Entrevista

«Temos de nos preparar para novas vagas, novas inovações, novas formas de fazer negócio»

Preço, flexibilidade e segurança aliada a uma forte marca que, inspira  confiança. Esse é o segredo da Google para colocar o mundo empresarial na cloud.

Que tipo de cliente tem hoje a Google Cloud em Portugal?
Temos como clientes desde nativos digitais até empresas como a EDP.

Departamental?
Não, não, a EDP é um cliente corporativo e é o nosso melhor exemplo. Existem outros mas ainda não temos autorização para os comunicar.

Como estratificam os clientes?
Temos os ‘enterprise’, ou seja, as grandes empresas como a EDP. Temos ainda a Administração Pública, com a qual temos encetado conversações havendo já alguns ministérios em fase bastante avançada de negociação. Existe ainda o que denominamos ‘corporate’, que integra empresas com alguma dimensão, como a Unicer ou a Delta. E os tais nativos digitais.

Ou seja, a sua equipa só não aborda os particulares.
Sim. Mas ressalvo que existem hoje qualquer coisa como 1,2 biliões de utilizadores de Gmail.

Voltemos ao mercado empresarial. O que é que uma EDP tem vosso? O que contrata à Google?
O que podemos comunicar é que a EDP está a utilizar uma tecnologia de última geração de cloud, chamada App Engine, que permite aos programadores focarem-se só no desenvolvimento, tendo contentores de tecnologia por trás, sem terem de se preocupar com a gestão da infra-estrutura.
Antes, a EDP tinha uma série de aplicações direccionadas aos clientes que eram suportadas por outras tecnologias que não Google e lhes traziam vários problemas, nomeadamente à noite, com dificuldades de comunicação e manutenção. Agora usam o App Engine para desenvolver aplicações de clientes da EDP. Seja uma aplicação móvel, Web… Tudo o que tem a ver com a interface de cliente está a ser desenvolvido pela nossa tecnologia.

No final, porque é que Google ganha os contratos? É pelo preço?
Diria que o preço é importante, mas cada vez mais é uma das coisas para a qual os gestores olham sendo que, no final, não conta assim tanto para a decisão. Conta sim, a flexibilidade. De que vale ter um preço convidativo se me obrigarem a pagar, à cabeça, três anos? A flexibilidade do preço e nos modelos de contratação sim, é um factor que nos faz ganhar contratos. Outro factor é o tipo de tecnologia que disponibilizamos. Se procurarmos tecnologia de Big Data, de grande capacidade de analítica de dados, quase todas as empresas querem falar connosco e quase todas vão acabar por decidir escolher Google. Porque temos uma brutal capacidade para o fazer. Outra área onde somos fortíssimos é no Machine Learning. A marca é tão forte que nós não temos é capacidade para responder aos pedidos que nos fazem. Sobretudo nas áreas que mencionei: Big Data e Machine Learning.

O que pretendem, então, comunicar ao mercado?
Que há novas áreas onde estamos a investir. Em ambientes SAP, por exemplo. A SAP está a fazer uma grande força para migrar os seus clientes para SAP Hana, o que por vezes é complicado. Estamos neste momento a avançar com modelos muito mais flexíveis e temos todas as certificações das infra-estruturas necessárias para suportar SAP Hana. Ou seja, há outras áreas para além do Big Data e Machine Learning.

Em Janeiro assumiu a liderança desta área na Google? Onde acredita ir facturar mais?
Em Big Data, que falamos agora, em infra-estruturas e em desenvolvimento aplicacional.

Que tipo de abordagem os clientes fazem à Google?
Muito no sentido de: «Queremos fazer um projecto diferente». As empresas querem todas demarcar-se pela diferenciação, querem optimizar os seus processos de negócio e a Google tem uma proposta muito interessante nesse sentido.
Há uma outra área muito importante que é a área de produtividade. Ou seja, depois do IaaS e do PaaS temos o SaaS, com o Gsuite que, garanto-lhe, é uma das melhores ferramentas de inovação que pode haver no mercado. Aliás, todas as empresas nativas digitais, todas as startup, começam com a Gsuite.

