Entrevista

«À medida que os dispositivos se tornam mais conectados, também devem tornar-se mais fáceis de usar»

Entrevista a Benjamin Braun, chief marketing officer da Samsung Europe.

A Samsung acredita num mundo em que a simplicidade é uma das palavras de ordem no universo de IoT: Benjamin Braun explicou à businessIT como é que a fabricante está a implementar esta estratégia.

Qual é a estratégia da Samsung para a Europa, tendo em consideração que engloba mercados muito diferentes, como Portugal, o Reino Unido e a Alemanha?

A Europa é muito importante para a Samsung, porque temos um elevado grau de lealdade entre os consumidores. Fomos, pelo 17.º ano consecutivo, a marca de televisões que mais vendeu e a única forma de conseguir isso é criando produtos que os consumidores adoram.

Penso que o sucesso recente da Samsung na Europa se deve ao facto de passarmos muito tempo a falar com clientes reais, para compreender quais são as suas necessidades.

No segmento das TV, há uma tendência na Europa em que as pessoas compram televisões cada vez maiores e nós conseguimos fornecer isso. Mas a televisão já não é apenas uma televisão: na nossa estratégia é um hub da casa e faz muito mais que mostrar a Netflix; pode tornar-se uma aparelhagem de som, já que tem o Spotify, e falar com outros equipamentos através do Smart Things. Mais um exemplo: quando alguém toca à porta e se tem uma campainha com câmara, como a Ring, podemos usar a televisão para ver quem é e dizer que estamos a caminho, usando o comando à distância, que tem um microfone integrado.

Por outro lado, a electricidade aumentou para quase o dobro na maioria dos países, mas as pessoas continuam a precisar de lavar a roupa. As nossas máquinas têm inteligência artificial para pesar a carga e perceber o quão suja está a roupa – depois, só utilizam a água, o detergente e o tempo que é realmente necessário. Com isto, o consumidor poupa até 70% dos custos em energia. Isto é dinheiro real que as pessoas não gastam e, por isso, ser uma marca que está a tentar ser útil é central na nossa estratégia europeia.

Além disso, acreditamos que, à medida que os dispositivos se tornam mais conectados, devem também tornar-se mais fáceis de usar. É por isso que temos agora um forno com uma câmara incorporada para ver o que estamos a cozinhar, no smartphone ou tablet. O forno tem também inteligência artificial incorporada, por isso, se um alimento estiver prestes a queimar, o forno notifica-nos para o desligar, algo que também é muito útil. Temos também um frigorífico que tem câmara e que permite ver o que está lá dentro para, por exemplo, sabermos do que precisamos quando estamos num supermercado a fazer compras.

O que vos distingue da concorrência?

A Samsung tem sido sempre líder no que diz respeito à inovação. Criamos coisas novas e trazemo-las sempre em primeiro lugar para o mercado. Vou dar um exemplo: os clientes disseram que queriam ecrãs maiores nos telemóveis, mas os bolsos não se tornaram maiores e, por isso, a nossa equipa descobriu como dobrar vidro. Agora temos produtos dobráveis com um ecrã duplo que cabem no bolso. E claro, ter uma equipa de pessoas que querem muito criar soluções que funcionem e ser as primeiras. É isto que faz a receita do sucesso.

O consumidor está mais exigente e os hábitos de consumo estão a mudar. Como é acompanham esta evolução e que tendências antevêem para os próximos anos?

A nossa investigação inclui os mais jovens, porque eles são os futuros clientes da Samsung. O que se tornou absolutamente claro é que têm uma melhor compreensão da importância de as marcas serem sustentáveis, de terem uma estratégia e uma abordagem nesse sentido. Somos uma das maiores empresas de electrónica de consumo do mundo e, por isso, quando fazemos algo é a uma escala maciça. Ao termos desenvolvido um novo comando para as TV da Samsung feito de redes de pesca recicladas, impedimos que esses plásticos acabem nos oceanos. Além disso, esses comandos têm painéis solares para carregarem com luz e também carregam com sinais de Wi-Fi que existem em casa. Isso impede que mais de duzentos milhões de baterias acabem em aterros, onde podem corroer e provocar danos irreversíveis ao planeta. Portanto, prevemos as tendências ao falar com os consumidores e a sustentabilidade é uma delas, sem qualquer margem para dúvidas.

Já que falamos de sustentabilidade, enquanto empresa o que é que estão a fazer para se tornarem uma organização neutra em carbono?

Os nossos escritórios estão equipados com sensores em todas as áreas e, quando não estão ocupados, as luzes só ligam quando passa alguém e o aquecimento/arrefecimento está desligado. Depois, estamos a colocar painéis solares nos edifícios para utilizar apenas energia renovável; as nossas embalagens são feitas de papel reciclado e estão cada vez mais pequenas, o que reduz a logística e as emissões de carbono. Deixámos de imprimir a cores nas nossas embalagens de TV e só utilizamos tinta orgânica, porque é biodegradável. Também deixámos de utilizar a fita-cola plástica, já que não se degrada, e substituímo-la por uma de papel que se degrada muito rapidamente. Além disso, há algo que acho muito interessante: as embalagens de televisão têm uma segunda vida, porque se so clientes digitalizarem um pequeno código QR que está na caixa, podem aprender a transformá-la numa mesa de café ou numa pequena casa para os animais de estimação.

