Quando o talento se torna o elo mais fraco da inovação
O ‘Barómetro Internacional da Inovação 2026’ é claro: a falta de talento qualificado tornou-se o principal entrave à inovação nas empresas. Como já referido, 41% dos inquiridos apontam a «falta de competências ou talento disponível» como a maior barreira à capacidade de inovar — um salto face aos 37% registados no ano anterior e suficiente para ultrapassar a pressão por resultados de curto prazo, que se mantém nos 39%. O fenómeno é transversal a todos os sectores e geografias, mas o impacto é especialmente visível nas áreas de transição energética, digital e tecnológica.
Em Portugal, a tendência global encontra eco. Contactada pela businessIT, a Agência Nacional de Inovação (ANI) reconhece que acompanha com preocupação este desequilíbrio entre o investimento em investigação e a capacidade de transformar conhecimento em inovação aplicada: «Acompanhamos com atenção o debate sobre os desafios da inovação em Portugal, nomeadamente no que respeita à disponibilidade e valorização de talento altamente qualificado. Importa, contudo, sublinhar que a ANI não dispõe de instrumentos próprios especificamente dedicados à captação ou retenção de talento. Por isso é tão importante a articulação da ANI com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia. De facto, esta articulação é fundamental para a optimização da complementaridade dos instrumentos de financiamento que estão disponíveis no Sistema Científico e Tecnológico Nacional».
A carência de competências, sublinha barómetro, não resulta apenas de limitações financeiras ou de défice de formação, mas de uma mudança estrutural: a procura por perfis altamente especializados – nomeadamente em inteligência artificial, cibersegurança, ciência de dados, biotecnologia ou energia – cresce mais rapidamente do que a capacidade de resposta dos ecossistemas académicos e empresariais. «No terreno, as empresas vêem-se obrigadas a competir num mercado global de talento sem dispor, muitas vezes, dos mecanismos adequados para atrair ou reter esses profissionais», admite Marta Andrade.
Já para a ANI, a resposta a este desafio não passa apenas pela contratação directa, mas por estruturas colaborativas que aproximem o conhecimento científico das necessidades empresariais. «Os projectos colaborativos apoiados pela ANI não têm como objectivo a transferência directa de talento das universidades ou instituições de interface para as empresas, mas sim a partilha de conhecimento, competências e necessidades, criando condições para que a inovação se desenvolva de forma estruturada e sustentável».









