Reportagem

Inovação é vital para competitividade e futuro da banca e das empresas

O IDC Digital Innovation Connection mostrou como os mais importantes sectores estão a usar a inovação para se diferenciarem e sobreviverem num mundo cada vez mais digital. A Banca e o Governo/Administração Pública foram duas das áreas de actividade abordadas na conferência.

O responsável destacou que «ter os dados indicados para treinar os modelos continuará a ser uma das partes mais desafiantes para qualquer empresa», seja bancária ou não. Antoine Larmanjat explicou que a «inovação permitirá aos bancos introduzir novos produtos e serviços a um ritmo mais rápido e os dados, a IA e o ML, a gerir melhor o risco, fazer previsões mais precisas e a melhorar a eficiência operacional». É por isso que inovar é tão importante e, para isso, nada como usar a cloud: «A nuvem não é apenas um acelerador de inovação, será fundamental nesta nova estratégia dos bancos pois permite uma arquitetura mais flexível, modular, fiável, segura e apenas pagar pelo que realmente precisa e usa».

A digitalização da administração pública
Os governos estão a ser pressionados, ainda mais com pandemia, a transformar os seus serviços para serem mais digitais e parecidos com a experiência que os cidadãos têm no seu dia-a-dia com outros produtos. Massimiliano Claps, associate vice president de government insights para a EMEA da IDC, falou do “novo normal” dos serviços públicos e explicou que a transformação «começou há vinte anos com os serviços online» e tem continuado até agora «com o uso de dados de forma mais inteligente para ajudar os cidadãos».

Neste caminho, «o foco não pode ser a tecnologia», e que tem de englobar «funcionários públicos e cidadãos». O responsável realçou que basicamente o que se quer alcançar são as mesmas vantagens que as empresas tiram com a transformação digital: «É eficiência, prestação de serviços fidedignos, confiança na utilização dos dados, serviços responsivos, inclusivos e convenientes. Trata-se de estabelecer serviços públicos éticos e usar a tecnologia como meio para acelerar essa transição».

A COVID-19 trouxe «o trabalho remoto, a inovação, os modelos de negócios, de funcionamento e de experiência do cliente aos governos» e isso vai continuar de acordo com um estudo que a IDC fez a governantes europeus. «É claro que não é um caminho fácil. Não se trata apenas de implementar um projecto de forma bem-sucedida, trata-se de transformar os fluxos de trabalho e a reimaginar a prestação de serviços aos cidadãos», revelou. Para isso, há uma lista de seis elementos chave que os governos devem trabalhar e Massimiliano Claps enumerou-os: experiência do cidadão omnicanal; usar os dados como um activo estratégico para melhorar a elaboração de políticas e a prestação de serviços personalizados; serviços públicos seguros e confiáveis; inclusão digital; o futuro do trabalho; e, por fim, reunir tudo em plataformas/infraestruturas ágeis e inteligentes.

O exemplo de Portugal
Sara Carrasqueiro, member of the board da Agência para a Modernização Administrativa (AMA), partilhou com a audiência como desse ser o sector: «O mundo actual requer uma administração pública responsiva, eficiente, inclusiva e inteligente», muito em linha com o definido pela própria IDC. Para a agência nacional, «a inovação deve ser feita de fora para dentro com a participação dos cidadãos e empresas, ouvindo as suas necessidades». Além disso, «é preciso estar atento às inovações que se passam em outros sectores e à inovação dentro de portas, dando novas competências aos funcionários públicos».

Sobre o objectivo da inovação, Sara Carrasqueiro disse que «deve visar a melhoria da administração pública, mas também trazer valor e inovar a própria economia e sociedade através das soluções que desenvolve». A responsável mostrou alguns projectos de inovação da AMA, como a plataforma transversal para o sector para iniciativas participativas com recurso a blockchain e open source, participa.gov; o LabX, o laboratório de experimentação da administração pública; e o Autenticação.Gov, plataforma que permite a identificação electrónica e criou a Chave Móvel Digtal – usada por mais de 1,5 milhões de portugueses para se identificarem nos serviços públicos e em alguns privados.

Sara Carrasqueiro terminou a referir que a inovação nos serviços públicos é feita «através da melhoria das competências dos funcionários públicos, da organização interna do Estado e dos serviços públicos e para facilitar a vida aos cidadãos, originar poupanças na administração, ajudar na redução do uso de carbono e na geração de novo conhecimento, como por exemplo, disponibilizando dados abertos para que sejam reutilizados por outras pessoas, empresas e a academia e fazerem evoluir a economia».

Os líderes da digitalização e da inovação
A transformação digital é uma definição muito ampla, mas «é também a capacidade de gerar um caudal de inovação que transporta a empresa daquilo que ela é no presente para o que será no futuro e isso requer um igual caudal de mudança», salientou Jorge Portugal, general manager da COTEC Portugal. Para o responsável, essa é a tarefa da liderança: «Preparar a empresa para o futuro, num caminho que tem muitos altos e baixos, que não é isento de riscos e não é feito de forma isolada».

O general manager alertou que os líderes devem perceber que «recursos e competências» vão ser necessários para a evolução e que nem sempre isso é feito «porque se olha para o que é o negócio hoje e não o que vai ser». Os líderes têm de definir, assim, «uma estratégia de re-inovação, expansão ou reconstrução de todo o negócio».

Por outro lado, os responsáveis pela transformação digital têm de saber que «activos tecnológicos, de conhecimento e de negócio» existem nas empresas e «incluí-los a todos na discussão para gerar o plano que permite criar o caudal de inovação», realçou.

A terceira grande competência dos líderes é conseguirem gerir tensões, nomeadamente a que vai ser gerada entre o novo negócio que foi criado e o negócio que já existe.

Além disso, há um grande perigo: «As empresas julgam que estão sozinhas no mercado, o que é uma ilusão perigosa, porque na prática nunca estão sozinhas. Toda a inovação é feita em ecossistema, em conjunto com fornecedores, distribuidores e parceiros cujos interesses têm de estar alinhados». A ideia de que «a empresa não está sozinha, a abertura ao exterior e complementaridade com recursos externos é estratégica e muito poucas empresas pensam desta maneira», realçou Jorge Portugal.

Por último, o responsável da COTEC destacou a importância das pessoas e referiu que os trabalhadores da transformação digital têm de ter uma destas duas características: «Ver o que mais ninguém vê e conseguir de forma livre dizê-lo dentro da organização e/ou ser a pessoa que resolve os problemas que mais ninguém resolve e que nenhuma máquina consegue substituir».

O futuro da transformação digital «não é a tecnologia, são as pessoas e os líderes que devem criar um contexto onde estas se possam desenvolver e ver o que mais ninguém vê e de resolver problemas», concluiu.