A KIT-AR foi fundada em 2016 no seguimento do HUman MANufacturing, um projecto europeu de investigação focado na aplicação de tecnologias digitais de apoio ao trabalhador de chão de fábrica. Manuel Oliveira, co-fundador e CEO da startup, explica como essa iniciativa deu origem à empresa: «Adoptámos uma abordagem de co-criação e auscultámos profissionais com diferentes funções dentro das organizações participantes. Percebemos que uma das maiores dificuldades sentidas estava na criação, gestão e distribuição do conhecimento pelos trabalhadores, com especial enfoque nos de chão de fábrica».
Como a primeira versão do Microsoft Hololens tinha acabado de chegar ao mercado e trazia a possibilidade de «implementar soluções de realidade aumentada em contextos reais de operação e não apenas em ambientes de laboratórios», os responsáveis decidiram usar essa tecnologia – o resultado foi a KIT-AR. «Não só apresentamos ao trabalhador as tarefas que deve realizar, como também verificamos se cada tarefa foi realizada correctamente e criamos oportunidades para a melhoria contínua de cada processo», conta Manuel Oliveira.
Com isso, a startup ajuda as empresas a «reduzir e tendencialmente eliminar os seus custos de má qualidade, decorrentes de erros e desperdício nas linhas de produção» e a «acelerar as competências dos trabalhadores do chão de fábrica»: são estes os profissionais que a KIT-AR acredita serem o «centro dos processos industriais». Isto «gera menos trabalho desnecessário, maior qualidade nos produtos e uma maior sustentabilidade» além de que «naturalmente, a digitalização completa de processos traz igualmente, só por si, aumentos de produtividade», diz o CEO.
Com a KIT-AR, «um engenheiro pode facilmente e em poucos minutos actualizar procedimentos ou regras de verificação de qualidade», sublinha Manuel Oliveira.
O 5G e o futuro
A KIT-AR venceu o Programa de Inovação Colaborativa NOS e AWS, o que vai ajudar a startup a «antecipar em vários trimestres a adopção do 5G» e a estar «bem posicionada para se tornar uma killer-application desta tecnologia para a indústria». Sobre a nova rede móvel, Manuel Oliveira salienta o que vai mudar para a plataforma: «O 5G traz-nos uma imensidão de novas soluções, devido à sua baixa latência, largura de banda e fiabilidade. Com ele, somos capazes de desenvolver soluções mais sofisticadas que nos aceleram os processos de verificação automática de qualidade, para além de explorar mais cenários de utilização dos nossos produtos».
Para já, a KIT-AR está focada na indústria, mas dada a versatilidade da plataforma e o facto de «aumentar digitalmente todos os trabalhadores, de forma a que estes possam lidar com maior complexidade e velocidade na mudança dos seus processos de trabalho», não põe de parte uma possível adaptação a «áreas como a saúde, construção ou asset management» no futuro.
A internacionalização já faz parte da génese da startup – tem escritórios em Portugal, no Reino Unido, «a par de clientes na Alemanha e Noruega». Mas a KIT-AR não quer ficar por aqui, esclarece Manuel Oliveira: «Em 2022, vamos focar-nos nos Big Four da indústria europeia – Alemanha, França, Itália e Reino Unido – expandindo para a Suécia, Finlândia, Dinamarca e para a Europa Central e de Leste, onde se iniciam algumas das cadeias de fornecimento nos nossos mercados-alvo. Estados Unidos, Brasil, Coreia do Sul e Japão serão mercados a apostar de seguida». Para isto, a KIT-AR está a finalizar uma ronda de investimento que permitirá «responder à procura» que já sentem por parte de clientes «europeus e internacionais». Outro objectivo é o de desenvolver a plataforma com vista a «um futuro que seja cada vez mais humano e cada vez mais entusiasmante».