A digitalização deu aos governos europeus as ferramentas para tornar a luta contra a pandemia mais eficaz, mas também levantou preocupações de segurança, disse Willem Jonker, CEO da EIT Digital, na abertura do evento ‘Grow Digital’, que decorreu em Bruxelas. «Onde está a linha que separa o uso ético dos dados recolhidos e o uso indevido?», questionou Jonker, referindo-se ao escândalo Pegasus, na Europa, e sublinhando a importância da regulamentação, não só em termos de protecção de dados, mas também em termos de utilização de inteligência artificial (IA).
Jonker sugeriu ainda que a IA pode ‘catalogar’ as pessoas, privando os consumidores de algumas oportunidades que apelidou de ‘básicas’. O exemplo dado foi o de que, aos olhos da IA, uma pessoa que frequenta lugares caros, e partilha fotos nas redes sociais, seria menos confiável aos olhos do algoritmo durante uma avaliação de crédito, que alguém que dedica a sua vida ao trabalho. O CEO alertou ainda para o facto de um mundo acelerado, potenciado pela digitalização, poder ser prejudicial à saúde mental. Jonker ressaltou que não há investimento ou objectivo de negócio pelos quais valha a pena colocar a saúde em risco.
Não há digitalização sem cooperação
Na sua intervenção, o executivo considerou ainda importante para a Comunidade Europeia, com o envolvimento dos governos e da sociedade, acordar condições para a digitalização que não infrinjam a integridade da privacidade, mas também para apoiar a tomada de decisão responsável, através da recolha e análise de dados. Os sistemas sociais não podem ser pensados da mesma forma que um sistema de produção, mas os exemplos da indústria podem ajudar a definir a direcção certa, disse o executivo do EIT.
Os participantes do sector na conferência Grow Digital – líderes de grandes corporações e startups – insistem na necessidade de uma base regulatória adequada e, apesar de não avançarem com soluções concretas, vão apontando algumas direcções, isto num cenário incerto como o de hoje, ainda assombrado por uma recente pandemia e a incerteza do desfecho da guerra na Ucrânia.
A mensagem do evento, além do facto de a disseminação das tecnologias digitais não diminuir a importância dos encontros presenciais, é a importância de um diálogo social e político activo, assim como a representação dos interesses económicos e industriais. Para os vários intervenientes, a digitalização não pode ser alcançada sem cooperação, que deve ser a base para o uso seguro da tecnologia.