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Portugal confia na IA… mas as empresas ainda não

Portugal lidera na confiança dos trabalhadores na inteligência artificial, mas essa confiança não se reflecte ainda nos resultados das empresas. O EY European AI Barometer 2025 revela um desfasamento claro entre o entusiasmo dos colaboradores e o retorno económico efectivo.

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Centros de excelência para “atacar” a IA
Para transformar a percepção positiva dos colaboradores em valor concreto, a MC decidiu alterar a própria forma como organiza a adopção da IA: «Entendemos a importância estratégica e o impacto a longo prazo que a mesma tendencialmente terá nas formas de trabalho e, por isso, efectuamos duas grandes alterações internas. A primeira foi criar um Centro de Excelência de Data & AI para nos ajudar a desenvolver soluções com mais profundidade e a segunda foi criar um Programa a nível da MC de aceleração de adopção de AI – focado na identificação de casos de uso e na criação de soluções para atacar os mesmos», explica Liliana Bernardino, Head of Data, AI & Analytics CoE da MC.

Esta abordagem institucional, segundo a responsável, procura dar escala e consistência a iniciativas que, até aqui, muitas vezes surgiam de forma dispersa. A lógica é organizar o entusiasmo individual e transformá-lo em projectos concretos, sustentados e replicáveis, com impacto directo nos consumidores e na sustentabilidade do grupo.

Liliana Bernardino destaca, para futuro, a importância de manter uma estratégia clara, sem dispersão de esforços: «Acreditamos que a mudança que será gerada a médio e longo prazo será extensa, assim entendemos que o essencial é o foco (não tentar fazer demasiado) e a abertura a redesenhar organizações e processos de maneira profunda para poder capitalizar nas vantagens desta tecnologia disruptiva».

Desfasamento entre confiança e retorno é real
Na NOS, o panorama traçado pelo EY European AI Barometer 2025 é olhado de frente. O estudo mostra que em Portugal 90% dos trabalhadores avaliam positivamente a experiência com IA, mas apenas 42% das empresas reportam ganhos financeiros claros. Para Pedro Brandão, director da Unidade de Inteligência Artificial da telco, esta distância não é uma surpresa: «O desfasamento entre confiança e retorno é real. Muitas empresas multiplicam pilotos de IA que não se traduzem em valor. Na NOS antecipámos esse risco com o programa SCAILE, que organiza a IA de forma transversal, define prioridades claras e mede o valor de forma independente».

A criação do SCAILE teve precisamente esse propósito: evitar que a Inteligência Artificial se diluísse em experiências isoladas, de impacto reduzido, e transformá-la numa aposta integrada, com prioridades bem definidas e impacto mensurável. «Assim, cada use case é avaliado em impacto financeiro e operacional. Os resultados já se vêem, por exemplo, no atendimento com o Assistente Virtual de Voz. A confiança dos colaboradores é fundamental, mas só se sustenta com retorno tangível — e estamos a consegui-lo», acrescenta o responsável.