Reportagem

Seedrs quer ajudar startups a conseguirem mais financiamento

A plataforma de equity crowdfunding que já gerou, desde 2012, cerca de seiscentos milhões de euros em financiamentos para 720 startups e empresas com forte potencial de crescimento quer democratizar o acesso ao levantamento de capital.

A Seedrs nasceu da ideia de um português, Carlos Silva, e de um americano, Jeff Lynn, quando estavam a fazer um MBA em Oxford e, desde a sua fundação, não tem parado de ajudar negócios, sobretudo em fase inicial, que precisam de levantar capital para começarem a operar ou continuarem a crescer. A businessIT esteve à conversa com Ricardo Brízido, CTO da empresa, para perceber o que plataforma tem feito pelo empreendedorismo europeu e português.

O responsável explicou que a grande novidade da Seedrs, que tem sede em Londres, foi «ter permitido que qualquer pessoa pudesse investir» numa empresa, «um mercado antes dominado pelo capital de risco e business angels». Além disso, foi a primeira plataforma de equity crowdfunding do mundo a ser regulada. A autorização dada pela Financial Conduct Authority do Reino Unido permite-lhe operar em qualquer país da União Europeia.

Para o CTO, a empresa oferece um «asset diferente do mercado financeiro tradicional» e que é usado tanto «por investidores mais sofisticados que diversificam mais os seus investimentos» como por «pequenos investidores que querem apoiar ideias e que não estão propriamente à procura de ter o investimento de volta».

A plataforma teve, em 2018, o melhor ano desde o seu lançamento e gerou investimentos superiores a 210 milhões de euros, um aumento de quase 60% face ao ano anterior. Foram financiadas mais de 186 campanhas de dezassete sectores e de doze países diferentes, das quais 28 superaram a fasquia de um milhão de euros. Para esta recorde contribuíram investidores de mais de 68 países que realizaram mais de 72 mil investimentos.

Importância do financiamento

«No início de vida das startups há uma grande necessidade de levantamento de capital e normalmente é feita em meios muitos fechados, é preciso ter os conhecimentos certos e falar com as pessoas certas» e a possibilidade da «democratização» oferecida pela Seedrs «é muito importante para as empresas», esclareceu Ricardo Brízido. É também relevante «a nível social», já que as empresas «estão mais abertas do que nunca e querem repartir o sucesso com as pessoas» e, nesse aspecto, «a Seedrs tem um grande papel ao ser uma plataforma de execução financeira e de marketing que liga as empresas à sua comunidade e permite que os utilizadores possam fazer parte do sucesso dessas empresas como accionistas», revelou o CTO.

Para se ter uma ideia da dimensão do mercado de equity crowdfunding, no Reino Unido este já representa «21% do mercado de capital de financiamento de ‘early stage’», o que é «significativo» e demonstra que «há um grande potencial de crescimento», indicou o responsável.

Ecossistema nacional de startups

Quanto a Portugal, o executivo referiu que há que «ser realista e perceber que o mercado é pequeno». Por outro lado, «é feito de várias realidades» já que há diversas empresas portuguesas mas também uma série de startups estrangeiras que estabeleceram escritórios no país. Esta situação faz com que ao nível do mercado de levantamento de capital, «existam algumas empresas que levantam capital fora de Portugal». Assim, o universo de startups nacionais na Seedrs é ainda pouco representativo, apesar de dezenas terem iniciado campanhas apenas 4 empresas concluíram o financiamento através da plataforma de equity crowdfunding.

Entre elas estão a Zypho, que tem um recuperador de energia térmica da água do duche; a INIU, uma startup de sumos funcionais; a eSolidar, uma plataforma para apoio a projectos de solidariedade e a Climber Hotel, que tem uma ferramenta de gestão de receitas para hotéis independentes. Em conjunto, estas startups conseguiram 3,5 milhões de euros em investimento tendo a maior campanha portuguesa sido a da Zypho com cerca de 750 mil euros angariados.

O director técnico vê assim a sua empresa «como uma ferramenta útil para a economia portuguesa», com «grande potencial de crescimento» mas com algumas restrições já que em Portugal, a legislação não permite à Seedrs fazer publicidade aos seus serviços, o que não acontece em outros mercados como o Reino Unido. Mas isso não impede que a Seedrs não queira crescer e as previsões da empresa apontam para isso. No entanto, tudo vai «depender de como evoluir o ecossistema de startups em Portugal».

Futuro focado no crescimento

A Seedrs espera que 2019 seja também de «grande crescimento». A nível tecnológico, a aposta é nas ferramentas ‘mercado secundário’, que serve para negociação de acções de empresas financiadas através da plataforma, e o AutoInvest, lançada em Julho de 2018, que permite «automatizar as decisões de investimento com base de diversos critérios» oferecendo aos investidores um portfolio diversificado e com menos risco.

No que diz respeito à estratégia, Ricardo Brízido referiu que «até agora foram feitos grandes investimentos no desenvolvimento do produto» e que este ano a ideia é «trazer mais negócios para a plataforma para escalar», assim como «consolidar a posição no Reino Unido e apostar forte na Europa». O responsável indicou que têm havido «bons sinais do mercado alemão, holandês e dos países nórdicos». A nível nacional, apesar de todas as circunstâncias, as expectativas são também de «aumento do valor de investimento».

Para os próximos anos, a Seedrs tem um plano de negócios «ambicioso», diz o CTO. A empresa quer conseguir em 2021 que sejam feitos «tantos investimentos na plataforma como os realizados desde a sua criação», ou seja, cerca de seiscentos milhões de euros.