Reportagem

Affidea usa inteligência artificial para melhorar diagnóstico de doenças oncológicas e neurológicas

O prestador de saúde fez uma parceria com a Incepto para usar quatro soluções de inteligência artificial (IA) na área de radiologia em Portugal. O objectivo é melhorar os cuidados ao paciente através de aperfeiçoamentos no diagnóstico, na detecção e na medição.

Um dos maiores prestadores europeus de serviços de diagnóstico, cuidados de ambulatório e tratamento oncológico, fez uma parceria estratégica com a Incepto para disponibilizar soluções de IA focadas em oncologia, neurologia e mama, tendo escolhido o País para testar estas ferramentas antes de avançar para outros mercados europeus. Luís Rosa, director clínico da Affidea Portugal, explica que as ferramentas serão disponibilizadas «em catorze clínicas a radiologistas e neurorradiologistas» e que foram escolhidas tendo «em mente o interesse prático imediato para os doentes». Os profissionais da empresa serão, assim, capazes de «aceder e usar estas soluções na sua actividade clínica diária sem mudar qualquer equipamento ou ter de integrar com cada software de IA separadamente».

O responsável adianta que as novas ferramentas vão «amplificar o rigor diagnóstico quer na identificação, quer na caracterização e quantificação volumétrica de lesões, relativamente ao que o olho humano, mesmo que muito treinado, permite».

Quanto aos benefícios que os pacientes podem esperar, a Affidea revela que existirá uma «melhoria dos cuidados de saúde, uma optimização operacional através de menores tempos de aquisição, triagem e priorização; e o reforço da confiança da equipa médica nos resultados disponibilizados». Além disso, Luís Rosa afirma que irá permitir que os médicos radiologistas ampliem «a capacidade em fornecer opções terapêuticas mais dirigidas e fundamentadas pelos resultados diagnósticos», mas também «a redução do tempo de leitura (por exemplo, na identificação de micronódulos pulmonares), menor cansaço e aumento da sensibilidade na identificação de pequenas lesões, reduzindo o número de falsos negativos».

Uma curva de aprendizagem
O director clínico sublinha que, numa primeira fase, vai existir uma «familiarização com novas formas de exercer a especialidade de radiologia e neurorradiologia» pela introdução destas ferramentas», já que os médicos têm de avaliar a forma como usam as soluções da Incepto na sua prática, para conseguirem prestar melhores cuidados de saúde. «É, sobretudo, uma rampa de lançamento para o futuro, dada a inovação exponencial que se espera venha a ocorrer e que de certa forma já aí está», esclarece.

Luís Rosa refere igualmente que esta oportunidade de usar as soluções é também uma «aventura», já que permite à Affidea «participar na exploração do novo campo inteligência artificial, numa das áreas em que se espera que a sua aplicação mais revolucione a prática médica».

O responsável diz ainda que, «num clima expansionista das necessidades em cuidados de saúde, com a concomitante expansão dos gastos associados e perante uma escassez cada vez maior dos recursos médicos especializados, estas ferramentas podem ser fulcrais no aumento do output, sem perda de qualidade e na redução dos custos associados aos métodos diagnósticos».

Já sobre o valor investido pelo grupo para disponibilizar as soluções de inteligência artificial da Incepto, o responsável refere que «o acordo é confidencial», mas avança que o investimento «fundamental foi em termos de disponibilidade dos profissionais no processo de teste e selecção das soluções de IA». Depois do primeiro teste em Portugal, a Affidea pretende implementar as soluções da Incepto em outros mercados europeus.

Ainda nos primórdios
A Affidea está a apostar em IA e pretende «integrar inteligência artificial na sua rede e abraçar todos os benefícios expectáveis da utilização desta tecnologia na rotina clínica» – é por esta razão que a empresa «tem uma equipa de sub-especialistas a testar diferentes soluções de IA». Neste momento, o prestador de serviços de saúde tem a decorrer projectos-piloto com dez soluções que usam inteligência artificial em dez países; o senior vice-president e chief medical officer da Affidea, Alessandro Roncacci, sublinha que «quanto mais a empresa avança na implementação da IA, mais precisa de pensar na complexidade de integrar múltiplas soluções de uma forma segura e em conformidade, para oferecer benefícios aos pacientes e radiologistas». O responsável salienta que «simplificar não é fácil», mas que na Affidea «há todas as competências, experiência e recursos para fazer esta viagem com sucesso».

Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer ao nível dos benefícios que a inteligência artificial vai trazer ao sector da saúde. Luís Rosa acredita que a IA ainda está apenas no início e que muito ainda está para vir: «Estamos na fase das máquinas a vapor. Historicamente, foi sempre errado subestimar o potencial da tecnologia. No domínio da saúde, a inteligência artificial revolucionará a prática médica além do que é hoje reconhecível».

As novas soluções de inteligência artificial da Affidea

  • Veye Lung nodules: identificação, caracterização e mensuração de nódulos pulmonares, com possibilidade de monitorização rigorosa da variação dimensional ao longo do tempo;
  • Transpara: análise de nódulos mamários em exames de mamografia;
  • IcoBrain DM: segmentação e análise volumétrica de zonas cerebrais específicas para identificação e seguimento de padrões de atrofia associados a diferentes tipos de demência;
  • Keros: detecção e caracterização de lesões do joelho em ressonância magnética.