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PME e a dívida tecnológica: o custo acumulado de não investir

Em Portugal, milhares de PME continuam a adiar investimentos em sistemas digitais, acumulando uma dívida tecnológica que fragiliza a sua competitividade, aumenta o risco crescente de falhas e a exclusão de concursos e sanções. A modernização, dizem os especialistas, há muito que deixou de ser uma opção para se tornar um imperativo para garantir a sobrevivência e crescimento.

Starline/Freepik

A autora explica que reduzir a transformação digital a uma mera adopção tecnológica é um «erro», já que «não pressupõe fazer o mesmo usando soluções digitais, nem acrescentar software a um processo obsoleto». Pelo contrário, diz, trata-se de uma mudança cultural e estratégica, que deve reflectir-se nas políticas de gestão, no funcionamento da organização e na forma como os colaboradores se apropriam das ferramentas digitais. Inês Lima identifica ainda os principais desafios que travam este caminho: a falta de uma visão estratégica clara, o défice de competências digitais em muitas empresas familiares ou de sectores mais tradicionais, os custos iniciais que a implementação tecnológica pode exigir e a resistência à mudança em processos estabelecidos. A responsável lembra ainda que estes obstáculos, quando não são enfrentados, «podem comprometer o sucesso das iniciativas digitais».

Apesar disso, Inês Lima lembra que as PME também têm vantagens que lhes permitem ser ágeis na mudança e que a digitalização oferece ganhos evidentes de produtividade e eficiência, melhora a experiência de cliente através de canais digitais e chatbots, abre portas a novos mercados por via do comércio electrónico e reforça a capacidade interna de gestão de dados e de colaboração. Por fim, a autora alerta que o caminho deve ser estruturado: liderança envolvida, visão estratégica clara, diagnóstico de processos e formação contínua: «O salto digital não pode ficar apenas nas mãos das grandes empresas. O caminho para a sobrevivência das PME passa pela sua conversão em empresas digitais. Ignorar este facto significa ficar para trás e ver a concorrência prosperar».

Como sair do ciclo
A questão central é: como podem as PME quebrar este ciclo de dívida tecnológica sem comprometer a sustentabilidade financeira? A resposta começa pelo diagnóstico. Segundo o ‘Índice de Intensidade Digital da Comissão Europeia (2023)’, apenas 69% das PME portuguesas atingem um nível básico de intensidade digital, contra uma meta de 90% até 2030 estabelecida pela Década Digital. Ou seja, três em cada dez continuam sem ferramentas digitais elementares, como software de gestão integrado, comércio electrónico ou uso sistemático da cloud.

«É impossível falar de competitividade sem falar de digital. O primeiro passo é um check‑up tecnológico: mapear sistemas, identificar redundâncias e perceber o que pode ser migrado para plataformas mais ágeis e seguras», defende Miguel Carvalho. Este diagnóstico, sublinha, deve depois ser traduzido em execução faseada: começar por áreas críticas – gestão financeira, logística, segurança – e ir escalando para analítica de dados e inteligência artificial.

O financiamento é a outra variável incontornável. No plano nacional, a Componente C16 – Empresas 4.0 do PRR abriu em Maio de 2025 o Aviso n.º 22/C16‑i02/2025, que concede dez mil euros em vales digitais para apoiar duas mil PME, com foco em serviços de transição digital, desde ERP, automação e cibersegurança até Business Intelligence e BIM, do inglês Building Information Modeling. No mesmo eixo, a medida Aceleradora Digital das Empresas dispõe de cerca de 650 milhões de euros para financiar transição digital e eficiência energética, com candidaturas abertas até 2026.

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