Além Fronteiras

IFA 2019: sob o signo do 5G

Foram 245 mil as pessoas que se deslocaram a Berlim para mais uma edição da IFA, uma das mais importantes feiras internacionais de electrónica de consumo que este ano teve como principal foco o 5G e a sustentabilidade.

IFA 2019 - Eingang Süd -

Número recorde de expositores, de novos produtos e de visitantes do comércio internacional e um óbvio interesse dos meios de comunicação social, com a presença de 2800 jornalistas de 160 países. A edição de 2019 da IFA, feira de electrónica de consumo que decorreu em Berlim no principio de Setembro, descreveu o futuro do 5G e da sustentabilidade e teve uma série de eventos paralelos, como o IFA Next, com o Japão a ser o primeiro parceiro global de inovação, o IFA Shift, um espaço que explorou o futuro da mobilidade e o IFA Global Markets.

Ao todo foram mais de dois mil os expositores presentes e 245 mil os visitantes, sendo que mais de 50% dos que se deslocaram à IFA foram profissionais de outros países, que não a Alemanha. Três grandes tendências tecnológicas dominaram a IFA em electrónica de consumo: voz, inteligência artificial e conectividade, especialmente devido ao rápido lançamento de redes móveis 5G de alta velocidade e alta largura de banda.

Duas palestras da IFA – do CEO da Huawei Richard Yu e do presidente da Qualcomm Cristiano Amon – focaram-se nas forma como a conectividade 5G pode levar o poder da inteligência artificial até ao limite da computação, seja nos dispositivos, nos veículos ou nas aplicações industriais.

O tema para a expansão 5G da Qualcomm é «tudo está ligado», com dispositivos vinculados à nuvem para fornecer acesso ilimitado aos dados e melhor poder de computação. Enquanto o 4G atendeu à necessidade de transformação do sector do desktop para o móvel, Amon diz que o 5G resolverá novos tipos de problemas, melhorando a conectividade entre dispositivos. «Tudo será beneficiado por estar conectado», previu.

Uma grande ênfase para o desenvolvimento 5G está na transmissão de vídeo, que Amon diz ser o futuro do entretenimento. Seja para assistir a vídeos em alta definição do YouTube ou para conversar com amigos ou familiares, a ideia é activar a reprodução em HD em dispositivos móveis a partir de qualquer lugar. As aplicações também beneficiarão ao descarregar os seus requisitos de processamento dos telefones para a nuvem.

Adeus, consolas
O outro grande alvo do 5G são os jogos. A Qualcomm está de olho nas consolas, com Amon a anunciar ousadamente que a empresa está a trabalhar para tornar a próxima consola de jogos… na última consola. Com a capacidade de descarregar pesados jogos em segundos e transmitir jogos para dispositivos móveis, os smartphones 5G estão a “atacar” precisamente o mercado das consolas. Jogos a ‘sério’ em dispositivos móveis já estão a caminho graças a uma parceria entre a Microsoft e a Sony para lidar com jogos baseados em nuvem e, é claro, o próximo serviço Google Stadia.

Outro objectivo da empresa norte-americana é disponibilizar o 5G para mais utilizadores, especialmente aqueles que vivem em regiões rurais com baixa conectividade de banda larga. O primeiro passo é a introdução do módulo de antena de onda milimétrica (mmWave) que trará o 5G para casa. Com o acesso sem fio 5G, existe uma alternativa à fibra que é mais adequada para áreas mais remotas.

Anthony Wood, CEO da Roku (empresa que alimenta um terço de todos os decodificadores nos Estados Unidos) usou a sua palestra para descrever a sua visão de como o streaming dominará a experiência de TV e anunciou a expansão da sua empresa para o Reino Unido, para além dos planos de expansão a outros países europeus.

Hakan Bulgurlu, CEO da Arçelik, dedicou a sua keynote a exigir acções da indústria contra as mudanças climáticas e o desperdício de plástico.

O poder da inovação
O centro de inovação da IFA – o IFA Next – também estabeleceu novos recordes com mais startups e líderes em inovação do que nunca, espalhados por dois corredores, ao lado de institutos de pesquisa de países como Alemanha, Japão e Coreia. Este ano, a IFA Next recebeu o Japão como primeiro país parceiro de inovação global. No pavilhão do Japão estavam representadas as mais recentes ideias e inovações sobre como as máquinas e os seres humanos podem interagir.

