Luís Lança é o novo CTO da Logicalis. Em entrevista à Business IT, explicou que a filosofia de um director de tecnologia é ser a voz do cliente dentro da empresa. No fundo, considera-se um tradutor.
Hoje, como define a Logicalis?
Apresentamo-nos como “arquitectos” da mudança, para apoiar a transformação digital. No papel de digital service provider, um dos pontos principais é olhar para o ecossistema dos nossos clientes e entender como é que a tecnologia é um business enabler. Esse é um dos pontos.
Depois, queremos mostrar o nosso universo global, mas com capacidade de executar local, sempre com uma relação de proximidade. Podemos ter a melhor tecnologia, o melhor outcome da solução, mas é preciso ter uma base de relações de confiança. A expressão ‘pensar global, executar local’ não é só a capacidade do know how e do conhecimento que podemos aportar, mas também da relação de confiança que conseguimos ter com os clientes na execução daquilo que são os nossos propósitos.
Têm negócios em várias geografias. Quais os desafios do mercado nacional? São muito diferentes?
Não, o que muda é a dimensão. Claro que há vários graus de maturidade dos países (do ponto de vista económico, há uns mais desenvolvidos que outros), mas a necessidade é a mesma. Portugal, no que respeita à tecnologia, está muito evoluído e maduro, quando comparado com os restantes países da Europa. A troca de experiência e ajuda é, por isso, fundamental, até para acelerar as necessidades do ‘time to market’ dos clientes. Muitas vezes, relativamente aos nossos colegas, ou vamos mais à frente do ponto de vista de adopção de tecnologia e cedemos conhecimento ou, se não estivermos, vamos “beber” conhecimento.
Portugal é um bom país para experiências ‘beta’ nas empresas? Somos reconhecidos por sermos ávidos em tecnologia, críticos, mas temos uma dimensão pequena…
As multinacionais lidam precisamente com o tema ‘dimensão’. É habitual olharem para países maiores, que possam dar, de forma mais rápida, aquilo que os shareholders e takeholdsers pedem: profit. Ou seja, rentabilidade, para haver sustentabilidade.
Os países da dimensão de Portugal, por muito que tenham um bom desempenho do ponto de vista percentual, nunca farão mexer nenhum ponteiro de dashboard. Mas, do ponto de vista da capacidade de resposta do time to market e de adopção, acabamos realmente por ser esta incubadora de testes, para verificar se vai haver uma boa adesão por parte dos clientes, relativamente a determinadas tecnologias que podemos introduzir no mercado. A Web Summit é, hoje em dia, um bom indício disso. Temos uma boa capacidade de criar startups e de sermos incubadoras de várias empresas, que podem ser exportadas para todo o mundo.
Foquemo-nos na Logicalis. Em que área estão a actuar, dentro das empresas?
Actuamos muito por layers. Uma delas é a conectividade: qual é sua importância e que inteligência lhe podemos dar? Esta é a nossa estrada, temos de saber quem lá circula, em que condições o faz e se circula de forma segura.
Outra layer é identificar o que é importante no negócio, o que varia. Não há uma solução que encaixe em todas as medidas presentes nos verticais de negócio. Esta conectividade tem de ser adaptada às exigências e do outcome que de lá queremos retirar. A isto chamamos ‘conectividade inteligente’, dar inteligência à conectividade para que percebam a importância da mesma. Se tiver uma auto-estrada, posso circular a 120 km enquanto numa nacional, não – logo, o tempo de chegada ao destino é diferente.
Temos depois a da segurança, cuja segmentação é feita pelos tipos de aplicação, circulação, e utilizador. Há, depois, a rapidez que queremos dar, seja ligação ponto a ponto ou ponto-multiponto, das nossas conectividades. Actuamos ainda na forma como as empresas colocam as aplicações de forma rápida e disponível para consumo, mas com uma boa experiência. A IDC diz que, em dois anos, apareceram mais de quinhentos milhões de apps, tipicamente para dar resposta às necessidades de consumo. Hoje, olhamos para elas como a nossa porta de entrada – quando fomos para confinamento, as empresas desenvolveram aplicações rápidas para que o seu negócio desse uma resposta do ponto de vista de receitas, o que fez crescer a digitalização e o mundo da logística. Esta é outra área onde nos focamos: a experiência do utilizador, que influencia a vertente reputacional de uma empresa. A user expericence é fundamental e, por trás, tem uma complexidade de TI que o utilizador não precisa de saber. Ou seja, a conectividade tem um papel preponderante, porque sem conectividade não há aplicações.
Em termos de recursos, que estrutura têm em Portugal?
Somos 120 colaboradores, sendo que 60% são da componente técnica, da área da engenharia.
Crescem por aquisição. Compram localmente empresas para se estabelecerem numa geografia?
A Logicalis cresce por aquisição para dar uma resposta a clientes multinacionais, em termos de globalização e experiência. Quando compramos, não somos intrusivos: fazemos um processo de adaptação, não há logo uma mudança mesmo em termos de brand awareness. Quando a Logicalis entrou em Portugal, não era conhecida – tem de haver um período de transição, inteligente, para que as pessoas se adaptem.
Uma coisa curiosa na Logicalis é que eu posso importar e exportar: acontece em Portugal, onde já prestámos serviços para vários países dentro da Europa. Há uma série de skills que temos no País, que acabam por ser complementares às outras empresas, há muita colaboração. A Logicalis Portugal já ajudou a estrutura da Alemanha e já recebeu apoio da do Brasil, por exemplo. Somos inteligentes a tirar o melhor partido do que temos dentro da empresa.
As empresas estão a aproveitar a tal aceleração que a pandemia veio espoletar?
Acho curioso algumas coisas. Por exemplo, já temos videoconferência há mais de dez anos, mas só agora a estamos, efectivamente, a usar. A pandemia teve este efeito: uma melhor adopção das soluções tecnológicas em prol da qualidade da nossa vida pessoal e profissional – penso que é essa a aprendizagem. Ainda não atingimos o equilíbrio, mas acho que estamos a saber utilizar melhor a tecnologia. Não precisamos de estar sempre a viajar, até pelas questões de sustentabilidade, mas também não podemos fazer tudo virtualmente. O contacto humano, o convívio e a relação do ponto de vista de confiança é muito importante, não pode morrer. É esse equilíbrio que temos de encontrar.
Sabemos que as TI são importantes para o negócio e desde há muito que se fala que os CIO e os CTO deviam ter lugar na administração. O Luís Lança está recentemente no cargo de CTO da Logicalis: qual o maior desafio?
A filosofia do CTO é ser a voz do cliente dentro da nossa empresa, é ajudar os clientes na adopção da tecnologia, esse é o maior desafio. Daí a importância de estar sentado ao lado do CEO, para ajudar a explicar. No fundo, somos tradutores, mediamos todas as siglas tecnológicas naquilo que é a prática de negócio.