Reportagem

Atlantic Convergence: a inteligência artificial está em todo o lado

A segunda edição da conferência, que decorreu em Lisboa no Pátio da Galé, mostrou como a DE-CIX se está preparar para o mundo em que a IA está em todo o lado.

© Rita Gazzo/Atlantic Convengence

A Atlantic Convergence, que é organizada pela empresa de Internet Exchange em parceria com a AtlasEdge, Cameroon Telecommunications, EllaLink, Interfiber Networks e MEO Wholesale Solutions, contou no primiero dia com a keynote ‘AI for everything, everyone and everywhere’ em que Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX, explicou que estes sistemas «ajudam em todos os aspectos da vida das pessoas» e que «tornam o futuro promissor».

O responsável referiu que «nos 12 meses entre as duas edições da conferência foi «emocionante ver o que tem sido a evolução» da inteligência artificial. O CEO referiu como a infraestrutura digital é um «facilitador» da IA, por um lado ao nível do treino e por outro da inferência, o que a empresa designa por a «IA em acção».

O responsável esclareceu que a empresa lançou recentemente o AI-Exchange (AI-IX) que oferece interligação resiliente, de baixa latência e alta segurança, concebida especificamente para casos de utilização com IA em tempo real, ou seja, «habilita a IA para a vida real das pessoas». Este serviço da DE-CIX é «baseado na comunidade, com recursos e benefícios partilhados, aberto, neutro e oferecido como um serviço».

O caso da saúde
Ivo Ivanov falou do sector da saúde como um caso paradigmático em como a IA pode ajudar as pessoas e a sociedade. Esta indústria que tem «despesas globais de 10% do PIB» quando a «defesa é de apenas 2,4%» (dados de 2024), mostra a importância da mesma. Além disso, o responsável sublinhou que o «crescimento da IA generativa na área da saúde é mais rápido do que em qualquer outro sector» esperando-se que passe de 2,79 biliões de dólares em 2025 para 50,92 biliões em 2035. Por outro lado, visto que «50% da população mundial não tem acesso a cuidados de saúde médicos essenciais» e há pouco médicos – 4,1 para cada mil habitantes na Europa, 2,4 na América Latina e 0,2 em África, é «necessário IA para optimizar os recursos e dar respostas a estes desafios».

No caso dos modelos, o CEO explicou como a tecnologia ajudou no treino do LLM «BERT para a descoberta de medicamentos e tratamentos, apoio à decisão clínica, análise da resposta ao tratamento e previsão de resultados em pacientes». Nestas situações de treino, o AI-IX pode ajudar porque apesar «dos dados estarem em todo o lado, o poder da computação está concentrado em algumas localizações e é preciso um serviço que ligue os dois com segurança e fiabilidade». É aqui que entra o Multi-Cloud Router, um serviço que faz o encaminhamento de dados entre diversos fornecedores de cloud através da plataforma da DE-CIX. Além disso, a AI-IX da empresa tem também uma oferta de GPU as-as-service que «ajuda a ligar data centers» para aumentar o poder de computação e optimizar as operações. Esta opção deve estar «disponível globalmente no início de 2026», referiu Ivo Ivanov.

A importância da latência
Na inferência de IA, os agentes são a principal área onde o AI-IX actua através da disponibilização do Multi-agents AI router, Este «sincroniza múltiplos agentes com a menor latência possível», sendo este último aspecto vital em especial nos casos da saúde. O responsável deu como exemplo ambulâncias ligadas com 5G e que realizam cirurgias remotas de alto risco e que precisam de latências de 1 milissegundo, ou seja, «uma distância inferior a oitenta quilómetros». Os resultados são «tempos de resposta até 50% mais rápidos», «uma redução em 40% de erros médicos» e uma «taxa de sobrevivência 30% superior». Estas são as «fundações para o futuro da saúde», avançou o responsável. Ivo Ivanov deixou a promessa que como um player global de interligação, a DE-CIX será a «infraestrutura que serve qualquer segmento da indústria para oferecer IA para tudo, para todos e em qualquer lugar».

Portugal, um gigante da IA
O CEO referiu que a empresa «prevê que Lisboa e Madrid, por diferentes razões, vão tornar-se gigantescas fábricas de IA» falando como o primeiro passo a instalação de GPU da Nvidia no data center da Start Campus, em Sines. Ivo Ivanov destacou ainda à businessIT que caso os planos de investimento em centros de dados no mercado português se concretizem, a DE-CIX vai manter a sua estratégia: «O nosso modelo de negócio é estar presente em todos os data centers relevantes e quanto mais, melhor. Portanto, dependendo da velocidade destes desenvolvimentos, iremos investir na nossa presença nestes centros de dados» ajudando «Portugal a ser o próximo hub digital e de IA».

A empresa de IX estabeleceu recentemente operações no Brasil promovendo uma ponte transatlântica de tráfego através da rota Sul-Sul. O responsável sublinhou como isto poderá ser significativo para as organizações: «Será extremamente importante, sobretudo no futuro. Primeiro, devido à enorme quantidade de dados necessários para o treino de IA, por exemplo, dados que estão na América do Sul e que são necessários para determinados modelos no Sul da Europa. Devido às relações económicas e linguísticas, veremos toneladas de tráfego que precisa ser trocado e não faz sentido isso acontecer do Brasil, da Argentina, da Colômbia com a Espanha e Portugal passando pelos EUA. Tem de ser o mais directo possível e, por isso, prevemos que este corredor se tornará na nova auto-estrada dos dados».

Ambição espacial
Numa conferência de imprensa com jornalistas de diversos países, o CEO falou da Space-IX, um infraestrutura de interligação com base em satélites LEO, ou seja, de órbita terrestre baixa. Esta evolução será «crítica no futuro» para oferecer cobertura em qualquer parte do mundo, mesmo onde «não é possível fazê-lo através de infraestrutura no solo ou subsolo» devido a questões geográficas ou outras. A DE-CIX pretende oferecer serviços de Internet Exchange com base em constelações de satélites da Starlink, da Kuiper (pertencente à Amazon), entre outras e a previsão é que tal aconteça daqui a «2 ou 3 anos» já que tudo está dependente das empresas que operam neste momento os satélites e na capacidade de os colocar em órbita.

 

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