Liraz Margalit, psicóloga digital citada pelo CMSWire, defende que o cérebro humano tem uma tendência inerente de preferir a simplificação à complexidade, algo que se encaixa na perfeição com o estilo de interacção com um chatbot. «Os chatbots têm como premissa interacções mínimas, muitas das quais podem ser resumidas em um emoticon, não requer muito esforço cognitivo. Um chatbot não precisa do envolvimento emocional e da interpretação de pistas não-verbais exigidas pelos humanos, tornando a interacção das pessoas muito mais fácil», acrescentou Miguel Macedo.
Tudo isto parece andar de mãos dadas com a tendência do cérebro humano para a preguiça cognitiva. «Ao conversarmos de forma reiterada com chatbots, um novo modelo mental será criado no utilizador e como eles interpretam as interacções sociais. Embora a interacção humana via chatbots possa ser conveniente, pode causar problemas quando as pessoas se tornam viciadas nesta forma de interacção de bot».
Falta o improviso
Todos já lidamos com chatbots. E, muitas vezes, até podemos não ter consciência disso. Isto porque, ao contrário dos humanos, os chatbots não sabem lidar com o improviso e imprevisto. Ou seja, quando uma pergunta ou situação foge dos parâmetros de aprendizagem, “ele” não sabe o que fazer, sendo habitualmente transferido para um agente humano, algo que por vezes escapa ao utilizador.
Podem os chatbots tornar-se demasiado pessoais? Miguel Macedo diz que essa é uma questão típica de uma mudança cultural. «Desde a revolução industrial que temos ‘medo’ de que os robots tomem conta do mundo, que deixe de haver emprego, que passem a ser eles a tomar decisões. Mas, se olharmos com atenção para o que a história nos tem ensinado, a verdade é que a robotização e mecanização trouxe progresso, libertou os recursos humanos para funções bem mais importantes. Claro que houve necessidade de reajustar o mundo de trabalho e vai continuar a haver».
No entanto, Miguel Macedo também é da opinião que todos estes desenvolvimentos no âmbito da inteligência artificial e a sua integração na sociedade têm de ser criteriosamente ponderados. Como nota final, o sociólogo aconselhou ver o filme Her, de 2013, no qual o escritor Theodore desenvolve uma relação de amor com o novo sistema operacional do seu PC. Theodore acaba por se apaixonar pela voz deste programa, uma entidade intuitiva e sensível chamada Samantha. O filme acabaria por ganhar o Óscar de Melhor Argumento Original.
Como curiosidade, o primeiro Chatbot chamava-se Eliza e foi desenvolvido nos anos sessenta do século XX. Um professor do MIT criou um programa que poderia interagir com as pessoas como um psicoterapeuta faria. Parece muito ambicioso e sofisticado para esse período de tempo, mas o que Eliza basicamente fazia era repetir o que seu parceiro de conversa estava a dizer, reformulando o conteúdo como uma pergunta. A Eliza não tinha ideia do contexto e não entendia o conteúdo. Mas, graças a um padrão inteligente e programação de palavras-chave, a conversa parecia realista. Afinal, não é papel de um psicoterapeuta fazer perguntas? Ironicamente, apesar de a interacção ser superficial, alguns utilizadores do programa conectaram-se com a Eliza, começando a desenvolver um vínculo emocional com “ela”.