O IoT tem sido uma das áreas de aposta da Samsung como se viu nas novidades que apresentaram este ano no European Summit. Quanto investiram nesta área e qual a vossa estratégia para este segmento?

A Samsung é uma empresa muito grande: fazemos de tudo, desde electrónica de consumo a semicondutores e equipamentos médicos, passando por monitores e displays para retalho e sinalização exterior. Somos muito grandes ao nível dos semicondutores e, recentemente, houve falta destes componentes no mercado. Decidimos investir dezassete mil milhões de dólares na construção de uma nova fábrica de semicondutores porque vai haver cada vez mais necessidade destes componentes. Não comunicamos publicamente valores e percentagens, mas estamos a investir substancialmente e de duas formas diferentes: em primeiro lugar, no Wi-Fi – todos os nossos equipamentos já o têm, é a peça fundamental para que todos falem uns com os outros; em segundo lugar, em promover um ecossistema aberto, já que acreditamos que qualquer produto deve ser capaz de falar com outro que o cliente escolha, independentemente da marca. Os produtos da Samsung são compatíveis com os padrões universais Matter e ZigBee; se um cliente comprar uma campainha da Amazon para casa, esta vai funcionar com o Samsung SmartThings. O que é importante para nós é uma abordagem de ecossistema aberto.

Uma das grandes preocupações actuais, quer a nível dos consumidores, quer das empresas, é a segurança. Como é que garantem que os vossos produtos são seguros?

Tudo o que fazemos tem de se basear no que o consumidor quer e, por isso, é necessário proteger os dados e a identidade. Para isso, temos o Knox Vault, que se encontra nos próprios chips dos dispositivos móveis e que oferece uma segurança integrada, e as nossas televisões têm um scanner de vírus para detectar qualquer acesso não autorizado.

Quando se trata de adicionar dispositivos de IoT a um equipamento, usamos a proximidade física: é preciso digitalizar um código QR individual, tocar com um dispositivo no outro ou estar fisicamente perto para que exista autenticação física. Nos computadores e tablets, se tiver um smartwatch Samsung ligado e se afasta do equipamento, bloqueia-o automaticamente. Por isso, há diferentes níveis, dependendo das necessidades. Os nossos dispositivos são realmente seguros e a prova disso é que são usados por ministérios de defesa, polícias, bombeiros, serviços de emergência e até no Vaticano, para proteger o Papa. Em Portugal, são certificados para serem usados pelos serviços secretos.

Quais são os objectivos para o mercado europeu e português em 2023, tendo em consideração a situação macroeconómica?

Estamos no início de uma recessão, mas se olharmos para a história da economia dos últimos 150 anos, vemos que os batons sempre tiveram um bom desempenho durante uma recessão – as pessoas ainda querem tratar a si e ter algo agradável. É a ‘economia do batom’. Durante as recessões, também sabemos que a venda de chocolates, doces e gelados sobe, porque as pessoas querem sentir-se bem. Assim, os estudos dizem que 54% dos europeus preferem passar tempo de lazer em casa em vez de sair e, apesar de as pessoas não terem dinheiro para as férias, ainda querem ter um pouco de luxo. E é aí que entram as televisões Samsung. Acredito que, este ano, as pessoas ainda estão dispostas a investir numa grande televisão Samsung, porque faz parte central do sítio onde se sentam com amigos e familiares para ver os programas preferidos, jogar, mostrar as fotos da família e ouvir música. As pessoas estão dispostas a investir em grandes televisões Samsung, porque isso é a ‘economia do batom’.

Também ajudamos quando fazemos retomas de equipamentos antigos na compra de novos, porque compreendemos que os tempos são difíceis. Fazemos o nosso melhor para ajudar as pessoas terem os dispositivos que desejam para as suas necessidades.

Como vê a evolução da Samsung nos próximos anos?

Lembro-me nos comics que li quando era criança, na Suécia, em que Dick Tracy usava o seu relógio como telefone ou em filmes, como Minority Report, em que Tom Cruise usava televisões com hologramas. Em Star Trek, as personagens tinham dispositivos pessoais de saúde que indicavam o seu estado e curavam doenças. Hoje o meu relógio faz muitas dessas coisas. Temos um colega que partilhou os dados do smartwatch Galaxy com o médico e este percebeu que ele tinha um problema de coração. Foi operado e, segundo o médico, ganhou, pelo menos, dez anos de vida. É espantoso. Este é um aparelho que se vai tornar cada vez mais inteligente. O que prevejo sobre a evolução da Samsung é fácil, é só lermos os comics antigos, está tudo lá.