Este foi mais um evento anual que se transformou e realizou em formato digital, desta fez com especial ênfase na importância dos dados no actual contexto sanitário, social e económico.
A Noesis tem apostado na área de analítica de dados e de inteligência artificial e Luís Gonçalves, data analytics & AI director na empresa, fez uma retrospectiva de 2020 e falou desse mercado. Sobre a situação actual, o responsável salientou que as empresas «que reagiram bem, com grande agilidade e novas ofertas» foram as que «conheciam bem o seu negócio», ou seja, tinham «estratégias de dados em vigor».
Para Luís Gonçalves, «a grande lição desta pandemia, em especial para o sector das TI, é que é preciso investir em dados e na qualidade dos mesmos». O data analytics & AI director da Noesis revelou ainda que «não há momentos perfeitos para implementar uma estratégia de dados e que as empresas devem começar o quanto antes, para terem capacidade de adaptação às adversidades e começarem a ver os benefícios».
Em 2020, a Noesis considera que se está a entrar numa nova geração na parte de analítica de dados e business intelligence em que a inteligência artificial (IA) terá aqui um papel-chave, já que «servirá para automatizar as tarefas repetitivas e sem grande valor acrescentado, como a extração e catalogação dos dados, e permitir que os humanos se foquem no que são bons, na decisão».
Para exemplificar a relevância disso mesmo, e de que a IA pode ser para empresas de qualquer dimensão, o responsável deu o exemplo da BlueDot, uma empresa canadiana de big data com quarenta colaboradores, fundada em 2013, que desenvolveu um algoritmo que analisa e processa dados, como notícias, conteúdos online, declarações oficiais, informações de voo de passageiros, entre outros, para identificar padrões.
Em 2016, a BlueDot previu a propagação do Zika seis meses antes das instituições oficiais e em Dezembro de 2019 alertou para uma doença desconhecida em Wuhan, antes do reconhecimento oficial da China e da OMS.
Desafios da IA nas organizações
Uma das mesas redondas do evento foi dedicada ao tema da IA e da integração dessa tecnologia na estratégia das empresas. Ricardo Ramos, principal competitive analyst na Qlik, partilhou a sua visão do que é a IA: «Vai servir mais para aumentar a capacidade dos utilizadores fazerem tarefas e fazerem melhor do que substituí-los, trazendo augmented intelligence (inteligência aumentada) às organizações. É uma forma de ajudar pessoas que não tem tantas competências a usar a informação, fazer descobertas e a tomar decisões informadas». No entanto, alertou para a necessidade de «mais literacia dos dados» e que «deve ser começar já e nunca é tarde» para que «as pessoas se possam adaptar melhor» ao novo mundo da IA.
As questões da ética foram abordadas por Alex Campos digital data strategist da Cloudera, que referiu que «devem existir recomendações de utilização da IA ao nível governamental, como fez a Nova Zelândia, para equilibrar os benefícios e os desafios». Já Pedro Lopes, team leader AI da Noesis, falou da «privacidade dos dados» como uma das preocupações na implementação da estratégia da inteligência artificial nas empresas.
Sobre como as organizações devem iniciar o tema da IA, Ricardo Ramos não tem dúvidas sobre o facto de ter de se «começar pequeno e ir acrescentando e adaptando às necessidades das empresas e do mundo, como no caso de um evento disruptivo como o temos hoje».
Já o responsável da Noesis destacou o «open source como uma boa aposta para a fase inicial, sem grandes investimentos e que depois permite migrar para componentes mais complexos».
As TI e o negócio
O investimento em advanced analytics, machine learning (ML), big data e IA está a crescer, revelou Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC: «20% das empresas europeias vão investir mais nestas soluções, em 2021, e 50% vão investir o mesmo do não passado». Pedro Caria, sales director da Noesis, realçou o porquê destas soluções continuarem a ser um dos foco das empresas: «O que vimos é que os clientes necessitam de indicadores fidedignos que os ajudem na gestão do negócio e que lhes dêem previsões, apesar de isso ser cada vez mais difícil, com a pandemia». E acrescentou que são necessários «indicadores actualizados e em tempo real para ajudar os gestores a decidirem a estratégia e o futuro».
As soluções de IA são cada vez relevantes para os negócios e a aposta nestas áreas é cada vez mais significativa, como foi várias vezes referido. Fran Rodriguez, territory sales manager – Spain & Portugal da Qlik, destacou que a «IA vai ser o novo paradigma». No entanto, esclareceu que é «preciso dar ferramentas aos utilizadores finais do negócio» para que «tenham mais informação e possam tomar melhores decisões. Para trabalharem mais e melhor» e, assim, «potenciarem o crescimento dos negócios».
Sobre a transformação digital, Gabriel Coimbra revelou que a consultora antecipou a previsão de que, em 2025, 2/3 da economia estaria digitalizada para 2022. Este salto tecnológico está e vai colocar pressão nos recursos humanos, em especial ligados à área de analytics e data science. Guilherme Pereira, director executivo da DSPA – Data Science Portuguese Association foi peremptório em relação à «falta qualidade, especificidade e quantidade» de profissionais.
Apesar de reconhecer que há um esforço das instituições de ensino «para entregar ao mercado o talento de que necessita» e das «empresas em criarem os seus próprios mecanismos internos de formação, com requalificação dos seus colaboradores» Este trabalho, segundo o responsável «é manifestamente insuficiente».
Guilherme Pereira disse que «a cultura dos dados nas organizações é um dos passos mais importantes para que a resposta à falta talento disponível possa acontecer» e que «compete às empresas disseminar o conhecimento junto de pessoas que tipicamente não estariam acordadas para estas áreas (analytics e IA) porque muitas vezes o talento já existe dentro das organizações e pode ser reformulado».
No final, Pablo Diaz Sanfeliu, senior partner account manager da Qlik, e Luís Gonçalves falaram do «caminho dos dados» em que é preciso primeiro «libertá-los» já que estes já existem na organização, «conhecer a sua natureza», «analisá-los, para descobrir padrões, e saber usá-los». Tudo isto para conseguir chegar à «inteligência activa», ou seja, atingir um fim, já que tem de haver um propósito para que a jornada tenha sentido. «A tecnologia não é o objectivo. Este é a existência de um benefício para empresa, seja a redução de custos, seja reduzir riscos, seja outra meta qualquer e é isso que as organizações devem procurar e que é fundamental definir, em especial nos dias de hoje», concluiu o responsável da Qlik.