Reportagem

Noesis: empresas só são data-driven quando «a estratégia é definida com base na informação»

A sexta edição do evento do Lisbon Data & AI Forum falou da importância das empresas terem uma estratégia centrada nos dados e de como criar essa cultura para que as organizações sejam bem-sucedidas.

No regresso ao formato presencial, o evento da Noesis dedicado aos dados e à inteligência artificial revelou tendências e quais os maiores desafios das organizações para ter uma cultura data-driven.

Luís Gonçalves, Data Analytics & AI Director da Noesis, explicou que «hoje todas as organizações dão valor aos dados e já ninguém questiona a sua importância», mas para que uma organização seja data-driven é preciso que «os dados já estejam a influenciar a dinâmica, a estratégia e em todos os departamentos» da empresa. O responsável salientou que estas empresas têm «a capacidade de tomar melhores decisões e mais eficientes, a capacidade de controlar melhor de acções que tomam já que podem medi-las e acompanhá-las, mas essencialmente a capacidade de reagir ao que não está a correr bem ou capitalizar em algo que está a correr bem».

Neste estado de maturidade máximo de uma empresa em relação aos dados, «todos os colaboradores são afectados de alguma forma e utilizam os dados». O responsável falou ainda da importância dos boards estarem alinhados com uma «cultura data driven», uma vez que isso «implica uma transformação de mentalidades» e que por isso, a direcção «tem de percepcionar o valor trazidos pelos dados para que exista esta mudança».

Maioria é data-aware
Há três fases principais em que as empresas se podem encontrar em relação aos dados e Luís Gonçalves salientou que «mais de 90% das empresas nacionais já passaram a fase data-aware». Neste nível, os dados «já não são um nice to have, mas sim algo que tem de estar presente» e em que «já há já pelo menos um departamento que toma decisões baseadas em dados, apesar de ainda não ser geral em toda a organização». O estado seguinte é «data critical, em que já há em vários departamentos a usar os dados, esta mentalidade está a espalhar-se pela empresa e já há bastantes decisões que são baseadas na informação». Por último, há as empresas «data-driven que é quando a estratégia da empresa é definida pela informação». Segundo a experiência da Noesis, há «muito poucas empresas neste último estado em Portugal», mas Luís Gonçalves revelou à businessIT, que «há já bastantes organizações portuguesas que são data-critical». Na maioria dos casos, «são as grandes empresas portuguesas» que fazem «grandes investimentos» nesta área.

A evolução da mentalidade «não é um problema tecnológico», mas são precisas «plataformas tecnológicas para criar uma cultura de dados», disse o director da área de data, analytics e AI da Noesis. Além disso, é ainda necessário «formação contínua, jornadas personalizadas para cada colaborador, já que cada pessoa tem competências diferentes e a criação de comunidades de colaboração para criar entreajuda entre os membros das equipas e reduzir a frustração» e a resistência à mudança.

Mudar mentalidades
Luís Gonçalves esclareceu ainda quais os pilares de uma cultura data-driven, que «passam por uma mudança de mentalidades» para que as «pessoas perceberem que a alteração é a seu favor e não contra» e que é preciso vir do topo. Por outro lado, também essencial é «uma cultura de experimentação, em que não há medo de falhar; melhorar as competências existentes (saber um pouco de algoritmia e como trabalhar a informação e data storytelling para demonstrar o que dados podem fazer) e apostar na literacia dos dados». O responsável referiu que «todos dentro de uma organização devem usar os dados» para que quem é menos tecnológico, mas sabe do negócio possa contribuir e não exista «perda de conhecimento». Outros dos pilares são «criar modelos de self-service e automatizar tarefas para melhorar o acesso à informação e solidificar os datasets para garantir a qualidade, a segurança e que a informação não deixa de ter valor».

Sobre os desafios, Luís Gonçalves, destacou «o tool fatigue», ou seja, cansaço das ferramentas ao ter de trabalhar com dezenas de aplicações diferentes. Sobre a forma de mitigar esta situação, o responsável indicou que se «deve reduzir o número de plataformas que os utilizadores usam e reduzir as tarefas já que isso traz ganhos de produtividade».

No final, Luís Gonçalves fez um resumo sobre o mercado da analítica de dados e o que deve ser o futuro. Assim, neste momento, a maioria das empresas está numa fase de «analytics descritiva em que sabe o que vendeu, o que comprou, etc, ou seja, sabe o que aconteceu»; há também um grande conjunto de organizações que está numa fase de «analytics preditiva, em que consegues prever o que vai acontecer, o que o cliente quer comprar, o que vai vender». O responsável esclareceu que «o objectivo deve ser chegar a uma analítica descritiva», em que os dados «mostram o que se deve fazer, que liga a inteligência artificial e a automação e que despoleta acções e dá insights inteligentes para que os negócios sejam bem-sucedidos e competitivos».