Além Fronteiras

Robôs, inteligência artificial e longevidade: DHL acelera a inovação logística na região EMEA

Da saúde à sustentabilidade, a DHL está a transformar a logística na região EMEA com tecnologia, visão estratégica e soluções escaláveis. Uma visita a Midlands, às operações do grupo, revelou o que já está em marcha. E o que aí vem.

Tim Tetzlaff © DHL

A transformação tecnológica da DHL na região EMEA está a ser conduzida com um olhar atento ao futuro da Humanidade. Longe de ser um exercício académico, esta visão orienta investimentos concretos e soluções aplicadas, num sector onde a saúde, a sustentabilidade e o e-commerce estão a redesenhar as exigências logísticas. Foi essa a mensagem deixada por Christopher Fuss, global innovation lead da DHL, numa intervenção rica em dados, exemplos e antecipações, durante uma visita às operações do grupo nas Midlands (Inglaterra), organizada pela empresa para jornalistas europeus.

«Estamos a envelhecer como população. A longevidade está a tornar-se uma preocupação central. E isso vai mudar tudo», disse Christopher Fuss, explicando como o envelhecimento global, aliado à queda das taxas de natalidade, está a pressionar os sistemas de saúde e, por consequência, a cadeia logística. A emergência de terapias altamente individualizadas, como o Keytruda, exige sistemas de distribuição capazes de manter cadeias de frio rigorosas, rastrear cada unidade e garantir entregas com margens de erro praticamente nulas: «Não é como ir à farmácia buscar ibuprofeno. Isto é personalizado, é needle-to-needle, e exige uma cadeia de suplementos completamente diferente».

A aposta tecnológica foi reforçada com o anúncio, a 9 de Julho, de um investimento de 550 milhões de libras (637 milhões de euros) para expandir a infra-estrutura e acelerar a automação nas operações da DHL Supply Chain no Reino Unido e Irlanda. Este plano insere-se numa estratégia mais ampla de digitalização e robótica na região EMEA, que já soma mais de mil milhões de euros em projectos lançados nos últimos três anos e onde o foco nos sectores de e-commerce e saúde é cada vez mais evidente.

Inovação aberta é aposta
Mas a revolução não se limita aos medicamentos. Os próprios consumidores estão cada vez mais atentos à sua saúde e procuram medir e antecipar sinais de risco. Dispositivos como smartwatches e anéis inteligentes estão a criar um novo fluxo de dados que exige infra-estrutura logística especializada. Christopher Fuss deu o exemplo de um utilizador que descobriu uma doença cardíaca graças a um alerta nocturno do seu wearable: «Estamos a tornar-nos colectores dos nossos próprios dados de saúde. E isso está a transformar o mercado».

A relevância da região EMEA no plano de transformação logística da DHL foi reforçada por Saul Resnick, CEO da DHL Supply Chain UK & Ireland. Na visita, o executivo destacou a dimensão das operações do grupo na região, com mais de 36 mil colaboradores a tempo inteiro, cerca de 450 unidades operacionais e uma frota de mais de cinco mil veículos pesados e ligeiros. «Estamos inseridos num ecossistema global com cerca de seiscentos mil colaboradores e operações em 55 mercados. Mas é na região EMEA que estamos a experimentar algumas das mudanças mais rápidas e profundas, impulsionadas por quatro megatendências: o crescimento do e-commerce, a digitalização, os avanços na saúde e ciências da vida, e a globalização», referiu.

Para responder a este novo paradigma, a DHL está a investir fortemente em inovação aberta. Um dos instrumentos é a ‘Casa de Inovação’, uma plataforma digital onde a empresa publica desafios reais e convida startups e parceiros tecnológicos a apresentar soluções. A estratégia já produziu resultados práticos, como os riquexós eléctricos com painéis solares desenvolvidos pela startup Tux, na sequência de um desafio lançado em Singapura. «Pedimos algo, recebemos uma proposta, e depois de um tempo já tínhamos as primeiras implementações no terreno», revelou.

A triagem tecnológica é, porém, fundamental. Christopher Fuss estima que «80% das tecnologias» apresentadas à empresa «não são relevantes para aplicação logística». Por isso, o processo de inovação da DHL assenta numa filtragem rigorosa, provas de conceito e validação operacional antes de escalar qualquer solução. «A verdadeira inovação não é ter ideias, é conseguir implementá-las em escala e torná-las viáveis», afirmou, citando como exemplo os localizadores de activos com autonomia de oito anos e custo inferior a cinquenta euros, já implantados um milhão de vezes na Europa.

A inteligência artificial tem um papel central neste processo. Christopher Fuss distingue entre a ‘IA generativa’, popularizada por modelos como o ChatGPT, e a ‘IA agêntica’, que considera «mais útil» para a DHL. Esta última baseia-se em dados internos e é treinada para resolver problemas específicos da cadeia de abastecimento: «Não queremos uma AI que gere imagens bonitas. Queremos uma AI que saiba como resolver questões alfandegárias ou encaminhar correctamente um pacote, com base nos nossos próprios dados».

Tecnologia em escala é fundamental
Entre os exemplos práticos já em uso estão soluções de visão computacional capazes de verificar o preenchimento de contentores, validar o uso de equipamento de segurança pelos colaboradores ou controlar prazos de validade em dispositivos médicos, tudo «soluções que já estão maduras e a ser escaladas em toda a nossa rede», garantiu.

Essa visão foi partilhada por Tim Tetzlaff, global head of digital transformation da DHL Supply Chain, que nas Midlands reforçou a importância de combinar tecnologia com escala. «Há muita coisa interessante no LinkedIn ou no YouTube, mas a verdadeira inovação é aquela que chega à operação, que funciona e que pode ser replicada em dezenas, centenas ou milhares de centros», afirmou. O grupo definiu doze categorias prioritárias de tecnologia, cruzando necessidades internas com soluções reais de mercado: «Em vez de reinventar a roda, garantimos que uma solução testada num centro pode ser replicada em todos os outros, de forma segura, rápida e com retorno mensurável».

Apesar do entusiasmo com a tecnologia, a DHL mantém uma visão centrada nas pessoas do seu modelo de negócio. Robots como o Stretch, da Boston Dynamics, estão já a ser utilizados para descarregar contentores, mas a empresa não antevê, para já, uma adopção massiva deste recurso: «A logística continuará a ser um negócio de pessoas», sublinhou Christopher Fuss, reconhecendo, no entanto, que os perfis profissionais estão a mudar. «Termos como ‘engenharia pronta’ já aparecem com frequência nas ofertas de emprego», lembrou.

Ainda assim, a DHL já conta com mais de dois mil robots em operação na região EMEA, incluindo 750 para picking assistido da Locus Robotics e seis River Systems, distribuídos por dezoito centros. Um dos mais recentes avanços foi a implementação do já mencionado Stretch, da Boston Dynamics. Um robot capaz de descarregar até setecentas caixas por hora, que a businessIT teve oportunidade de ver em plena acção em ambiente real no Reino Unido.

A encerrar a sua intervenção, o responsável pela inovação reforçou a missão de transformar ideias em valor: «Temos muitas ideias. Vemos ainda mais fora da DHL. Mas as que são relevantes são aquelas que conseguimos escalar. Só assim a inovação faz sentido: quando melhora a vida de alguém».

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