Entrevista

«O preço é o que lidera a dinâmica de entrada no cliente»

Entrevista a Vitor Ribeiro Gomes, CEO da Pendular.

Na era da especialização e da busca incessante pela eficiência operacional, as empresas enfrentam o desafio constante de se concentrarem no que fazem de melhor, delegando as funções secundárias (mas cruciais) em parceiros confiáveis. É neste cenário que a Pendular, uma empresa com 25 anos de experiência no mercado, actua.

Estão no mercado há 25 anos e apresentam-se como uma empresa de outsourcing, uma central de soluções em áreas de compras, ‘procurement’ e gestão de contratos. Exactamente, o que é ser uma ‘central de soluções’?

Quer dizer que temos clientes que nos confiam totalmente as suas compras, portanto, dispensam ter um departamento que faça a gestão dos produtos e serviços de que necessitam, contratando-nos para o fazer. Diria que um pouco mais de 60% dos nossos clientes escolhe-nos para a sua área de compras e procurement, mas também para a área de gestão de contratos. No fundo, entregam-nos tudo o que lhes tira foco na actividade principal. Exemplos disso são as consultoras Deloitte ou Accenture, a quem fornecemos desde mesas de matraquilhos, a champanhe, vinhos ou qualquer outro tipo de produto. Ou seja, preferem delegar tudo o que não for o seu core business. São empresas que teriam de gerir duzentos ou trezentos fornecedores e acabam por confiar na Pendular, que lhes apresenta uma factura única, um único interlocutor.

Deu-me exemplos de grandes consultoras, mas sei que também lidam com banca e seguradoras. Este tipo de serviços só faz sentido nas grandes estruturas empresariais?

Temos clientes de grande dimensão, é verdade, mas, por oposição, temos clientes pequenos. A Futah, especialista em toalhas de praia, é um deles. São empresas que acabam, igualmente, por nos contratar, porque um departamento desses implicaria ter um, dois ou três recursos humanos. Ao sermos nós a tratar disso, estão a reduzir a sua estrutura de custos.

Também actuam no sector de gestão de contratos?

Sim, temos notado uma procura muito significativa nesta área, basicamente nos denominados ‘facility services’: gestão de frota automóvel, certificação energética, medicina do trabalho, alimentação, segurança, limpeza… tudo matérias necessárias às empresas, em que o nível de custo tem alguma expressão e implicam um imenso volume de trabalho. Imagine o Stay Hotels, com onze unidades, desde Guimarães a Faro, com necessidade de empregadas de housekeeping e limpeza de quartos. Não imagina a confusão que é gerir isto de forma integrada, com padrões e matrizes de serviços perfeitamente definidos: o facto de alguém, em Braga, não ter aparecido fardado num dia ou de, em Faro, faltarem três pessoas são coisas que requerem muito tempo para resolver, daí passarem a gestão para a Pendular.

Em termos de percentagem, as pequenas e médias empresas são responsáveis por quanto do vosso volume de negócios?

Em número de clientes, cerca de 40% são PME. Claro que, se falarmos em termos de volume de negócios, a presença é menor. Não devo falhar por muito se lhe disser que está entre os 10% e os 12%.

Não actuam na área dos recursos humanos?

No âmbito do outsourcing, sim, temos recursos humanos dedicados. Dou-lhe outro exemplo: a Samsung. É nossa cliente há alguns anos, um cliente interessante pelos pontos de evolução do negócio. Começámos apenas na área de consumíveis informáticos e economato. Daí, evoluímos para outras categorias, como manutenção, higiene e conforto, desde papel higiénico, de mãos a gel desinfectante. Fomos adicionando mais categorias até evoluirmos para serviços, como gestão de contratos de alimentação, operacional da frota, manutenção do edifício e limpeza. Isso requereu, além de um gestor de conta único, um gestor de conta onsite. No caso da Samsung, já temos colaboradores nossos a trabalhar lá. Ou seja, não fazemos o clássico outsourcing de trabalho temporário, mas sim de técnicos especializados. Estes técnicos desempenham funções com processos criados por nós para clientes específicos, estando essas pessoas no cliente a desempenhar as funções. Essa tem sido a maior evolução nos últimos 23 anos.

Uma das mais-valias que aportam ao outsourcing é a poupança. A Pendular diz que, dependendo dos produtos e categorias, pode facilmente chegar aos três dígitos. Como?

