No retalho, a pressão vem do comércio electrónico e da integração omnicanal. Em 2023, segundo dados do Eurostat, 23,8% das empresas da União Europeia realizaram vendas online e essas e‑sales representaram cerca de 19,1% do volume de negócios do tecido empresarial europeu. Para as PME, a questão já não é ‘ter loja online’, é sincronizar stocks, preços e facturação entre o ponto de venda físico, o armazém e os marketplaces. «Sem API e dados em tempo real, os erros de stock multiplicam‑se e a experiência do cliente degrada‑se», nota Miguel Carvalho.
A ACEPI, Associação da Economia Digital, no seu ‘Estudo da Economia Digital em Portugal 2023’, revelou que 70% das empresas portuguesas têm presença na internet, mas esta percentagem desce significativamente entre as pequenas empresas. O mesmo estudo mostra que 42% das grandes empresas já fazem comércio electrónico, contra apenas 16% das pequenas empresas. Além disso, apenas 47% do total das empresas estão actualmente em processo de transformação digital, valor que sobe para 90% no caso das médias e grandes empresas. «Estas diferenças evidenciam que muitos canais digitais continuam pouco integrados, dificultando a eficiência e a competitividade das empresas de menor dimensão», sustenta Miguel Carvalho.
No turismo e na hotelaria, a integração com canais globais e motores de pricing exige plataformas de gestão (PMS) actualizadas e abertas. A ausência de interoperabilidade reduz visibilidade, diz o consultor, encarece a operação e expõe a falhas como overbooking. «Quando os sistemas de base estão desactualizados, perde‑se receita todos os dias. Pior: perde‑se acesso a redes de distribuição que exigem integração técnica».
A AHRESP, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, no Inquérito ‘Novos Desafios e Oportunidades dos Negócios’, explora que 83% dos empresários do alojamento turístico utilizam ferramentas digitais na gestão dos seus negócios, sobretudo para gestão de reservas e agendamentos (82%) e facturação (68%). Contudo, apenas uma parte minoritária declarou utilizar plataformas de reservas internacionais de forma plenamente integrada. Esta limitação tecnológica, defende a associação, reduz a competitividade do sector, dificultando o acesso a mercados globais e encarecendo a operação.
Transformação digital é muito mais do que tecnologia
A transformação digital deixou de ser uma opção para passar a ser uma obrigatoriedade para as empresas que pretendem manter-se competitivas, sustenta no portal ‘A Voz das PME’ Inês Lima, mentora nas áreas de transformação digital e gestão de pessoas na Nova SBE: «A transformação digital no contexto das PME tem-se tornado um dos principais tópicos de debate no mundo dos negócios, na medida em que deixou de ser uma opção, para passar a ser uma obrigatoriedade para as que se querem manter competitivas, eficientes e merecedoras da escolha de clientes cada vez mais exigentes e informados».