Reportagem

Lenovo: confinamento faz disparar venda de portáteis

Numa conferência de imprensa virtual, Alberto Ruano, director da Lenovo Ibérica, falou sobre a «incrível» procura por equipamentos portáteis e disse que Portugal teve «um crescimento em vendas muito mais rápido do que noutros países europeus».

A procura por computadores portáteis em período de pandemia tem sido «incrível» disse Alberto Ruano, director da Lenovo para Portugal e Espanha numa conferência de imprensa virtual para órgãos de comunicação ibéricos. Esta afirmação valida algo que o novo director da área de consumo, Miguel Hernández, já tinha dito à businessIT, numa entrevista.

O aumento das vendas de portáteis é fácil de entender. Entre o teletrabalho e a escola, a necessidade por equipamentos individuais fez o número de vendas disparar. Apesar disso, o director da Lenovo Ibérica descartou um aumento de preço dos laptops e computadores, «apesar da alta procura existente durante a pandemia». Contudo, Alberto Ruano disse que as a haver variações, isso dependerá apenas do custo dos componentes ou processadores. Ou seja, se houver um aumento do valor da matéria-prima, a Lenovo não terá outra escolha senão transpor esse custo para o preço final do produto.

Apesar disso, Alberto Ruano disse que o planeamento e movimentos no sector, nomeadamente na cadeia de abastecimento, está a permitir que o mercado não fique sem material, o que por exemplo permitiu à Lenovo equilibrar os custos. Diante de todas essas circunstâncias sem precedentes, o executivo emitiu um alerta: nos próximos meses pode haver alguns problemas de fornecimento de equipamentos, uma vez que todos os países têm a mesma necessidade ao mesmo tempo e há excesso de procura. «É bom para a nossa indústria, mas pode gerar um problema de fornecimento se o “trabalho de casa” não for feito a tempo. Portanto, é importante que trabalhemos com o nosso canal de distribuição e os nossos clientes o mais rápido possível para fechar os compromissos e evitar esse problema».

Sobretudo nas primeiras semanas de confinamento, a procura por laptops e tablets multiplicou, tanto por parte das empresas que precisavam manter produtivos os seus teletrabalhadores, como pelos particulares, com crescentes necessidades de dispositivos para tele-ensino ou lazer. A resposta da empresa chinesa parece ter estado à altura do desafio, não tendo sido registado qualquer problema de fornecimento, em grande parte graças à diversificação das fontes de produção, distribuída pelas trinta fábricas do grupo espalhadas por todo o mundo.

Lenovo assume custos extraordinários
No caso específico da Lenovo Iberia, a empresa decidiu assumir os custos extraordinários que teve devido às dificuldades e restrições da logística nos tempos de coronavírus. De facto, a severa limitação do transporte aéreo forçou a Lenovo Iberia a canalizar o fornecimento de produtos por outros meios mais caros.

Na mesma reunião virtual, Alberto Ruano confirmou que o negócio de PC «continua a ser o arroz da paella dos resultados da Lenovo», com uma facturação de 35,3 mil milhões de euros, de um total de 44,8 mil milhões de euros. A empresa teve um lucro recorde antes dos impostos de mais de mil milhões de dólares, com vendas muito semelhantes às do ano passado. Para enfrentar a crise da COVID-19, a Lenovo investiu quinze milhões de dólares (cerca de 13,2 milhões de euros), através da doação de equipamentos a hospitais e estudantes, bem como máscaras e sistemas de protecção.

Com mais de quatro dispositivos ligados, em média, em cada casa, o director espera que o mercado continue a crescer, estando convencido de que o teletrabalho e o ensino à distância «estão para ficar». Em caso de novo surto, a Lenovo vai estar «tecnologicamente preparada para futuros confinamentos», disse o director.

Entre outros dados, o executivo indicou que a sua divisão alcançou a liderança no mercado europeu no segmento de PC para particulares, tanto no ano completo como no quarto trimestre do ano fiscal, que para a Lenovo terminou a 31 de Março. No mercado europeu como um todo, incluindo os negócios de empresas, a Lenovo ocupa a segunda posição, com uma participação de 26,2%, muito próxima da líder HP (26,4%). A Dell Technologies está em terceiro (16,5%), a Asus em quarto (7%) e a Acer em quinto, com uma participação de 6,4%.

Portugal vendeu mais rápido
Relativamente a Espanha, as vendas de computadores pessoais multiplicaram por cinco durante as primeiras semanas da pandemia de coronavírus. «As vendas online têm sido muito beneficiadas e podem compensar a queda registada noutros canais». Ruano sustentou que o objectivo da Lenovo é liderar o mercado na Espanha e em Portugal, mas apontou que, no contexto actual, as decisões devem ser tomadas considerando os aspectos económicos e sociais. Por esse motivo, incidiu que, para a empresa, é mais importante continuar a crescer em recursos humanos e ajudar a indústria a ter «um negócio saudável» do que ser a número um por vender barato e conquistar quota por volume. «Essa não é minha estratégia ou a estratégia da Lenovo. O nosso objectivo continua a ser a liderança, mas talvez não tão rápido», acrescentou.

A marca chinesa que comprou em 2005 a divisão de computadores da histórica IBM e também detém a Motorola – conhecida pelos smartphones – destacou que Portugal teve «um crescimento em vendas muito mais rápido do que noutros países europeus». Alberto Ruano admite ainda que os clientes portugueses «são mais tecnológicos» que os espanhóis, uma vez que adoptam «novas tecnologias primeiro» e estão «mais preocupados em ter produtos tecnológicos mais evoluídos». 

Destaques do quarto trimestre  

  • A receita do grupo no trimestre foi de 10,6 mil milhões de dólares, uma queda de 9,7% em relação ao ano anterior. O lucro pré impostos foi de 77 milhões de dólares e o lucro líquido foi de 43 milhões de dólares.
  • PC e Smart Devices apresentaram um trimestre forte. A receita caiu 4,4% em relação ao ano anterior, mas o lucro antes de impostos melhorou 15% (525 contra 458 milhões de dólares) no último ano, impulsionando a lucratividade líder da indústria da empresa em um ponto inteiro para um recorde de 6,2%.
  • O volume de PC superou o mercado em quatro pontos, ampliando a liderança da empresa e a principal posição no mercado global. A receita de PC superou o mercado em todas as regiões do mundo.
  • O Mobile Business Group foi afectado pela COVID-19, com a principal fábrica mundial de smartphones da empresa, em Wuhan, a ser fechada durante grande parte do trimestre. Apesar disso, o negócio alavancou a sua presença global de produção e produziu seis milhões de smartphones durante o trimestre.
  • No Data Center, o volume de servidores continuou com um crescimento de dois dígitos (14%) face ao período homólogo.