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Building The Future: a estratégia da Microsoft para dar inteligência artificial às empresas nacionais

A Microsoft organizou a primeira edição do Building The Future, um evento anual que tem como objectivo ‘Ativar Portugal’ e ajudar as organizações a melhorar o seu desempenho através do uso de soluções de inteligência artificial (IA).

Especialistas, startups e parceiros. A Microsoft reuniu todos no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, para explicar de que forma a IA pode ser benéfica para os negócios e deve ser uma aposta para o futuro.

Jim Stolze, da Singularity University, abriu a conferência e explicou que «quando se fala de transformação digital, o ênfase deve ser dado à palavra transformação», uma vez que a «maioria das organizações apenas usa processos que já existem e torna-os digitais, o que não é inovador». Assim, «quando existe digitalização de algo, esse processo ou produto deve perder as limitações do mundo físico» e isso sim é «transformação». O especialista em IA sublinhou o exemplo da Netflix como um verdadeiro caso de transformação digital com base em dados e em inteligência artificial. Jim Stolze disse ainda que as empresas não precisam de «mais dados», mas sim de «melhores dados» e de «insights» e que «só é possível transformar dados em informação através de IA». Na sua apresentação, Stolze lembrou «é preciso usar algoritmos de machine learning nos dados para descobrir o sinal no meio do ruído» e que foi isso que a Netflix fez: «A transformação digital dos dados num produto que recomenda novas séries e filmes aos utilizadores».

O orador deixou, ainda, uma mensagem às empresas portuguesas: «Não devemos ter medo do machine learning, mas sim aceitá-lo, já que nos dá o poder de oferecer aos clientes o que eles querem e quando querem». Desta forma, «a única coisa que devemos recear é o uso irresponsável» dessa tecnologia. Para o empreendedor, a IA deve ser usada com «justiça, rigor, confidencialidade, transparência, para retirar valor» e «criar um futuro melhor para todos».

IA como “motor” das empresas

Matteo Colombo, executivo da KPMG Lighthouse – Centro de Excelência de Data & Analytics, revelou que «os departamentos de IA das empresas devem incluir as áreas de inteligência artificial, analytics e automação, já que são todas convergentes».

O responsável também referiu que, segundo a IDC, 94% das empresas acreditam que «a IA é fundamental para ter vantagem competitiva». Já quando se fala em sectores de actividade, Matteo Colombo usou os dados do estudo State of AI in the Enterprise da Deloitte onde se mostra que ainda há algumas áreas que investem pouco em IA e que têm pouco retorno: os sectores público, financeiro, segurador e de bens de consumo são exmeplo disso.

Depois há indústrias como a manufactura em que o investimento é baixo, com grande retorno, já que a IA é usada «essencialmente na automação e manutenção preditiva». Por último, estão as empresas de tecnologia, entretenimento e telecomunicações que fazem grandes investimentos mas conseguem retirar muitos benefícios. «O que as organizações baseadas em IA querem alcançar, transversal a quase todos os sectores, é colocar os clientes no centro do negócio, optimizar processos, melhorar os produtos e serviços e dar aos seus colaboradores a capacidade de inovar», esclareceu. Assim, não é de estranhar que o relatório indique que a maioria dos casos de uso de IA são na área de automação de TI (47%), controlo de qualidade (46%), cibersegurança (41%), analítica preditiva (38%) e serviço ao cliente (37%).

Transformar os negócios

De acordo com Matteo Colombo, «90% dos CIO já usam machine learning na sua organização» mas apenas «3% estão a fazê-lo em toda a empresa». Isso deve-se aos «grandes desafios que enfrentam» e o responsável enumerou alguns: dificuldades de implementação, qualidade e disponibilidade dos dados, investimento necessário para fazer um projecto de IA de escala que inclua toda a empresa, falta de competências técnicas, mas, acima de tudo, a «dificuldade de medir o sucesso e o valor que traz ao negócio».

Já em relação à maturidade da IA nas empresas, o responsável da KPMG Lighthouse explicou que os projectos têm «três fases»: começam com uma implementação de automatismos e ferramentas preditivas, depois evoluem para um sistema mais complexo com insights mais avançados e, por fim, chega-se a uma empresa baseada em IA. Ora, neste caso, «acontece uma mudança de cultura dentro da organização» onde os «dados estão em primeiro lugar», além disso também ocorre uma «transformação nos processos de negócio e nas pessoas».

>Matteo Colombo referiu também que uma das componentes essenciais é «a governança, já que não pode existir escala sem confiança». É por isso que a Microsoft e a empresa de serviços profissionais «lançaram um framework para ajudar as organizações a controlar os dados e as políticas e dar orientação para uma utilização ética da informação».

O responsável fechou a sua apresentação com uma frase que acredita ser uma síntese do que acontece nas organizações: «Mover-se ao ritmo dos dados de forma responsável e automatizada é a linha que divide as empresas que ‘experimentam IA’ das que se ‘transformam com IA’».

A inteligência artificial nos negócios

O Building The Future foi palco de um painel que mostrou aquilo que algumas empresas portuguesas estão a fazer ao nível da inteligência artificial. Na área da banca, o Crédito Agrícola está a usar IA para «combater a fraude, prevenir o branqueamento de capitais e na área de marketing». Já em produção está um «bot para ajudar os clientes» que vai ficar disponível no site do banco, revelou Jorge Baião, CIO do Crédito Agrícola. Em relação à Nos, Jorge Graça, administrador executivo da empresa, indicou que a IA é «uma jornada que teve início há dez anos» e que é utilizada para «melhorar a eficiência» ao colocar «automatismos em processos repetitivos em que não há valor acrescentado se for uma pessoa a fazer». Além disso, a IA serve também para trazer «mais eficácia nas interacções entre máquinas» e expandir o negócio, ou seja, «não pensar só nos problemas, mas ir mais além e elevar os níveis do serviço».

Já a Navigator «tem mais de mil algoritmos que permitem aferir a produtividade das fábricas mundiais e comparar com o desempenho das unidades da empresa», disse Miguel Faria, director de inovação da empresa. Assim, a IA, «permite dar prioridade aos desafios que se colocam às equipas», acrescentou. O responsável lançou um repto às startups, PME e a todos os que «queiram trabalhar com a Navigator Company» e ser «parceiros do seu ecossistema» dizendo que as «fábricas e escritórios estão abertos para uma colaboração».

Pedro Batista dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde revelou o que está a ser feito em desenvolvimento na área da inteligência artificial por este organismo: «Reduzir a prescrição inadequada de antibióticos, uma app para diagnóstico de lesões de pele; melhorar as urgências hospitalares, o atendimento do SNS24 e o Living Lab». Esta última iniciativa quer promover a inovação no sector da saúde através da criação de um laboratório de I&D.