Entrevista

«A Klarna nasceu para romper com o tradicionalismo do sector bancário»

A entrevista a Alexandre Fernandes, country manager da Klarna em Portugal.

Permitir que os consumidores acedam a serviços financeiros de forma rápida, simples e flexível é o objectivo da Klarna, que em Portugal é gerida por Alexandre Fernandes. O conceito passa por dividir os pagamentos das compras em três vezes sem juros ou taxas associadas, dando corpo ao conceito ‘buy now, pay later’.

De que forma tem vindo a evoluir o uso das plataformas ‘buy now, pay later’ [BNPL] em Portugal?

Os dados mostram que Portugal tem uma das taxas de penetração de cartões de crédito mais baixas na Europa (cerca de 35%), essencialmente pelas elevadas taxas de juro cobradas, com os consumidores a dependerem cada vez mais do débito na maior parte dos seus gastos diários. No entanto, existe uma forte apetência por flexibilidade e por aumentar o poder de compra – algo que é ainda mais evidente nos actuais tempos que vivemos. A título de exemplo, dados do mais recente relatório da Klarna sobre a Black Friday e a Cyber Monday mostram que os compradores portugueses preferem a utilização de soluções BNPL (52%) em oposição a cartões de crédito (15%), para o pagamento de compras parceladas. É nesse sentido que a Klarna proporciona uma experiência de pagamento e de compra mais simples, intuitiva, acessível e responsável, não apenas através da forma pagamento parcelada, mas também com outras modalidades de pagamento adaptadas aos hábitos de consumo. Temos vindo a crescer neste primeiro ano em Portugal e contamos já com mais de mil marcas clientes e mais de trezentos mil consumidores que recorrem à Klarna.

Quais as grandes vantagens deste sistema de pagamento?

A principal vantagem, para o consumidor, é o facto de proporcionar o pagamento de uma compra parcelada em três vezes sem juros, quando feito dentro dos prazos previstos. Além disso, na Klarna, fomentamos o consumo responsável, na medida em que é feita uma análise no perfil do comprador, para apurar se é ou não viável adicionar uma nova compra parcelada às já existentes. Isto não acontece nos cartões de crédito: por defeito, concedem um plafond para ser utilizado que é por norma, bastante elevado. A Klarna nasceu para romper com o tradicionalismo do sector bancário, permitindo que os consumidores possam aceder a serviços financeiros de forma rápida, simples e flexível.

Como espera que este modelo evolua nos próximos dois anos?

Em Portugal, os consumidores recebem bem a tecnologia aplicada ao sector financeiro e existe muita inovação a acontecer. Há uma mudança na forma como as pessoas pagam pelas coisas do dia-a-dia e os consumidores portugueses estão, cada vez mais, a afastar-se dos cartões de crédito com taxas/juros elevados e do débito, como principal opção de pagamento — o número de cartões deste tipo cresceu 5,8%, mas os de crédito inverteram a tendência e diminuíram 1,6%, de acordo com o Relatório do Banco de Portugal sobre Sistemas de Pagamentos 2019. Estes números mostram que existe um caminho de descoberta e crescimento para o BNPL, que traz flexibilidade e aumento do poder de compra ao consumidor.

De que forma vê a concorrência?

O BNPL é uma simplificação do nosso negócio, pois 40% dos nossos clientes a nível global pagam as suas compras de forma imediata e integral. Criamos uma experiência de aplicação muito superior que está a impulsionar a preferência do consumidor em relação aos cartões de crédito tradicionais – coisas como o envio automático e informações de devolução, tracking do orçamento e a visualização detalhada dos pedidos feitos, que ajudam as pessoas a poupar tempo, dinheiro e a controlarem as suas finanças.

Como é que a Klarna se quer diferenciar dessa mesma concorrência?

Estamos focados na experiência de compra do utilizador, que pode juntar todas as marcas na app Klarna, onde pode facilmente navegar, explorar, analisar, comparar e, claro, comprar, poupando tempo e dinheiro. O nosso objectivo é que o consumidor tenha uma experiência de compra completa e suave, bem como comodidade de pagamento dentro do que é financeiramente responsável. Na Klarna, o utilizador pode receber notificações quando existe uma descida de preço nos seus produtos favoritos, pode aceder ao Clube de Pontos Klarna, que em cada compra dá pontos que podem ser revertidos em vouchers e gift cards, entre outros benefícios. Somos muito mais que uma app para parcelamento de compras – isto é o que, efectivamente, nos diferencia da concorrência.

Pela sua experiência, Portugal está alinhado com as demais geografias europeias ou ligeiramente atrasado?

A nossa visão é de que Portugal está num caminho muito positivo de transformação tecnológica do sector financeiro, com um grande esforço a ser feito por parte das fintechs, mas também da parte da banca tradicional. No entanto, do lado da banca, existe ainda uma visão fechada no que respeita ao fornecimento de um serviço financeiro; não há elasticidade necessária para o uso da melhor tecnologia disponível no cruzamento do sector da banca com todos os outros sectores do retalho. Actualmente, as fintechs fazem-no de forma mais eficaz, simples e com uma integração que vai ao encontro do que os retalhistas e os consumidores procuram num mundo que hoje em dia é ‘digital first’.

Existe um decréscimo na utilização de cartões de crédito, um produto muito associado à banca tradicional, com os consumidores demonstrarem uma preferência crescente pelo débito e pelo BNPL. Em Portugal, esta é uma realidade premente, pois existe uma baixa penetração de utilização de cartões de crédito (35%), demonstrando a aversão dos consumidores nacionais por este método de pagamento que, além de tudo, é caro.

No seu entender, de que forma está a banca a lidar com este “fenómeno”?

A banca tradicional é um gigante e está pronta para esta disrupção. Como gigante que é, torna-se pouco ágil para reagir de forma quase instantânea às rápidas mudanças que caracterizam os clientes e consumidores. Ainda estão fechados sobre si mesmos e os seus produtos financeiros tradicionais, como o cartão de crédito ou a concessão de crédito, no geral. O BNPL, embora seja crédito na sua génese (com um custo não imputado ao consumidor), é uma agilização da compra e uma resposta muito clara a uma necessidade concreta do consumidor. Não é um estímulo ao crédito, é um alívio financeiro para compras de valores médios mas que pesam no orçamento das famílias e que não são propriamente compras supérfluas. Vemos, neste momento, um influxo de consumidores, pois as pessoas estão a olhar atentamente para as suas finanças, a pensar em como podem poupar dinheiro e encontrar as melhores alternativas aos cartões de crédito, já que os bancos aumentaram as taxas de juros.