Reportagem

Comércio digital vai continuar a crescer e será fundamental para o futuro das empresas

A Associação da Economia Digital (ACEPI) e a IDC associaram-se para falar sobre o e-commerce num webinar que abordou as tendências do comércio digital e mostrou o que esperar em 2021.

O Talks Club é o novo projecto da associação e da consultora que irá decorrer até Julho. O objectivo é abordar assuntos ligados ao comércio electrónico: tendências, pagamentos, logística, marketing, regulamentação e fiscalidade, comércio digital de proximidade e internacionalização. Ao todo, serão sete eventos online dedicados a todos os tipos de empresas, mas em especial às PME. Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI, disse que a economia digital teve uma «aceleração tremenda no último ano» e que as compras online «foram, talvez, o sector que mais cresceu nesse período». A associação tem um programa chamado Comércio Digital para promover a digitalização das PME e microempresas da área do comércio e dos serviços com formação, com ferramentas para o «desenvolvimento das competências digitais dos comerciantes», e que tem ajudado na transição digital.

O responsável referiu que ficou «claro para todos» que ter uma presença online é «fundamental» e que «todos os comerciantes perceberam que têm de fazer essa transição».

A oferta de comércio digital «ao nível nacional teve um crescimento enorme, assim como a nível internacional», salientou Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC. O responsável indicou que o estudo da Economia Digital ACEPI/IDC estima que «o valor do comércio electrónico B2C alcançou em Portugal, em 2020, quase oito mil milhões de euros».

Um novo paradigma
Filippo Battaini, head of IDC retail insights da IDC Europe, lembrou que existe um «novo paradigma de compras desenvolvido em virtude da pandemia, que alterou os hábitos de consumo e provocou o aumento do e-commerce». Neste novo ambiente de compras, os retalhistas devem «focar-se numa jornada do cliente contextual e em tempo real», na «digitalização das lojas físicas» com uma abordagem «contactless by design» através do uso de tecnologias como «IoT e a inteligência artificial», na «inovação dos modelos de negócio e da experiência de compra através de parcerias» e dando prioridade à «sustentabilidade e visibilidade da cadeia de abastecimento».

Em Março de 2020, registou-se um pico do comércio electrónico, um pouco por todo o mundo, que continuou até hoje e a IDC não vê o e-commerce a «reverter para os valores pré-pandemia», disse o responsável – isto é sustentado «pela mudança de comportamento dos compradores». Filippo Battaini mostrou isso mesmo com dados do Eurostat: nos últimos doze meses, 90% dos consumidores do Reino Unido fizeram, pelo menos, uma compra online. Estes valores descem para 83% na Alemanha, 73% em França, 63% em Espanha e 55% em Portugal. Ainda assim, os dados mostram que mais de metade dos portugueses estão a fazer compras online. Este comportamento vai «manter-se» em 2021 e passar a «ser a norma», garantiu Filippo Battaini.

Aumentar as vendas com novos canais
O responsável da IDC deu alguns exemplos de retalhistas que apostaram em tecnologia e conseguiram bons resultados em 2020, apesar da pandemia: as vendas online da Inditex, dona da Zara, cresceram 74% e a Sonae MC registou um aumento de 80% do e-commerce. Mas, segundo a IDC, apenas «9% das empresas têm uma estratégia com foco na inovação»; as restantes 91% têm ainda de investir, mais ou menos consoante os casos, na «digitalização e inovação» para se «adaptarem à nova realidade e serem competitivas».

A consultora perguntou aos retalhistas que áreas consideram ser as que mais vão contribuir para o sucesso das empresas nos próximos três anos e «ficou claro que o comércio electrónico é estratégico para o futuro das empresas». Os inquiridos pela IDC na EMEA referiram a «presença em marketplaces generalistas e especializados, como a Amazon e Alibaba», a «integração entre o mundo físico e online» e o «e-commerce» como os três principais factores para o crescimento das receitas.

Quatro estratégias essenciais
Filippo Battaini partilhou ainda quatro estratégias que as organizações de retalho devem adoptar para crescerem e aumentarem as vendas. A primeira é a de expansão de mercado, o que consiste «em chegar a novos segmentos de clientes, aumentar a oferta de produtos e fazer testes de mercado para perceber o que vende». Outra das abordagens é o uso de dados, ou seja, «utilizar analytics para a personalização da experiência do cliente e fazer recomendações, promoções direccionadas e criar programas de fidelização». A terceira forma para aumentar as receitas passa por parcerias de entregas, por exemplo com empresas como a Uber Eats, para chegar a novos clientes. O responsável da IDC deu como exemplo a colaboração no Reino Unido entre a empresa de entregas de refeições e os supermercados Sainsbury’s, mas poderia ter usado a parceria que essa startup tem com o Minipreço, em Portugal. Esta estratégia serve para «chegar a novos clientes, fazer entregas mais rápidas e também testar o mercado para ver o que funciona melhor para a organização». Por outro lado, as empresas podem usar «a loja como centro de entregas para encomendas online» para entregas mais rápidas; esta é uma abordagem que já está a ser implementada pelos retalhistas europeus como demonstra um estudo feito pela consultora – 50% já implementou iniciativas desta natureza.

«A aceleração do e-commerce «requer um comércio integrado e sem complicações, com a adopção de novas tecnologia e funcionalidades, usando o poder da analítica de dados para perceber melhor o que os clientes querem e oferecer a melhor experiência possível com um apoio ao cliente forte e uma boa logística de entrega», concluiu Filippo Battaini.

O que esperar
A Mastercard partilhou a sua visão do comércio digital e Rui Tomás Fonseca, business development director da empresa, esclareceu que o omnicanal é «indispensável para que as empresas estejam presentes no online e no offline com uma experiência simples».

Sobre o futuro do comércio digital, o responsável salientou que existem três conceitos fundamentais que os comerciantes devem seguir e que são uma experiência de consumidor «de conforto e simplicidade de uso (seamless), de segurança e confiança (safe) e de conhecimento do consumidor para o servir melhor (smart)».

Rui Tomás Fonseca afirmou que o «mundo está diferente» e que as empresas, para liderarem no espaço digital, devem «permitir a melhor experiência possível a qualquer hora, em qualquer lugar e em qualquer forma que o consumidor queira usar para comprar».