Por exemplo, pela poupança em recursos humanos, uma vez que a gestão é feita pela Pendular: muitas vezes são funções de pessoas em fim de carreira ou que podem ser alocados a outros serviços mais core. Outro cenário possível é o da escala. Em muitos produtos e artigos, vamos conseguir um melhor preço, visto comprarmos em volume superior ao cliente, além de conseguirmos melhores condições com os fornecedores. Podemos estar a falar de uma poupança de 10, 15 ou 20% e, às vezes, até mais. A terceira linha de poupança tem que ver com o processo de desempenho da função, em si. É preciso ter sistemas, licenças de software e espaço nas instalações para os colaboradores; depois, há o consumo de papel, de energia e de comunicações – todos estes encargos passam para a Pendular. Juntando estas três variáveis – produto pessoas e processos – chegamos, com relativa facilidade, a poupanças muito significativas. Diria que o ano passado, nos novos processos em que entrámos, fechámos com poupanças na ordem dos 22% a 23%.

A pressão inflaccionista deu-vos vantagem, de alguma forma?

Sim, no sentido em que os preços foram subindo de forma absolutamente dramática, mas nem sempre de forma racional. Houve vários produtos cuja matriz de evolução de preços foi na ordem dos 20, 30 ou 40%. A Pendular, pela sua intervenção, porque conhece os mercados, as origens e porque tem muito bem definidas as matérias negociais, conseguiu uma mitigação de 19,3%, só no ano passado. Ou seja, sobre os preços que o mercado ia pedindo, conseguimos reduções até 19,3%, que é outra variável de poupança. Temos como argumentar com os fornecedores de uma forma que os nossos clientes não têm, porque não dominam esta informação. Hoje, estamos a falar na redução de custos que obviamente é muito interessante, mas também falamos em agilidade e, sobretudo, em colocar o foco das empresas em se dedicarem ao seu próprio negócio.

Entre estas duas valências, a agilidade e o preço, o que é mais importante para fechar um contrato? Continua a ser a redução dos custos?

O preço é o que lidera a dinâmica de entrada no cliente. A Pendular tem uma matriz de crescimento muito interessante. Todo este problema da inflacção, da disrupção da cadeia de abastecimento e pelo facto de os clientes terem de lidar de repente com trinta a cinquenta fornecedores, todos a fazer vários aumentos, criou muita complexidade nas empresas. Esta foi uma complexidade passada para a Pendular, criando um terreno muito fértil para a progressão da empresa. Estamos com crescimentos de cerca de 43% em relação a 2019, portanto, antes da pandemia. Basicamente, os clientes começam por entrar de forma muito insípida, tentam uma categoria, testam o conceito e percebem que a simplificação de processos é muito significativa. Depois, começam a passar mais categorias de compras e de contratos.

Em termos de recursos humanos e competências, como têm crescido?

Como somos uma empresa que está no meio da cadeia de valor não podemos, obviamente, ter duzentas ou trezentas pessoas – portanto, baseamo-nos em elevados níveis de produtividade. Neste momento, estamos com doze pessoas, quando em 2019 tínhamos sete. Aumentámos com alguma expressão o número de recursos humanos afectos à operação e estamos constantemente a rever os nossos processos, para saber como os podemos melhorar. Durante a pandemia, contratámos uma empresa de consultoria que nos ajudou a redesenhar todos os processos e certificar o nosso modelo.

Então, a Pendular também recorre ao outsourcing?

Claro que sim, acreditamos no processo, mas temos áreas core que mantemos sempre internas, como customer care, compras, procurement ou a financeira. São as nossas competências principais e, assim, temos pessoas qualificadas para as desempenhar. De resto, entregamos a terceiros, como a gestão da infra-estrutura, de cloud ou SAP.

Como vê a evolução deste mercado?

Vejo como tendo um potencial de progressão muito grande. Nunca tivemos um trimestre de fecho de ano e um primeiro trimestre como este, na procura pelos nossos serviços, continua a haver um terreno muito fértil de progressão. As organizações já perceberam que nunca mais vamos ter tempo estáveis ou ponderação total, uma vez que estamos em tempos de improbabilidades e absolutamente incertos. Portanto, as organizações estão a focar-se nas suas competências core e nos seus recursos.