Reportagem

O novo mapa tecnológico da fiscalidade inteligente

Num momento em que a fiscalidade digital acelera e a automação se torna inevitável, a Sovos debateu no Porto como a faturação electrónica e a inteligência artificial estão a redefinir os sistemas financeiros das PME. A transformação deixou de ser regulatória: passou a ser estratégica.

© Sovos

A adopção da facturação electrónica e das plataformas de automação fiscal deixou de ser um desafio regulatório para se tornar um eixo central da transformação digital das PME. No evento ‘Transformação Digital nas PME: Faturação Electrónica e Inteligência Artificial no Mercado Global’, promovido pela Sovos no Terminal de Cruzeiros de Leixões, ficou evidente que a modernização da função financeira exige hoje tecnologia, interoperabilidade e inteligência artificial, muito para além da mera conformidade legal.

A Sovos, que opera soluções globais de compliance transaccional, deu o mote para uma discussão centrada na evolução de uma fiscalidade tradicionalmente reactiva para um modelo preditivo e automatizado. Rui Fontoura, managing director Europe da empresa, sublinhou na abertura que Portugal «ainda tem muito caminho a percorrer» na adopção de facturação electrónica estruturada, lembrando que «apenas uma parte reduzida das empresas opera com processos totalmente digitais». A digitalização, afirmou, já não é uma vantagem competitiva mas, antes, uma urgência operacional.

Ao longo do evento, especialistas de tecnologia, fiscalidade e gestão debateram a maturidade digital das PME e a complexidade crescente do ecossistema fiscal europeu. A PwC destacou a pressão das novas regras europeias de eReporting, a integração entre plataformas e a necessidade de garantir rastreabilidade em tempo real. Empresas tecnológicas como a Seidor, a Sendys e a SoftStore reforçaram que a transformação digital começa nos sistemas de gestão: a qualidade dos dados, a normalização documental e a automação estão hoje no centro da eficiência financeira.

Seguiu-se um painel dedicado à experiência das PME, onde a ExpressGlass e a Smile Viagens evidenciaram que a digitalização reduz custos, acelera a operação e liberta equipas para funções de maior valor. Mas o grande salto tecnológico chegou com a perspectiva da IA aplicada à função fiscal. A EY destacou o papel da governação de dados e alertou que «sem informação estruturada, nenhum modelo de IA produz resultados fiáveis». No painel dedicado às grandes empresas, a Sovos voltou a ter protagonismo: Valter Pinho, General Manager SAF-T, trouxe uma visão prática da complexidade dos projectos de conformidade em organizações com múltiplos sistemas, geografias e volumes transaccionais. «A falta de directrizes claras dificulta o investimento e aumenta o risco operacional», observou, defendendo que a automação fiscal deve ser encarada como uma componente estruturante e não como mera obrigação legal.

O papel dos agentes digitais
A tarde foi dedicada à inteligência artificial e ao papel crescente dos agentes digitais na automatização fiscal. A KPMG apresentou casos concretos de integração de modelos de IA na classificação de transacções, análise de risco fiscal e reconciliação automatizada. «A IA não substitui o profissional, mas amplia-lhe a capacidade de decisão», referiu Sofia Tomaz, especialista de Tax Innovation. O encontro terminou com um alerta da Associação Empresarial de Portugal: a modernização digital das PME continua travada pela falta de talento, pela fragmentação tecnológica e por modelos de adopção ainda muito heterogéneos. Para o sector empresarial, a prioridade já não é decidir se digitalizar, mas como garantir que essa digitalização é sustentável, interoperável e auditável.

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