Empreendedorismo

FiberSight usa fibra óptica para detectar fugas e reduzir o desperdício de água

A startup nacional desenvolveu uma solução que utiliza fibra óptica para monitorizar a humidade, a temperatura e detectar a presença de água. Este recurso permite descobrir mais rapidamente fugas e contribuir para uma maior sustentabilidade.

Tiago Neves © Fibersight

Tudo começou no doutoramento de Tiago Neves, fundador e CEO da Fibersight, no CERN e na École Polytechnique Fédérale de Lausanne (Suíça). Na sua tese, o responsável queria demonstrar o «desenvolvimento de uma tecnologia que fosse capaz de medir temperatura e humidade em milhares de pontos, de forma simultânea, ao longo de quilómetros, algo que não existia até então». A solução encontrada baseou-se na «utilização de fibras ópticas de telecomunicações, em que a própria fibra é o sensor», explica Tiago Neves à businessIT. A solução foi «testada nos detectores de partículas do CERN», o que permitiu perceber que a tecnologia desenvolvida poderia ser «importante em muitas outras indústrias fora do ambiente académico». A FiberSight foi, assim, fundada para possibilitar a «transferência de todo o conhecimento para a sociedade e para aplicações do dia-a-dia», ajudando a evitar o desperdício dos recursos hídricos.

Versatilidade e precisão
O empreendedor revela que a tecnologia se «centra na análise de como um pulso de luz se propaga na fibra e como o seu comportamento varia em função das alterações de humidade». Desta forma, quando ocorrem variações, estas «modificam localmente as propriedades físicas da fibra, alterando a forma como a luz se propaga». Com uma «precisão de um metro e um alcance de vários quilómetros, o sistema de aquisição consegue analisar todos os pontos ao longo da fibra com elevada exactidão», acrescenta Tiago Neves.

A tecnologia da FiberSight tem diversas aplicações: «Além de detectar fugas de água, a nossa tecnologia é também eficaz na optimização de processos industriais onde a água é usada em abundância, na gestão de rega em agricultura e na análise da integridade estrutural, onde a humidade é um parâmetro essencial. A possibilidade de obter «medições contínuas ao longo de grandes infraestruturas» é uma das características diferenciadoras, assumindo-se como uma «solução única e de largo alcance» que combina «precisão, alcance e economia». Além disso, a tecnologia tem capacidade de «monitorização contínua e em tempo real, sem necessidade de sensores electrónicos adicionais».

Ser uma referência e ajudar o ambiente
A startup já tem «alguns projectos-piloto em andamento em várias áreas»: Tiago Neves destaca o do «Jardim Botânico de Lecce, em Itália», onde a FiberSight instalou cerca de quatrocentos metros de fibra para monitorizar fugas de água e optimizar o sistema de rega»; em Portugal, a empresa está a fazer uma instalação de «setecentos metros de fibra numa rede pública de distribuição de água».

Com um âmbito internacional, a FiberSight tem, este ano, uma «parte significativa da facturação proveniente do mercado internacional» e está a investir «activamente na expansão para novos mercados». Neste momento, a equipa é composta por «cinco colaboradores (quatro engenheiros e uma gestora financeira), mas vai crescer com a entrada de um CTO, «ainda este ano». Para 2025, os planos passam por «abrir novas vagas para integrar a unidade de inteligência artificial que está a ser desenvolvida», sublinha o fundador.

As perspectivas são «ambiciosas», garante Tiago Neves: «Queremos entrar no mercado o mais rapidamente possível e, embora ainda estejamos na fase de protótipo, já conseguimos obter tracção, o que nos tem permitido investir na nossa estratégia de I&D. A longo prazo, queremos ser uma referência em soluções de detecção e gestão de água, tanto em Portugal como a nível global».

Mas há ainda uma preocupação ambiental presente: «Além de continuar a desenvolver tecnologia que ajude a preservar recursos, esperamos, também, contribuir para uma maior consciencialização sobre a importância da gestão sustentável da água».

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