Por quê?
Uma vez mais, por alguns dos factores de que falámos antes. A facilidade do licenciamento é uma delas. Só temos três tipos. Não temos necessidade de ter especialistas em licenciamento na Google.
Além de que é muito simples de aderir e muito simples de sair. E como é uma tecnologia que já nasceu na cloud, é colaborativa por natureza. Andei uma série de anos a utilizar outras tecnologias em que havia claramente tentativas de colaboração mas nunca desta forma. Aqui é normal estarmos a trabalhar seis, sete, oito pessoas ao mesmo tempo.
Esta tecnologia é tão disruptiva e tão interessante, até porque é nativa da era digital, que queremos insistir que isto exista nas empresas. Se as empresas nativas digitais são mais rápidas e estão a trabalhar bem com este tipo de ferramentas, porque não as outras?

E estão a conseguir?
Sim, sentimos que já nos começam a dizer que gostavam de experimentar em determinado departamento ou área.

A nível internacional, o que foi pedido a Portugal? 
Primeiro, dar visibilidade à Google Cloud, que é muito importante para a companhia e está a ser alvo de um investimento internacional muito forte. Depois, criar uma boa rede de parceiros. Esta é uma área onde vamos investir e ser extremamente criteriosos, algo que estará em permanente construção e gestão. E como parceiros falo desde as grandes alianças com os maiores integradores de sistemas mundiais a empresas de nicho locais. Claro que pediram para estruturar uma equipa e, sobretudo, criar uma dinâmica dentro do ecossistema de inovação e simplicidade de adopção às clouds.

Vão roubar quota a quem?
Directamente, acho que não vamos “roubar” quota a ninguém. Ou seja, a concorrentes. Porque acredito que apenas estamos a ver a ponta do icebergue. Há muita tecnologia que ainda está em datacenters próprios que não faz sentido estar. As empresas vão começar a questionar isso. Sobretudo em termos de segurança.

A quem reporta?
Reporto ao country manager em Portugal e a outra pessoa a nível internacional.

São, então, independentes de Espanha?
A estrutura da Google reconhece Portugal como um país individual e tem feito muitos investimentos. Na verdade, funcionamos muito em espírito de real startup. Quando queremos abraçar, de alguma forma, um projecto especial temos a adesão de várias pessoas, de várias geografias.
Num evento que tivemos recentemente em Lisboa tivemos pessoas de Israel, Estados Unidos, Itália, França, Espanha. Todos ajudam, é uma empresa que tem muito o espírito de comunidade. O que me deixa muito tranquilo porque ainda estamos a construir equipa, temos recursos limitados, daí que também os parceiros sejam muito importantes.

Como “vende” Portugal à Google para atrair investimento nesta área? Ou para atrair eventos?
Já temos conseguido alguns investimentos interessantes, como o centro em Oeiras e a unidade para formação e desenvolvimento de Android. Mas, na verdade, o que sinto é que apenas preciso dizer que sou de Portugal.
A determinada altura todos nós devemos ter feito um bom trabalho com a marca Portugal. Porque eu já sinto isso. Quando disse que gostaria de fazer o evento Google Cloud Day tive o suporte de todas as vertentes. Ninguém me perguntou: «Mas por quê em Portugal?». Não tenho sentido qualquer necessidade de “vender” o nosso País. Até porque temos muitos portugueses bem posicionados dentro da própria Google que ajudaram a promovê-lo.

Pessoalmente, o que gostava de ver cumprido?
Conseguir ver mais projectos de inovação, em todas as áreas, desde a Administração Pública às empresas. Custa-me muito ver boas ideias perdidas. Porque não há só boas ideias, inovadoras, nas startup. Gosto muito quando uma empresa tradicional inova a pensar nos seus clientes.
O tecido empresarial português tem de continuar a inovar e ser competitivo para sobreviver globalmente. Já não estamos em crise, mas ela volta. E temos de nos preparar para novas vagas, para novas inovações, para novas formas de fazer negócio. Empresas de grande sucesso desaparecem num instante.
Outra área que particularmente me encanta é o desenvolvimento de talentos, sejam directamente da minha equipa ou pessoas que possamos ajudar. E a Google pensa muita nas pessoas. Nas suas, nas do mercado e nos seus clientes. Há que humanizar o negócio.