Esta lógica é suportada por uma rede que se tem vindo a consolidar. «Portugal dispõe hoje de uma rede sólida de instituições de interface, composta por quarenta Laboratórios Colaborativos (CoLABs) e 31 Centros de Tecnologia e Inovação (CTI), que funcionam como pontes de mediação e articulação entre o meio académico e o tecido empresarial. Estas entidades são essenciais para transformar conhecimento científico em inovação aplicada, prestando serviços de investigação e desenvolvimento (I&D), ensaios, prototipagem e transferência de tecnologia».
Portugal tem dimensão e estrutura
Os dados mostram que o ecossistema científico-tecnológico português tem dimensão e estrutura. «No final de 2023, o total de recursos humanos nestas instituições ascendia a 6130 profissionais, dos quais 2926 com vínculo efectivo. Entre estes, 1454 detinham o grau de doutor, dos quais 505 com vínculo efectivo». Segundo a ANI, o financiamento base destas entidades é assegurado pela implementação da Missão Interface, integrada no Plano de Recuperação e Resiliência, que cobre custos com recursos humanos altamente qualificados, tanto novas contratações como a valorização de profissionais já existentes. «Até ao final de 2024, a Missão Interface financiou a despesa com 1755 recursos humanos altamente qualificados, entre os quais 475 doutorados, abrangendo as mais diversas áreas científicas. As infra-estruturas dos CTI e CoLAB são utilizadas anualmente por cerca de 3.600 investigadores (em equivalente a tempo integral), o que demonstra o papel destas instituições na dinamização da I&D nacional».
O ‘Barómetro Internacional da Inovação 2026’ reforça que, mesmo quando há equipas e orçamento, muitas organizações continuam a esbarrar na escassez de competências críticas. É nesse ponto que políticas públicas como o SIFIDE — Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento Empresarial — assumem um papel determinante, funcionando como ponte entre investimento privado e conhecimento científico. A ANI destaca esse impacto: «O SIFIDE é outro instrumento determinante na promoção da inovação empresarial e na integração de conhecimento avançado nas empresas. Nos últimos três exercícios fiscais, o número de empresas candidatas ao SIFIDE que declararam empregar doutorados em actividades de I&D manteve-se relativamente estável, variando entre 593 e 597 empresas. O número total de doutorados afectos a estas actividades atingiu o seu máximo em 2022, com 1554 profissionais, tendo registado uma ligeira diminuição nos dois anos seguintes, para 1385 e 1386 doutorados, respectivamente».
Mesmo com essa ligeira descida, o regime tem servido de alavanca para atrair investimento e talento estrangeiro, um aspecto que a ANI considera essencial para o reforço da competitividade nacional: «Este regime tem ainda permitido atrair empresas estrangeiras que escolhem Portugal para instalar as suas actividades de investigação e desenvolvimento, contribuindo para o reforço da base científica e tecnológica do país e para a atracção de talento internacional altamente qualificado». No cruzamento entre o barómetro e a perspectiva da ANI, emerge uma evidência incontornável: a inovação depende, cada vez mais, da capacidade de mobilizar e valorizar pessoas. «E num país onde a massa crítica existe, mas a competição global é feroz, o talento é simultaneamente o maior activo e o maior risco», reforça Marta Andrade.









