Em Foco

A Revolut(ão) da banca

Durante um ano “abandonámos” a banca tradicional e usámos para (praticamente) tudo as contas oferecidas pelas fintech. N26, Revolut, Monese e Denizen foram os produtos eleitos. Depois de alguns calafrios e rostos corados por ‘cartão rejeitado’, a britânica Revolut foi sem dúvida aquela que nos proporcionou a melhor experiência. E já não vivemos sem ela.

Há precisamente um ano, em Agosto, publicávamos uma reportagem sobre o ‘Dinheiro nas Nuvens’, dedicado às fintech, um segmento dinâmico que está na intersecção dos sectores de serviços financeiros e tecnológicos. Aqui, há startups focadas em tecnologia, novos players que estão trazer inovação aos produtos e serviços actualmente fornecidos pela indústria tradicional. Além disso, não têm qualquer espaço físico onde nos podemos deslocar para depositar dinheiro ou até reclamar.

Nesse trabalho, explicámos o que eram as fintech, fornecemos algumas estimativas de mercado e demos a visão de três meses de experiência, então apenas dos produtos da britânica Revolut e da alemã N26. Mas três meses é uma janela de tempo muito pequena para poder afirmar com alguma certeza qual a fintech que proporciona a melhor experiência. Resolvemos então ampliar a experiência a um ano, tentando usar ao mínimo a banca “tradicional” portuguesa. Houve agradáveis surpresas (muitas), calafrios (alguns) e alguma vergonha à mistura.

A fazer, que seja em grande
Quando começámos a “desenhar” a reportagem, resolvemos tornar a experiência o mais “real” possível, não olhando para tudo isto como um trabalho, mas como fazendo parte do nosso dia-a-dia financeiro. Assim, durante os últimos doze meses, a banca tradicional não nos serviu para mais que “recolher” o vencimento e fazer alguns débitos directos que dariam demasiado trabalho para serem alterados. «Se vão fazer uma coisa a sério, então o dinheiro que forem colocar nos produtos das fintech também tem de ser ‘sério’ senão não tem o mesmo efeito», explicava à businessIT Daniel Marinho, psicólogo e investigador na área da neurociência.

O que este profissional nos tentava explicar é que, se usássemos cinquenta euros na experiência e se corresse alguma coisa mal, mesmo inconscientemente não iríamos fazer todos os esforços para perceber o que realmente se tinha passado. Entendemos a mensagem e usámos dois mil euros, o que já nos faria amaldiçoar, fosse que nuvem fosse, caso alguma coisa corresse mal.

O medo
Questionámos Daniel Marinho sobre o porquê de naturalmente nos mostrarmos desconfiados quando nos apresentam um produto totalmente grátis – todas as fintech que mencionamos acima têm uma versão sem qualquer custo associado, desde cartão de débito a despesas de gestão. «Não é por acaso que existe o provérbio ‘quando a esmola é grande o pobre desconfia’. Além de que estamos a falar de algo altamente sensível como as finanças pessoais. Estes produtos, por muito bons que até possam ser, por muita segurança que até possam prometer, são basicamente virtuais. Se alguma coisa correr mal não posso ir lá, olhar uma pessoa nos olhos e dizer o que penso. Não é que provavelmente isso fosse adiantar alguma coisa, mas o impacto que tem em nós é distinto».

Aliás, Daniel Marinho dá um exemplo: ainda hoje, fora dos grandes centros urbanos, ainda há quem guarde quantidades «insanas» de dinheiro em casa com medo que aconteça alguma coisa ao banco. «Estamos claramente num período de transição. Provavelmente daqui a um par de anos todos estes receios deixam de fazer sentido e outros tomam o seu lugar. Neste momento, o importante é que haja boas experiências que validem a confiança no sistema, como de resto aconteceu com a banca tradicional».