brand.ITOpinião

Como olhar para a investigação básica numa empresa em rápido crescimento

Artigo de Opinião de Dr. Walter Weigel, Director of Technology Planning & Cooperation Department of the European Research Institute, Huawei Technologies

1. Huawei e a estratégia em tecnologia

Quando a Huawei iniciou uma pequena empresa em 1987, a posição da tecnologia ainda não tinha a relevância que tem hoje. Inicialmente, os produtos tinham de ser competitivos no sentido de que as propriedades tecnológicas tinham de estar ao nível dos outros produtos da concorrência. Para alcançá-lo, a melhor estratégia em tecnologia tem de corresponder à designada estratégia do rápido aumento de seguidores. Esta estratégia está orientada para o número um e para o número dois no mercado e para uma avaliação das propriedades dos produtos associados.

A ideia nesta estratégia do rápido aumento de seguidores é a de se ser capaz de apresentar uma solução nova logo a seguir ao número um e ao número dois no mercado. Se se for muito lento, a oportunidade de mercado aberta já terá fechado. No entanto, por outro lado, podemo-nos concentrar, do ponto de vista da I&D, na investigação aplicada e no desenvolvimento de produto, não havendo necessidade de investir na investigação básica ou até fundamental. A concentração numa investigação mais fundamental de acordo com o necessário para o Horizon 3 (ver Fig. 1) e para o seu investimento é primordialmente feita pelo número um e pelo número dois no mercado.

Fig. 1: A alquimia do crescimento; fonte: McKinsey, 1999

2. Direções da investigação

Derivadas dos nossos negócios principais orientados para os consumidores, redes de comunicação e TI, temos de nos perguntar que tecnologias desempenharão um papel crucial nos próximos 5 a 15 anos. A investigação de curto prazo deverá ser feita por nós próprios, mas a investigação de médio prazo já deverá ser feita em cooperação com parceiros e a investigação de longo prazo deverá ser subcontratada no âmbito dos nossos parceiros.

Ao olhar também para as potenciais tecnologias disruptivas no horizonte, nós podemos agrupar três questões fundamentais:

 2.1 O que é necessário investigar para um futuro sistema de comunicação?

Fig. 2: O desafio para as operadoras de telecomunicações; fonte: PwC Telecommunications Trends Report

As operadoras de telecomunicações enfrentam, desde há anos, o desafio de diminuir a receita por utilizador enquanto os investimentos em novas redes aumentam. Uma direção na investigação é reduzir significativamente os custos operacionais das redes ao fazer uso das tecnologias de Inteligência Artificial. Outra abordagem é reduzir o consumo de energia para reduzir o valor faturado para a eletricidade.

2.2 O que investigar considerando que a lei de Moore está a entrar em saturação e a arquitetura clássica de von-Neumann já não se encaixa em muitos casos de utilização, em especial na IA?

Fig. 3: Comparação de chips de CPU com o cérebro humano; fonte: IBM

Para as CPU tradicionais, a frequência clock e a densidade energética aumentam com o tempo, mas o nosso cérebro permite-nos, com 1011 neurónios, ter uma potência computacional comparável de 100 GFLOPS com apenas 20 W de consumo energético. Portanto, há obviamente espaço para melhorar.

 2.3  O que investigar para dar lugar a uma potencial “era pós-smartphone”?

A Fig. 4 ilustra um cenário onde o telefone portátil (de mão) é substituído principalmente por óculos inteligentes que mantêm as mãos livres e permitem aplicações de realidade virtual. Os dispositivos auriculares servem de interface para os serviços e também podem traduzir idiomas falados. As pessoas que ainda prefiram os dispositivos portáteis (de mão) utilizam dispositivos flexíveis e dobráveis, que são muito confortáveis de utilizar, e os minidrones podem tirar do ar selfies do proprietário.

Fig. 4: Um cenário para os consumidores do futuro; fonte: Huawei

Este cenário relativamente simples requer muitas tecnologias novas e muito avançadas a nível de materiais, ótica, ecrãs, baterias e sensores, entre outros.

Está ainda subjacente uma tecnologia horizontal que será um facilitador-chave em termos de consumo, em futuras redes de comunicação e na operação em nuvem, mas também tem ligações diretas a um “reboot computing”, nomeadamente a Inteligência Artificial. Pode revolucionar a utilização e os serviços de dispositivos de consumo, pode reduzir o OPEX de operações de rede e em nuvem, mas também pode dar respostas a algumas questões básicas sobre a tecnologia 6G, por exemplo, a IA para estimar a ligação de rádio, para construir novos codificadores ou melhorar a localização. Portanto, temos de olhar para a IA como uma verdadeira tecnologia-chave de viabilização que requer o máximo de atenção.

3. Conclusões

Partindo do princípio de que iremos precisar de excelentes parceiros em investigação para dominar esta tecnologia-chave de viabilização, podemos ver na Fig. 5 que, nos últimos 20 anos, a Europa teve muito mais publicações sobre a IA do que qualquer outra região do mundo. Uma das razões é que a Europa começou muito cedo a investigar a IA (há mais de 40 anos), e a outra é que a Europa está a adotar uma abordagem holística que envolve também ciências SSH não técnicas. Portanto, a Europa constitui uma fonte única de investigadores de alto nível em IA que podem cooperar e participar neste excelente ecossistema de investigação.

Fig. 5: Publicações sobre a IA: Europa vs China, EUA e outras regiões; fonte: Scopus

Partindo de uma perspetiva mais genérica, a análise das principais tendências da tecnologia pela acatech na Alemanha (a Fig. 6 ilustra as mudanças nas tendências entre 2018 e 2017) mostra quais as direções previstas pelos principais investigadores europeus. Muitas delas, como “IA em produtos e sistemas de produção”, “E-saúde e Big Data na medicina”, “Segurança e resiliência em sistemas de rede inteligentes”, “Tecnologia quântica” e “Dinamização automatizada e autónoma”, estão associadas às TI e tecnologias de comunicação.

Figura 6: As 10 principais tecnologias do futuro de 2018 vs 2017; fonte: acatech – Academia Alemã de Ciências Técnicas

Olhando de um modo mais aprofundado para o futuro, a Fig. 7 apresenta as “10 tendências na configuração da era digital” a partir de uma perspetiva europeia. Na linha do pensamento acima descrito está, p. ex., a mudança de uma inovação incremental para uma disruptiva, daí uma investigação de longo prazo, da importância das patentes para a importância dos dados ou a tendência de uma estandardização para uma personalização (não no sentido dos padrões de comunicação) e a mudança de start-ups para a expansão de novas empresas.


Fig. 7: Resultados de um estudo do Centro Europeu de Estratégia Política de 2018; fonte: Centro Europeu de Estratégia Política

Por último, mas não menos importante, a Comissão Europeia está a preparar o novo Programa-Quadro denominado Horizon Europe com um financiamento de aprox. 80 mil milhões de euros com início em 2021. Como Huawei, com base na nossa investigação em tecnologia, encontramo-nos na posição ideal para sermos um contribuidor importante, apoiando, como um bom “cidadão europeu”, em particular a agenda digital e o negócio verde.