Hidrogénio é a nova aposta
O relatório ‘Energy Technology Perspectives 2020 (ETP 2020)’ diz-nos como enfrentar o desafio dos activos de energia de longa duração que já operam em todo o mundo – incluindo fábricas de carvão ineficientes, siderúrgicas e fornos de cimento, muitos dos quais foram recentemente construídos em economias asiáticas emergentes e podem operar nas próximas décadas. O documento conclui que, juntos, o sector de energia e os sectores da indústria pesada respondem por cerca de 60% das emissões actuais da infra-estrutura energética existente. No relatório lê-se que em 2050 essa participação sobe para quase 100% se, entretanto, nenhuma acção for tomada para gerir as emissões dos activos existentes, ressalvando a necessidade de um rápido desenvolvimento de tecnologias como hidrogénio e captura de carbono.
«Garantir que novas tecnologias de energia limpa estejam disponíveis a tempo para as principais decisões de investimento será fundamental», lembra Miguel Freitas. Em indústrias pesadas, por exemplo, investimentos estrategicamente ponderados podem ajudar a evitar cerca de 40% das emissões cumulativas da infra-estrutura existente nesses sectores. «A inovação acelerada é crucial para isso – e para ampliar as tecnologias de energia limpa necessárias em todo o sistema energético».
A IEA espera que o hidrogénio desempenhe um papel amplo e variado em ajudar o mundo a atingir emissões líquidas de zero, formando uma ponte entre o sector de energia e as indústrias onde o uso directo de electricidade seria um desafio, como no aço e no transporte marítimo. No Cenário de Desenvolvimento Sustentável da IEA – um caminho para alcançar as metas internacionais de energia e clima – a capacidade global dos electrolisadores, que produzem hidrogénio a partir da água e electricidade, expande-se para 3300 GW em 2070 – actualmente são 0,2. Segundo a agência, em 2070, esses eletrolisadores vão consumir o dobro de eletricidade que a China gera hoje em dia.
IoT e Big Data na corrida
Por outro lado, o futuro da energia passa, certamente, pela adopção de tecnologias inovadoras, como a Internet das Coisas, o Big Data, as redes inteligentes, os medidores inteligentes e o processamento na nuvem. «Essa transformação é fundamental para a implantação de cidades inteligentes, com redes eléctricas inteligentes e automatizadas, controlo da distribuição e redução dos tempos de falhas», diz António Miguel Valadas, analista de sistemas.
Para este profissional, o futuro da energia está na mudança de um modelo único de alimentação centralizada, que ainda predomina em muitos países, para modelos descentralizados, baseados em redes bidireccionais entre consumidores e fornecedores. «Actualmente, quando a distribuição energética de uma fonte centralizada falha, ela prejudica o abastecimento de toda a rede». O problema parece estar no facto de o setor de energia enfrentar dificuldades típicas da gestão de projectos longos e complexos, especialmente relacionados com altos investimentos, uso de tecnologia avançada, gestão de riscos, requisitos regulatórios, infra-estrutura, logística, além da preocupação com impactos ambientais.