O Global Interconnection Index mede e faz previsão do crescimento da largura de banda de interconexão (a conectividade privada usada para a transferência de dados entre organizações) – o objectivo é disponibilizar insights para que as empresas possam tirar partido dos negócios digitais. De acordo com este estudo da Equinix, a largura de banda de interconexão total vai ter uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 45%, entre 2019 e 2023 no mundo e na região EMEA (Europa, Médio Oriente e África). O «crescimento será impulsionado pela transformação digital e, mais especificamente, pela descentralização da infraestrutura digital das empresas», explica Carlos Paulino, managing director da Equinix Portugal.
Este processo foi acelerado pela pandemia «que forçou as organizações a operar numa nova realidade digital, com as TI a assumirem um papel crítico na resposta às necessidades das empresas e dos trabalhadores remotos. Neste ambiente, as empresas têm procurado garantir que as suas infraestruturas de TI são adequadas para suportar o aumento de conectividade a partir de locais cada vez mais dispersos», salienta. Em 2023, a capacidade da largura de banda de interconexão total global deverá chegar aos 16 300 Tbps.
O estudo mostra que «o padrão de adopção digital se alterou», prevendo-se agora que os fornecedores de serviço «disponibilizem quase o dobro da largura de banda de interconexão que será provisionada pelas empresas até 2023». No seguimento disto Carlos Paulino lembra um cenário: «Estima-se que grande parte desta procura terá como finalidade apoiar as organizações que apostam na transformação digital como meio de se prepararem para a recuperação pós-pandemia».
Em 2023, a América do Norte será responsável por 41% de largura de banda de interconexão total do mundo, a Ásia-Pacifico de 27%, a EMEA terá 23% e a América Latina representará 9% – esta será mesmo a região que mais cresce.
A Equinix revela ainda que conectividade vai crescer «cinco vezes» até 2023 e que a capacidade atingida nessa altura será equivalente a «64 zetabytes de troca de dados», ou seja, «largura de banda suficiente para cada ser humano no planeta (7,8 mil milhões) transmitir a sua sequência completa de ADN numa hora».
Diferenças sectoriais no mercado
No que diz respeito aos sectores de actividade, o relatório indica que, a nível mundial, as indústrias responsáveis pelo maior crescimento serão as telecomunicações – espera-se que cresçam 50% (CAGR) e que representem, dentro de três anos, 31% de toda a largura de banda. Este sector é seguido de perto pelos serviços de cloud e TI, que vão aumentar 48%, com uma representação de 22% largura de banda de interconexão total do mundo; em terceiro vai estar a área de conteúdos e media digital, com um crescimento de 50% – contudo, apenas corresponderão a 10% que largura de banda de interconexão total do mundo.
No entanto, sectores mais tradicionais, como a banca/seguros, produção e serviços profissionais, vão começar a ter um peso mais elevado. De acordo com o estudo, estas deverão representar 30% da largura de banda de interconexão total do mundo até 2023. Outras áreas de grande crescimento serão a saúde/ciências da vida (47%) e os serviços públicos/educação (48%).
Na Europa, são também as empresas que proporcionam o trabalho remoto, como as de telecomunicações e os fornecedores de cloud e TI, os responsáveis pela maioria da largura de banda de interconexão (54%), ultrapassando outras indústrias, refere o GXI Vol.4. Estas áreas vão crescer 49% e 48%, respectivamente até 2023. Dentro de três anos, a região EMEA representará 23% (3782 Tbps) da largura de banda de interconexão global instalada no mundo. O sector de conteúdos e media digital é apenas o quinto na lista, em termos de representatividade com apenas 7%, mas será o que mais cresce nos próximos anos com uma taxa de 52% ao ano. Sobre o mercado português o managing director da Equinix diz que «não tem dados específicos», mas adianta que a empresa «vê sectores semelhantes a destacarem-se no mercado nacional».
Portugal segue tendência europeia
Carlos Paulino esclarece que Portugal não é excepção quanto à necessidade das empresas de ter mais conectividade durante a pandemia: «O aumento da procura pelos nossos serviços tem evoluído nos últimos meses em linha com a tendência registada a nível europeu e mundial. Na verdade, observámos um aumento significativo na quantidade de dados processados e no número de entidades que precisam de se conectar umas às outras, de forma segura. Isto foi impulsionado pela aceleração da necessidade de transformação digital das organizações».
Já quanto a um valor de aumento ano-a-ano de 45% como irá acontecer na Europa, não está tão seguro: «Portugal deverá seguir esta tendência de crescimento, embora o faça de acordo com o seu próprio ritmo».
Lisboa como ponto de interconexão
O mais recente Global Interconnection Index prevê que, na Europa, Frankfurt, Amsterdão, Paris e Londres sejam as principais cidades europeias a contribuir para o crescimento da largura de banda de interconexão, mas Portugal e Lisboa poderão ter uma «importante palavra a dizer neste domínio», sublinha Carlos Paulino: «O País está progressivamente a estabelecer-se como uma porta de entrada digital para o Atlântico, desbloqueando as rotas de dados entre os Estados Unidos e o Norte da Europa, assim como com a América Latina e África, dois continentes que certamente irão desempenhar um papel essencial na economia digital global e que partilham fortes laços culturais e linguísticos com Portugal».
Além disso, «diversos sistemas de cabos submarinos têm aportado recentemente às costas portuguesas, alterando as rotas habituais entre os Estados Unidos e a Europa». Carlos Paulino diz que o «mais proeminente no momento» é o EllaLink, criado pelos governos de Brasil, Portugal e Espanha. Este cabo, com 9400 km, estende-se entre a Praia Grande (São Paulo) e Sines, com uma capacidade de 48 Tbps. Em Portugal, a Equinix está «a acolher este e outros projetos de cabos submarinos» no seu data center em Lisboa. Esta é parte da estratégia da empresa para o País, como afirma Carlos Paulino: «O IBX de Lisboa foi projectado para receber o elevado volume de informação que viaja de diferentes partes do globo, mostrando-se ideal para as empresas que querem fazer uso destes novos projectos de cabos submarinos de uma forma eficiente e simples».