Talento global, fronteiras estreitas
Não parece exagero, por isso, dizer que o talento se transformou no novo campo de competição internacional. De acordo com os dados analisados pela Ayming, as empresas não enfrentam apenas uma crise de recrutamento: enfrentam uma corrida mundial por perfis cada vez mais especializados, com impacto direto na forma como se inova e onde se inova. O relatório revela uma tendência preocupante: apenas metade das empresas realiza actividades de inovação no próprio país, quando há um ano eram 77%. A deslocação da I&D para mercados externos, sobretudo para os Estados Unidos e para países da Europa Ocidental, é agora um reflexo de algo mais profundo: a inovação vai onde está o talento. «Não há estratégia sem inovação, a inovação é ‘a’ estratégia. É a única estratégia viável que se pode seguir. É por isso que os directores de Inovação se tornam uma peça realmente importante da equação: não só sabem o que estão a fazer e o que a empresa tem de fazer, como também antecipam o que a empresa deverá estar a fazer daqui a três anos», comentou Carlos Artal.
Assim, a mobilidade de profissionais altamente qualificados tornou-se um factor decisivo na definição das geografias da inovação. As empresas seguem as competências, não apenas os custos. No documento, o acesso a talento de I&D surge como o terceiro motivo mais citado para o offshoring, a par da proximidade a novos mercados e da colaboração intersectorial. «Para a economia portuguesa, esta dinâmica é simultaneamente oportunidade e risco: o país tem sabido atrair investimento em centros tecnológicos e laboratoriais de multinacionais, mas continua a ver parte significativa do seu talento formado nas universidades a sair para outros mercados mais competitivos», comentou Marta Andrade, consultora em inovação e competitividade empresarial.
À businessIT, a ANI sublinha que esta competição global por perfis especializados é inevitável, mas também um estímulo à consolidação do ecossistema nacional de I&D. «Este regime [SIFIDE] tem ainda permitido atrair empresas estrangeiras que escolhem Portugal para instalar as suas actividades de investigação e desenvolvimento, contribuindo para o reforço da base científica e tecnológica do país e para a atração de talento internacional altamente qualificado». Marta Andrade acrescenta que essa dinâmica traduz-se também numa via indirecta de retenção de investigadores portugueses e de partilha de conhecimento entre centros internacionais e empresas nacionais.
A posição competitiva de Portugal depende, porém, da sua capacidade de criar massa crítica e estabilidade institucional. O barómetro mostra que a inovação está cada vez mais descentralizada – menos concentrada em direcções executivas e mais confiada a responsáveis especializados e financeiros – o que implica novas formas de gestão e de planeamento de talento. «Num ambiente em que as fronteiras entre sectores se diluem, as empresas que melhor conseguirem combinar o conhecimento científico local com a experiência global terão vantagem», comentou Marta Andrade.