Keita Nishiyama, do Ministério de Economia, Comércio e Indústria do Japão disse na conferência esperar que a interface do Japão ‘Consideração e Sensibilidade’ tenha inspirado os visitantes da IFA a abraçar o futuro e continuar o caminho da inovação. «Como país parceiro da IFA Next estamos ansiosos para manter contacto com os vossos mercados».

O CEO da Messe Berlin, Christian Göke, disse aos jornalistas que a IFA mostrou mais uma vez o «poder da co-inovação em que inventores de diferentes sectores e indústrias se inspiram». O responsável alertou que guerras comerciais, barreiras comerciais e barreiras políticas prejudicariam os consumidores não apenas tornando os produtos mais caros, mas também diminuindo a inovação. Escolhendo um tema desenvolvido numa das palestras mais famosas da IFA, por Albert Einstein, em 1930, o Göke disse que, nos dias de hoje, Einstein provavelmente «chamaria as melhores e mais brilhantes mentes do mundo, sejam elas quem forem, e onde quer que morem, seja qual for o país que chamam de lar, para reunir conhecimento e co-inovar para criar um mundo melhor».

O director executivo da IFA, Jens Heithecker, mostrou-se impressionado com o nível de inovação. «À medida que o número de expositores cresceu, a qualidade e a quantidade de inovações igualmente aumentaram, assim como o número de estreias de produtos que foram mostrados aqui em Berlim».

Um mercado em dificuldade
Pela primeira vez em muito tempo, a conferência de imprensa de abertura da IFA 2019 “pintou” um mercado global de electrónica de consumo em dificuldades. Os dados do primeiro semestre do ano mostraram que as vendas do sector foram de 450 mil milhões de euros, uma queda de 2% em relação ao ano anterior. Dito isto, a GFU, a associação responsável pela organização desta feira anual, prevê que o sector termine o ano com um “empate” nas vendas de electrónica de consumo até o final do ano, com pouco mais de um bilião de euros.

No lado dos negócios, as coisas estão relativamente boas. De acordo com dados da conferência de imprensa, os pesquisadores de mercado esperam que os pequenos aparelhos eléctricos cresçam a um ritmo de cerca de 9,4%, para pouco menos de noventa mil milhões de euros, enquanto as vendas de grandes aparelhos eléctricos crescerão 2,2%, para pouco menos de 182 mil milhões. Números estes que preveem o clima político global que inclui impactos económicos do Brexit, guerras comerciais e outras agitações políticas.

De acordo com o presidente do conselho fiscal da GFU, Hans-Joachim Kamp, a força relativa do mercado de electrónica de consumo e electrodomésticos – dados esses factores externos – é colocada à prova em feiras como esta.

«A história de sucesso da IFA é sustentada pela constante inovação nestes sectores e pela sua agilidade para reagir às necessidades dos consumidores», afirmou. «A IFA continua a ser a plataforma mais importante do mundo para a electrónica de consumo e electrodomésticos e é um factor essencial para o crescimento e a inovação de nossas indústrias. Durante seis dias seguintes, expositores, visitantes comerciais, meios de comunicação e público em geral verão mais inovação e novos produtos do que nunca».

Mercado das TV em alta
Uma área em particular que Kamp chamou de uma grande oportunidade para os retalhistas é a indústria de electrónica de consumo relacionada com os televisores. O responsável acredita que, com uma melhor coordenação e estratégia de preços mais forte no mercado, os retalhistas e fabricantes podem acabar com as margens em declínio apresentadas pelo sector de TV.

Para esse fim, os dados desta indústria mostram que os consumidores estão a comprar televisões topo de gama a uma taxa crescente e demonstraram que estão dispostos a gastar mais com este tipo de equipamentos. No entanto, a indústria viu o preço médio de venda dessas TV de última geração (modelos UHD e OLED) diminuir em 11% cada. Outra oportunidade apresentada durante a palestra de abertura da IFA 2019 foi o hardware de jogos, o que não surpreende já que os dados da GfK mostram que o valor total esperado deste mercado em 2019 é de 12,4 mil milhões de euros).