Reportagem

Será que a banca e os seguros estão preparados para o futuro?

Seguradores querem ser relevantes para os clientes

No primeiro painel da tarde dedicado aos seguros, José Pedro Machado (Fidelidade) começou por dizer que «pensar em novos modelos de negócios na área é complicado» pois a maioria dos contactos feitos com os clientes são «para pagamentos de prémios ou em caso de sinistro», portanto, «situações negativas» nas vidas dos clientes. «É necessário revolucionar a experiência que oferecemos» e «ser relevante», acrescentou o director da seguradora portuguesa.

José Pedro Inácio, administrador da Advancare, disse que as seguradoras devem «usar toda a “data” que têm disponível para oferecer melhores soluções». Antes Gustavo Barreto, chief distribution e marketing office da Ageas Portugal referiu que o setor tem de ter uma visão orientada ao cliente para vingar «num futuro cada vez mais digital» e indicou que a Ageas está a apostar em inovação através de «analytics, chatbots, social selling e de novo ecossistema digital».

Por último, Nuno Costa da MetLife referiu que a «indústria dos seguros não quis ver que existiu uma mudança do comportamento dos consumidores» e que agora tem de «ganhar o cliente novamente». O head of direct and digital sales Iberia disse que «é preciso vender os produtos que os clientes efectivamente querem» em vez de criar produtos sem saber se estes correspondem às necessidades dos consumidores.

Falando de prevenção e sinistralidade, José Pedro Machado referiu que há alguns obstáculos, por exemplo, os sistemas de telemática dos automóveis poderiam ajudar a oferecer um seguro mais barato, mas que o «cliente é altamente desconfiado com seguradoras» e «não permite a utilização desses dados pois acha que vão ser usados contra ele».

Inovação é a chave da sobrevivência

O último painel do dia iniciou com Bruno Farinha (Petable) que mostrou que o mercado de pet care já corresponde ao dobro do valor do mercado de baby care: 109 biliões de euros.

A startup portuguesa, que disponibiliza uma app de medicina preventiva para animais, tem já duas parcerias com seguradoras, uma nos EUA e outra no mercado nacional. O fundador da empresa referiu que o «mercado de seguros para animais está a crescer» e que o IoT vem proporcionar «mais dados para que as seguradoras possam disponibilizar novas ofertas».

Luís Cardoso, director de inovação e projectos da Liberty Seguros, fez uma analogia entre a inovação nos seguros e o sexo na adolescência, «toda a agente fala muito, mas quando vamos a ver, na realidade, poucos fazem, mas muitos dizem que estão a fazer». O responsável referiu que os seguros estão «a ser comparados com serviços como a Uber» e que têm de dar resposta oferecendo «simplicidade e individualização nos produtos».

Para Manuel Tânger da beta-i, os seguros e a banca têm de se modernizar oferecendo uma «experiência de venda semelhante à Amazon». Se tal «não for feito pelas grandes seguradoras, será feito pelas startups» alertou o empreendedor. Os dados serão «fulcrais para o desenvolvimento dos seguros do futuro» e as seguradoras «sabem pouco dos seus clientes» considera o executivo. Ora isto terá de mudar para que se possa falar em inteligência artificial e big data neste sector em particular e o orador considerou que é nestas áreas que os seguros podem «juntar forças com as startups para evoluírem».

«Nós sabemos o que é que o futuro do seguro vai ser não sabemos é por quem é que ele vai ser segurado. Vai ser seamless, transparente, positivo e não negativo e pay-per-use» concluiu Manuel Tânger.

Um longo caminho a percorrer

Na conferência ficou claro que a banca e os seguros estão já a fazer a sua transformação digital mas foi notório que em muitos casos ainda há um longo caminho a percorrer. Muitas são as organizações que estão numa fase de digitalização de processos mais do que a criação de soluções verdadeiramente digitais.

No entanto, há um claro esforço dos setores em evoluir e chegar às gerações mais novas que nasceram numa época em que tudo está ligado e já não vão querer usar sistemas analógicos ou ir as agências abrir contas e contractar seguros.