração, a certificação implica também uma «preocupação com a manutenção da distinção».
A 21 de Novembro de 2017, o Hospital de Cascais, que está integrado no Grupo Lusíadas, recebia a certificação de nível 7 do modelo de maturidade EMRAM (Electronical Medical Records Adoption Model), a escala mais elevada deste modelo de avaliação.
Na prática, esta certificação avalia diversos parâmetros, reconhecendo os hospitais com um nível de implementação tecnológica “madura”, ao serviço do doente, para permitir uma melhoria global dos cuidados de saúde prestados. Mas, antes da certificação, houve muito trabalho envolvido, como explica Vasco Antunes Pereira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de Cascais.
«No final de 2014, fizemos uma redefinição da nossa estratégia, adoptámos o modelo EMRAM (Electronical Medical Records Adoption Model) e fomos ver cada uma das escalas e onde é que tínhamos a nossa maior gap analysis», explica. «Descobrimos que era na área da medicação e percebemos que tínhamos algum caminho para fazer, para chegar ao ponto onde queremos estar, que é o ponto máximo de maturidade», refere o responsável.
Assim surgia um conceito interno, que Vasco Antunes Pereira refere como High Care, que junta dois conceitos: High Tech e High Touch, sempre tendo a prestação de cuidados como um ponto-chave. «É preciso conciliar este lema [saber cuidar] com tecnologia e com aquilo que é a lógica do big data, da utilização da nossa informação genética… Tudo isto são coisas que se têm de conciliar, porque, no final do dia, aquilo que tem de ser conciliado é mesmo o bem-estar do doente», refere.
A tecnologia como uma forma de envolver o doente – não uma barreira
Hoje em dia, qualquer consulta médica implica que o profissional de saúde tenha de introduzir dados no computador. E, de acordo com o responsável pelo Hospital de Cascais, em alguns casos, havia uma espécie de barreira na comunicação entre médico e doente. «A tecnologia tem de ser utilizada como uma forma de envolver doente: temos de ter tempo para tratar dos nossos doentes», explica.
«Na altura, tínhamos um PDA, que não era funcional, mas que fomos evoluindo e hoje é altamente funcional; percebemos que estava a funcionar como uma barreira», diz Vasco Antunes Pereira. Depois do investimento tecnológico feito e das respectivas medidas, o Hospital de Cascais solicitou à HIMSS uma equipa de auditores que, em 2016, atribuiu ao hospital a certificação de nível 6.
Apesar da certificação atingida, o trabalho não chegava ao fim: era preciso tempo de verificar quais os requisitos para atingir o nível 7. Na Europa, só há quatro hospitais com este nível de certificação: na Turquia, Holanda e em Espanha, além do Hospital de Cascais.
O nível 7 à distância de 117 requisitos
Para atingir esta certificação, o Hospital de Cascais precisou de desenvolver novas soluções tecnológicas, com a ajuda de parceiros nacionais, como a Glintt, BIQ e a BSIMPLE. Mas, se se fala em tecnologia para ser usada por profissionais de saúde, há que garantir que a parte interessada tem alguma voz no processo de desenvolvimento dos novos softwares.
«Fomos ver o que era preciso para o nível 7: sistemas de apoio à decisão clínica, software de cuidados intensivos que permitem a monitorização ao minuto ao doente, módulos de reconciliação terapêutica… um conjunto de coisas que não tínhamos e que era preciso desenvolver».
Para atingir os 117 requisitos «exaustivos, que vão desde a tecnologia ao plano de continuidade de negócio e disaster recovery process», explica Vasco Antunes Pereira, foi formada uma equipa, para trabalhar para o projecto High Care. Composta por setenta profissionais do hospital, a escolha de profissionais da casa foi tomada por uma questão de rapidez para atingir a certificação: «Quisemos transformar tudo rapidamente em benefício para o doente, quisemos dar empowerment aos médicos e enfermeiros», explica Vasco Antunes Pereira.
«A lógica teve de ser os nossos parceiros a funcionar como várias equipas dentro do projecto», à medida em que eram feitos os desenvolvimentos dos procedimentos e necessidades de cada tarefa do projecto. Além disto tudo, ainda existiu outro ponto importante a ter em conta: «A curva de adopção de tecnologia tinha de ser rápida, os nossos profissionais de saúde tinham de querer usar esta tecnologia».
O responsável explica que a gestão na área da saúde tem de se ter uma questão de coerência: os profissionais de saúde estão focados no doente e quando é possível garantir que se retira trabalho administrativo para dar mais tempo de cuidados ao doente é fácil conseguir convencer os médicos e enfermeiros a darem algum do seu tempo ao desenvolvimento de nova tecnologia.
Uma viagem de aprendizagem
«Foi uma viagem de aprendizagem – e tem sido – muitíssimo interessante, onde o nível 7 não é, de todo, um ponto de chegada», explica o responsável do Hospital de Cascais. «Foi um reconhecimento de estarmos no bom caminho, acho que estamos muito bem e a distinção é fantástica, mas mantê-la vai implicar que tudo isto que fizemos tem de estar permanentemente adequado aos processos». Vasco Antunes Pereira lembra ainda que se não for com tecnologia, «dificilmente o hospital chega à melhoria de processos».
Relativamente aos parceiros que ajudaram no desenvolvimento da tecnologia utilizada, o presidente do Conselho de Administração do Hospital de Cascais «tira o chapéu» aos parceiros portugueses. «Os três fornecedores que ajudaram no desenvolvimento, aquilo que fizeram, é absolutamente world class», refere. «Os nossos fornecedores têm visão de futuro e sabem que têm capacidade técnica para o fazer; foi de longe, um projecto muito diferenciador e fora daquilo que é a prática comum», conclui Vasco Antunes Pereira.