No Cisco Live Europe, que decorreu em Barcelona, foram ampliadas as capacidades do centro de dados além do local físico para permitir a inovação de aplicações. Falou-se muito em IoT (mostraram-se casos práticos) e abordou-se a multicloud.
A Cisco é basicamente como a Sagrada Família, em Barcelona, cidade que acolheu este mês o Cisco Live: apesar de criada em 1882, está eternamente em construção. Tal como a abordagem da Cisco System à rede, mencionava a revista Forbes.
Fundada em 1984 pelos estudantes de Stanford, Len Bosack e Sandy Lerner, a Cisco adaptou-se e cresceu ao longo das últimas três décadas — tanto organicamente, como através de aquisições estratégicas como a Meraki para ganhar escala maciça no mercado.
O mesmo poderia ser dito relativamente à caminhada da empresa pela arquitectura de rede intuitiva (ou Redes Baseadas em Intenção, do inglês Intent-Based Networking). Quando a estratégia foi anunciada pelo CEO Chuck Robbins, em Junho de 2017, a Cisco disse que a rede era o futuro da empresa. Inicialmente, os especialistas estavam um pouco cépticos e as críticas fizeram-se ouvir. Mas nos últimos dezoito meses foram acrescentados recursos significativos de uma perspectiva de análise, segurança e garantia. No evento de Barcelona, a Cisco continuou a ganhar impulso por trás da sua ‘rede intuitiva’, com um conjunto de soluções de Internet das Coisas (IoT) e apoio a um modelo de data center distribuído.
O congresso europeu da Cisco centrou-se sobretudo em novidades que proporcionam mais liberdade na gestão de dados e nas aplicações corporativas.
Em todo o lado, em todas as plataformas
Entender as amplas capacidades tecnológicas do centro de dados além dos limites físicos do mundo real será essencial para apoiar a inovação em torno das aplicações, de acordo com a Cisco. Neste evento anual, que reúne clientes e parceiros, a empresa estabeleceu uma visão de ‘data center em qualquer lugar’ e introduziu uma gama de inovações que abrangem redes, hiperconvergência, segurança e automação.
A Cisco disse que a ‘nova era’ de aplicação estava a redefinir a essência dos data centres, o que eles suportam e, mais importante, o que eles devem ser capazes de suportar. Neste mundo, o data center deixa de ser um lugar e, como tal, existe onde os dados estão a ser criados, processados e usados.
«As empresas devem ser capazes de desenvolver aplicações com base nas necessidades dos seus negócios e não nas limitações da sua tecnologia”, disse Roland Acra, vice-presidente sénior e director-geral do Datacenter Business Group da Cisco. «Os clientes desejam desenvolver aplicações e gerir dados em diversas plataformas, desde locais a baseados em nuvem. É por isso que estamos a retirar o ‘centro’ do data center. Hoje, a Cisco está a ajudar os clientes a expandir o seu alcance em todas as nuvens, em todos os centros de dados e em todas as filiais».
David Goeckeler, vice-presidente executivo e director-geral dos negócios de segurança e redes da Cisco, apelidou os últimos anúncios da empresa como o ‘reinventar a rede’, resultado de uma “transformação” de dezoito meses na organização da Cisco.
«As redes tradicionais não foram construídas para esse ambiente», disse. «É um ambiente muito mais dinâmico. Isso está a levar-nos a repensar cada domínio de rede existente».
O poder da IoT
Nesta altura, IoT é um termo “acarinhado” pela indústria das tecnologias, apesar de muitos dos processos ainda estarem em provas de conceito (PoC). Mas, em Barcelona, a empresa norte-americana esforçou-se por trazer casos de estudo reais que demonstrassem o valor tangível, a transformação e a experiência do utilizador, algo que agradou aos presentes, pelo menos pelo eco que teve nas “revisões” dos analistas.
A Cisco conta hoje com quase cinquenta mil clientes que implementam uma combinação de hardware de IoT e soluções de rede definidas por software – um exemplo é o porto de Roterdão, que gere diariamente o movimento de milhares de contentores e quer permitir o tráfego autónomo até 2030.
Para acelerar o ritmo nestas áreas, a empresa anunciou várias iniciativas, incluindo uma extensão da sua linha de produtos Catalyst, um programa de canal que «permite o sucesso dos parceiros» e recursos DevNet, que ajudam a acelerar o desenvolvimento e ampliar o alcance da Cisco.
A oportunidade das TO
O mundo tradicional das Tecnologia da Informação colheu os benefícios da rede definida por software, oferecendo uma melhor gestão, escalabilidade e segurança, dizem os analistas. No entanto, também defendem que no espaço das Tecnologias de Operações (TO), muitas vezes as funções de manufactura e logística não estão ligadas à rede ou estão sob topologias proprietárias, complexas e repletas de riscos de segurança.
A Cisco propõe mudar isso através de um esforço de recrutamento de parceiros e usando a sua própria base instalada de TI para descobrir oportunidades de conectividade de TO. Também está a aproveitar o seu sistema operacional IOS XE e o software Kinetic para vincular TI e TO através de uma estrutura comum, para fornecer visibilidade e percepção de todos os dispositivos.
Do lado da TO, uma das transformações mais significativas será a manutenção preditiva para o fabrico de equipamentos, garantindo menor tempo de inactividade e maiores rendimentos. A Cisco usou como “prova” o seu trabalho com o Zeiss Group, empresa alemã com 170 anos de história em óptica e equipamentos médicos. O grupo utiliza a tecnologia da Cisco para monitorizar e gerir mais de cinco mil máquinas em todo o mundo.
Além dos datacenter
Foram ainda anunciados melhoramentos destinados a libertar o data center tradicional em silos. Isso envolve a expansão da ACI (Application Centric Infrastructure) da Cisco para as nuvens públicas da Amazon Web Services e do Microsoft Azure. Graças a este novo recurso é agora possível controlar a implantação automatizada e a gestão de aplicações empresariais, mas dando aos clientes a possibilidade de estendê-los para o modo de nuvem pública.
A família de soluções hiperconvergentes passa também a estender-se além do data center, através do HyperFlex Edge, projectado para cobrir posições remotas (escritórios, filiais…), onde não são necessárias grandes capacidades de computação inicial, mas tendem a aumentar com o passar do tempo. Esta extensão basicamente permite dimensionar recursos com facilidade, garantindo o investimento inicial e a compatibilidade com datacenters baseados em arquitecturas abertas. Os ambientes multicloud podem agora ser geridos e orquestrados «de forma mais eficaz» através da forma CloudCenter, o que facilita o controlo do ciclo de vida das aplicações usadas pelas empresas.
Por fim, uma nova fórmula para consumir os recursos de arquitectura para centros de dados do fabricante foi também disponibilizada aos clientes da Cisco. Com essa modalidade, os utilizadores podem adquirir e gerir a tecnologia de forma unificada por meio de um único contrato de licença padrão.