O evento anual da Salesforce, que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa, centrou-se no tema dos agentes de IA como a plataforma de trabalho digital do futuro. Fernando Braz, country leader da Salesforce Portugal, explicou que o sucesso do Agentforce World Tour Lisboa, que reuniu mais de 1200 participantes, reflecte o da empresa que tem operação física em Portugal «há quatro anos e tem crescido de ano para ano». O responsável salientou ainda que os valores da empresa, que se mantêm desde a sua criação, em 1999, «nunca foram tão importantes». Desta forma, a Salesforce não abdica de maneira nenhuma das ideias de «confiança, inovação, sucesso dos clientes e igualdade».
Fernando Braz lembrou ainda que «Marc Benioff e Parker Harris [os fundadores] decidiram que fazer negócio deveria ser mais que isso, deveria ser fazer o bem»; por isso, adoptaram o modelo ‘1+1+1’, em que a Salesforce doa «1% das receitas, 1% do tempo dos colaboradores e 1% do produto a organizações sem fins lucrativos». Em Portugal, isto traduziu-se em cerca de 2,18 milhões de euros em doações, 81 mil horas de voluntariado e na ajuda a mais de 120 ONG.
O responsável realçou ainda que as perspectivas da Salesforce para o ano fiscal de 2026 são de de 41,3 mil milhões de dólares (cerca de 36,16 mil milhões de euros) e mostrou-se orgulhoso da empresa ser «reconhecida anualmente como uma das melhores empresas em termos de filantropia, uma das mais inovadoras e uma das mais éticas do mercado».
Colaboração agentes/humanos
O country leader revelou que a missão da tecnológica é «garantir que os clientes têm sucesso» e sublinhou que «oferecer um melhor desempenho é desafiante», apontando os motivos para tal: «A escassez e a dificuldade de retenção do talento, assim como o burnout», uma realidade que atribui ao facto de se «fazerem muitas tarefas de pouco valor». Por outro lado, Fernando Braz referiu que os clientes estão cada vez mais exigentes, dado que exigem «rapidez, empatia, nível de expertise e acesso imediato a toda a informação» por parte de quem fornece apoio. A solução, segundo a Salesforce, são os «agentes», que vão ajudar as pessoas a «terem melhor qualidade de vida, a serem mais produtivas e a terem capacidade de trabalhar melhor». Fernando Braz disse que «humanos e agentes a trabalhar lado a lado» vão originar «forças de trabalho digitais que não têm limites» e assegurou que «não há que ter medo», já que os humanos «serão sempre os últimos decisores».
Para isso, a Salesforce criou a Agentforce, uma «plataforma unificada, de confiança e fácil implementação», mas também aberta» para criar agentes e que é «capaz de agregar todos os dados, sejam os dados da Salesforce ou sejam de outras aplicações».
Uma organização Agentforce
A Salesforce é uma «empresa Agentforce» disse Fernando Braz que deu alguns exemplos de como a organização está a aproveitar os agentes de IA: «Temos muitos milhares de leads que surgem do site e dessas 40% têm sido convertidas. Se somos capazes, as outras empresas também são ao terem acesso a estas ferramentas. Porque todos precisamos, efectivamente, de negócio».
Em seguida, Marco Hernansanz, EVP & CEO Southern EMEA da Salesforce, explicou que esta é a «última geração que terá apenas de lidar com colaboradores humanos» e que a empresa «já começou a implementar agentes em grande escala» e a ter «acesso a uma nova força de trabalho virtual» vendo «um aumento da produtividade». O responsável referiu que a empresa tem agentes no serviço ao cliente, nas vendas, na formação e para fazer o onboarding de novos colaboradores, entre outros, e que esta «revolução» está a fazer a Salesforce «pensar em estratégias de gestão da mudança de talentos».
Já Enrique Polo de Lara, Spain country leader & senior VP da Salesforce, falou da adopção das ferramentas de IA da empresa na região Ibérica, descrevendo-a como «muito positiva». O responsável avançou que existem «cerca de duzentas empresas a utilizar a IA generativa da Salesforce e sessenta a usar a Agentforce», sendo que «15% dessas organizações são portuguesas». O senior VP disse que a tecnologia tanto é usada por «grandes empresas, como de pequena dimensão» e de «todos os sectores». Enrique Polo de Lara destacou ainda a rapidez das implementações com a duração de «um a dois meses» e a existência de «vários business cases de sucesso» com «resultados precisos, sem erros e sem problemas de privacidade» que levam à «adopção bem-sucedida da inteligência artificial generativa». No final, o responsável deixou um conselho: «Os agentes funcionam e são fáceis de implementar, mas é preciso pragmatismo. Por isso, pensem grande, comecem pequeno e avancem rápido».
Agentes são o futuro
Tiago Esteves, principal solution engineer da Salesforce, referiu que os agentes autónomos e os LLM «vieram, de facto, revolucionar a maneira como se trabalha» e que, embora a Agentforce vá «revolucionar o negócio da Salesforce», tem potencial para ter este impacto em todos. O responsável referiu por que motivo os agentes são mais poderosos para «realizar a promessa da força de trabalho digital» que os LLM, fazendo a analogia com um automóvel: «Um motor só produz verdadeiramente resultados quando está integrado num ecossistema mais vasto: rodas, volante, sensores e um chassi. Assim, para um LLM per eficaz, também tem de ter este conjunto atrás dele, a trabalhar em conjunto, de forma coordenada».
O principal solution engineer esclareceu ainda que a aplicação de IA generativa «é tão boa quanto a qualidade dos dados» e que precisa de se «integrar no ecossistema empresarial», de «perceber como trabalhar com as aplicações de negócio» e de se «ligar aos agentes actuais e futuros». Na Salesforce é usada «retrieval automated generation para que a IA tenha acesso aos dados, ao contexto e ao momento certo» para garantir que os agentes são «capazes de raciocinar e aplicar esse pensamento a tópicos específicos e de agir com base neles».
Segundo Tiago Esteves, a empresa reuniu todos estes componentes numa «plataforma única, profundamente unificada e confiável», que tem t«odas as permissões, guardrails e mecanismos de compliance necessários para uma utilização corporativa e segura de IA». Contudo, a Salesforce desenvolveu a Agentforce da forma «mais aberta possível», sublinhou o responsável, já que sabe que as empresas «trabalham com múltiplos parceiros e com várias aplicações de negócio».
Assim, tem a capacidade de se «integrar com qualquer LLM, API e sistema» para «garantir que utiliza toda a informação de que necessita». Além disso, os agentes «não têm necessidade de copiar e de mover dados de sistemas terceiros para dentro da plataforma, graças à funcionalidade zero-copy». O responsável concluiu a sua intervenção ao sublinhar que a Agentforce é a «plataforma de trabalho digital» que reúne uma «trindade de dados, aplicações e agentes de inteligência artificial».