No re:Invent 2024, David Roldán explicou porque considera que o ecossistema empreendedor europeu robusto e com grande potencial e de que forma a AWS está a ajudar as startups a inovarem e chegarem mais rapidamente ao mercado.
Qual é a importância das startups para a AWS?
As startups fazem parte do nosso ADN e trabalhamos com elas há mais de uma década. Como o Matt Garman, o nosso CEO, mencionou, isto foi assim desde que começámos. É importante vermos como, desde o topo, se fala da importância das startups. Estas não fazem apenas parte da nossa herança e do passado, mas que continuam a fazer parte do nosso presente e futuro. Trabalhar com as startups permite-nos ter inspiração para fazermos inovação contínua em prol dos clientes.
A vossa empresa tem uma a inovação no seu core, procura fazer disrupção nos negócios e não tem medo de arriscar. Pode dizer-se que a AWS tem uma mentalidade de startup, correcto?
Sim, muito mesmo. Quando se começa uma startup, é muito difícil e vai ser difícil, independentemente do que se faça. O facto de trabalharmos este tipo de empresa há vários anos, permitiu-nos ter uma boa percepção das várias dificuldades que as startups podem ter. A nossa equipa é constituída por antigos founders ou antigos colaboradores de empresas apoiadas por capital de risco e até por antigos investidores e penso que isso nos permite ter uma grande empatia com os fundadores em relação àquilo por que estão a passar.
Há tecnológicas e outras empresas que vêem as startups como competição, mas a AWS vê-as numa perspectiva de colaboração. Como é que isso funciona?
Há algumas formas de colaborar com as startups. Uma é como é que as podemos apoiar? Do ponto de vista da infraestrutura técnica, temos mais de 240 serviços que oferecemos em todo o mundo. Isso permite que as startups, quer estejam em Portugal ou na Estónia, possam tirar partido desses serviços. Além disso, também podemos ajudá-las, especialmente se, devido à natureza do seu produto, quiserem fazer uma integração com um serviço AWS, o que nos permite ajudá-las a encontrar pessoas que as possam apoiar nisso. A outra parte é na entrada no mercado. A verdade é que 70% das startups afirmam que a principal área em que pretendem obter apoio da AWS é no go-to market. E, por isso, ajudar com vendas conjuntas e parcerias através do AWS Marketplace. Como gosto de dizer, ensinamo-las a pescar, a fazer vendas em conjunto com a AWS. Dessa forma, podemos ajudá-los a ter sucesso comercial.
Anunciaram no re:Invent mil milhões de dólares em créditos cloud para startups. Como é isso vai funcionar e de que outras formas ajudam o ecossistema?
O AWS Activate é o nosso programa principal, que é onde fornecemos os créditos e ao longo do tempo de vida desta iniciativa fornecemos mais de 6 mil milhões de dólares em créditos e apoiámos mais de 280 mil startups em todo o mundo. Só nos últimos três anos, temos estado a dar mil milhões por ano para as apoiar estas empresas. Adicionalmente, também trabalhamos com milhares de investidores de capital de risco, incubadoras, aceleradoras e espaços de co-working em todo o mundo. Isto permite-nos ajudar as startups a angariar fundos, podendo ajudá-las a ligarem-se a diferentes investidores. Por exemplo, uma fintech, em que e podemos dizer: “Está a construir uma aplicação financeira. Trabalhamos com estes investidores que investem especificamente nessa área”. Isto é extremamente útil para as startups, não apenas para tentar encurtar o ciclo de tempo, mas também para chegar ao mercado mais rapidamente. Temos diferentes programas de go-to market, como o Sprint, em que, efectivamente, ajudamos em todo o processo de ser listado no marketplace da rede de parceiros da Amazon, o que permite compreender realmente como fazer co-vendas, que de outra forma poderiam demorar meses. Estamos a fazê-lo numa questão de semanas, e penso que, mais uma vez, ajudar as startups a reduzir o tempo, a ter coisas accionáveis que possam vender aos clientes, o que é muito importante para o seu crescimento.
Tem a seu cargo a região EMEA, onde há mercados diferentes. Por exemplo, Portugal, que é um mercado mais pequeno, e a Alemanha, que é muito grande. Como é que lida com toda esta complexidade e diferenças?
