A 22.ª edição do evento da consultora em Portugal abordou novamente a transformação digital e registou quase 1500 participantes, o que demonstrou ser um número elevado para o Centro de Congressos do Estoril.
Gabriel Coimbra, group vice president e director-geral da IDC Portugal, explicou que a nível global, «45% das duas mil maiores organizações já tem o digital na estratégia de negócio, o que significa que já estão a transformar o negócio usando o digital», ou seja, a transformação digital está de facto a acontecer.
Os dados da IDC revelam que, em Portugal, «35% das grandes empresas já têm de alguma forma o digital na estratégia de negócio» e o responsável atribui o facto às mudanças ocorridas nos últimos três anos: «Passámos de poucas empresas terem o digital presente na sua estratégia para mais de um terço a embeberem o digital no negócio, mas precisamos de fazer mais». O director-geral da IDC Portugal salientou que «para a maioria das grandes empresas o digital já não é uma questão. A sua dificuldade é mesmo escalar essa transformação de forma eficaz».
Escalar é palavra de ordem
O momento actual é de «hipervelocidade, hiperescala, hipersescalar», em que a transformação digital «não é apenas usar a tecnologia, mas sim usá-la em alta velocidade, conectada e em escala», pelo que é «muito difícil as empresas serem competitivas se não forem digitais e globais», disse. Esta é uma realidade que a que as organizações nacionais terão de se habituar conforme indicam os dados da IDC: até 2022 mais de 60% do PIB global será digital e no próximo ano, mais de 50% da economia estará digitalizada, mas, em Portugal, essa percentagem será apenas de 35%.
«O facto de as empresas terem o digital na estratégia não significa que estejam necessariamente a ser bem sucedidas já que podem não estar a ganhar escala e a lançar novos produtos e serviços digitais, assim há um gap grande entre Portugal e o resto do mundo que é preciso diminuir, para não ficarmos para trás». Mas nem tudo são más notícias: apesar de a previsão do crescimento do investimento em TI ser de 2,2% para o próximo ano, os «projectos de transformação digital estão a crescer mais de 10% em Portugal».
Sobre os sectores mais e menos avançados nos processos de transformação digital no País, «as telecomunicações, banca e seguros são os que têm mais maturidade» e «a indústria, o retalho e administração publica são os que estão mais atrasados em relação à Europa e ao mundo».
Empresas do futuro
«O futuro das organizações passa pela tecnologia, pela empatia com clientes e envolvimento dos colaboradores», foi a mensagem de Serge Findling, vice president of research & digital transformation da IDC. O responsável referiu que as empresas do futuro devem «evoluir e investir em cinco dimensões – cultura, customer experience, trabalho, inteligência e operações – para conseguirem ser competitivas».
A IDC considera que a dimensão mais crítica para o sucesso da transformação digital é a do trabalho (a empresa chama-lhe ‘Future of Work’) e Gabriel Coimbra explicou porquê: «Hoje as organizações têm de conseguir trabalhar de uma forma diferente da que trabalhavam no passado e, por isso, há três drivers fundamentais mas que são também desafios: captar e reter talentos; as tecnologias para apoiar novas formas de trabalho, como o remoto; e aceitar a tecnologia como mais um colaborador da organização, ou seja, a capacidade de as pessoas de trabalharem com as máquinas».
Cinco gerações a trabalhar
‘Future of Work’ foi também o tema abordado por Paula Panarra, a directora-geral da Microsoft, que referiu que «a mobilidade no trabalho é cada vez mais uma realidade, mas também o trabalho colaborativo, seja em equipas dentro da organização, externas e em diferentes geografias». No entanto, Paula Panarra considerou que o factor mais diferenciador é a «co-existência de cinco gerações no local de trabalho». A CEO disse que «isso origina experiências e expectativas diferentes de trabalhar e que por isso os líderes têm de estar preparados para esta mudança», já que a atracção e retenção de talento «passa agora pelo propósito da empresa e pela cultura organizacional».
A estratégia tem de ser «holística e integrada na relação com o cliente, na capacitação dos colaboradores, na utilização da tecnologia como um enabler e na optimização das operações para criar as eficiências que depois permitam transformar os negócios». Paula Panarra esclareceu que a Microsoft está a desenvolver tecnologias que assentam em quatro grandes pilares para transformar as empresas e os processos de trabalho: «A colaboração, a mobilidade, a inteligência e a confiança».
A responsável acrescentou que a confiança «é de vital importância e pressupõe uma base de princípios de ética, segurança e privacidade que têm de estar presentes na forma como se usa a tecnologia para fazer a transformação dos negócios e das organizações».
Low-code vai ser fundamental
Segundo a IDC, até 2024 deverá surgir uma nova classe profissional, na área do desenvolvimento de software, capaz de produzir código sem scripts personalizados, o que será fundamental para as empresas se transformarem. Rui Pereira, co-fundador e VP de digital transformation da Outsystems, mostrou que é isso mesmo que a empresa almeja com a sua plataforma de low-code, ou seja, «criar as bases para qualquer pessoa dentro de uma empresa consiga criar aplicações sem ter de recorrer à equipa de TI». O responsável disse que, actualmente, «todas as empresas são empresas de software, só que ainda não sabem» e que a abordagem da Outsystems será particularmente «importante em países, como Portugal, em que os recursos técnicos são escassos», já que todas as organizações vão ter «de ter aplicações de negócio, produtos e serviços de base tecnológica».
Gabriel Coimbra revelou ainda que a próxima edição do Directions vai mudar de espaço, já que a actual localização já se torna pequena para aquele que é sem dúvida o maior evento da IDC em Portugal.