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Portugal confia na IA… mas as empresas ainda não

Portugal lidera na confiança dos trabalhadores na inteligência artificial, mas essa confiança não se reflecte ainda nos resultados das empresas. O EY European AI Barometer 2025 revela um desfasamento claro entre o entusiasmo dos colaboradores e o retorno económico efectivo.

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Portugal lidera no entusiasmo pela Inteligência Artificial, mas continua a tropeçar na hora de transformar essa confiança em retorno económico. O EY European AI Barometer 2025 revela que 90% dos trabalhadores em Portugal avaliam positivamente a sua experiência com IA, o valor mais alto entre os países analisados. Mas, do lado das empresas, só 42% reportam ganhos financeiros claros, um número que coloca o país na cauda da tabela europeia.

O contraste não poderia ser mais evidente. «Os trabalhadores no país são dos que mais adoptam esta tecnologia, na esfera profissional, pessoal ou em ambas (83%). São ainda os trabalhadores que mais reportam uma experiência positiva com esta tecnologia (90%), mas a maioria acredita não estar a ter formação suficiente», lê-se no estudo da EY.

Para Sérgio Ferreira, partner e líder de IA na EY, «a adopção de IA não deve ser encarada apenas como uma questão de investimento em tecnologia. Exige know-how técnico, formação contínua e liderança activa na transformação cultural e organizacional das organizações. É essencial garantir um apoio estruturado e especializado, com foco em resultados mensuráveis e sustentáveis, para que a IA se torne uma alavanca de inovação, competitividade e crescimento».

O relatório mostra ainda que, em média, as empresas europeias já conseguem traduzir a IA em valor. «O uso desta tecnologia trouxe ganhos adicionais ou poupanças avaliadas em 6,24 milhões de euros», indica o barómetro. Em Espanha, 70% das organizações já percepcionam benefícios financeiros, seguidas da Bélgica (60%) e da Alemanha (59%). Portugal, ao lado da Áustria, surge no outro extremo.

«Este barómetro da EY revela que os colaboradores em Portugal têm abertura e apetência para adoptar a IA e que esta é uma ferramenta poderosa para melhorar a performance das empresas. Mas o seu sucesso a longo prazo dependerá da capacidade de responder às preocupações dos colaboradores e de uma integração coerente nas estratégias da organização, de forma a gerar valor sustentável, sem exclusões nem fricções desnecessárias», acrescenta Sérgio Ferreira.

Além do desfasamento entre confiança e resultados, o estudo sublinha outra fragilidade: menos de metade dos inquiridos acredita que as suas organizações tenham um quadro ético claro para a utilização da IA. Ao mesmo tempo, a maioria reconhece o impacto desta tecnologia na produtividade – em Portugal, 48% dizem já sentir melhorias, acima da média europeia.