Há alguns mercados que estão mais maduros, mas penso que há algumas coisas que continuarão a ser verdadeiras, independentemente do mercado. O que podemos fazer para os ajudar nesse processo e, por exemplo, o programa Activate em que podemos fornecer esses créditos, para que, à medida que vão iterando o seu produto, não corram riscos, para que não interfiram na sua taxa de consumo enquanto testam diferentes produtos e soluções. Isto acontece com uma startup, seja num mercado menos maduro ou num mercado maduro. Algumas das diferenças que se podem observar é que em alguns dos mercados mais maduros, quando se trata de ir para o mercado, as startups podem ter um pouco mais de “memória muscular” já incorporada, tal como saber o que fazer para vender em parceria. E também alguns desses mercados podem ser altamente verticalizados, como é o caso do Reino Unido, onde se destacam a saúde, ciências da vida, fintech, empresa, B2B e SaaS. Mas em outros mercados podem ser mais relevantes as startups com produtos B2C ou app sociais de consumo. Por isso, tento sempre certificar-me de que estou a ajustar as equipas ao que é mais relevante para o mercado para que possamos ir ao encontro das startups no ponto em que estão e para onde vão, no que diz respeito à experiência que lhes podemos proporcionar.
Na keynote, Matt Garman disse que é uma óptima altura para ser uma startup por causa da IA generativa. Como vê esta situação?
Concordo 100%! Penso que temos muito sorte por estarmos sentados no precipício daquilo que, daqui a uns anos, iremos considerar como uma das mais importantes revoluções tecnológicas que aconteceram. E o que se passa é que, no que diz respeito à IA generativa, ainda estamos a dar os primeiros passos e há muito a fazer. O que vemos é que tem havido uma espécie de três camadas diferentes. Inicialmente, houve uma corrida no que diz respeito hardware e na camada de chips. Por isso, não só a Nvidia, mas também nós próprios com o Trainium 2, e continuamos a investir nesse domínio porque uma das coisas é que os clientes continuam a dizer-nos é que querem escolha, portanto, escolha de chips. Depois, a próxima camada com IA generativa, que é superinteressante, é na infraestrutura. É aí que entram em jogo coisas como o Amazon Bedrock, onde oferecemos opções dos melhores modelos fundacionais. E penso que é aí que se vêem algumas coisas realmente interessantes como a Anthropic e o excelente trabalho que estão a fazer com o Claude. E acho que o melhor ainda está por vir.
A próxima camada, onde se verá a próxima grande criação de valor é na intersecção da IA generativa e o resto das aplicações SaaS. Acho que isso vai ser muito divertido, porque vamos começar a ver indústrias emergentes e até mesmo aquelas que estavam mais paradas a mudar. Um exemplo é a adtech No início da década de 2010, era uma indústria em expansão, e havia muita criação de valor. Depois, nos últimos anos, tem havido quase uma falta de inovação. E acho que a maioria dos investidores e VC deve ter achado que é um mercado saturado, mas agora com a IA generativa há realmente um aumento nos investimentos nas startups de adtech. Isto é algo que observei nos últimos 12 meses em toda a Europa e acho que está directamente relacionado com a IA generativa.
O ecossistema norte-americano de startups é mais evoluído do que o europeu. A Europa está um pouco atrasada no que diz respeito ao investimento, especialmente em capital de risco. Como é podemos recuperar este atraso e fazer avançar o nosso ecossistema?
Concordo que o mercado dos EUA é mais maduro porque têm uma herança que foi construída, quase desde os anos 60 e 70. Dito isto, penso que a Europa tem muito a seu favor porque tem grandes talentos e talentos técnicos, especialmente dado que tem algumas das melhores universidades do mundo. Por isso, penso que, voltando à pergunta, temos de continuar a certificar-nos de que encontrámos fundadores e que temos políticas amigáveis para encorajar as pessoas a correr riscos. Depois, à medida que as empresas vão fazendo exit, quer seja por IPO ou aquisição, ter encorajamento contínuo para que as pessoas ponham esse dinheiro a trabalhar. Já começamos a ver isso a acontecer e há muitos antigos fundadores, que depois dos exits, tiram algum desse dinheiro e fazem investimentos anjo, o mais comum, ou escolhem voltar a construir. Penso que precisamos de continuar a encorajar isso e que estas coisas tendem a ser os blocos de construção de um ecossistema de startups mais sustentável.
Tem uma enorme experiência em startups e é também um investidor. Quais são os seus conselhos para startups que estão agora a começar?
A coisas que me vêm à cabeça é certificarem-se de que se rodeiam de outras pessoas que tenham a mesma ideologia e sistema de crenças para construir e perceber que não vão ter todas as respostas. É preciso construir a equipa fundadora certa, onde sabemos que as pessoas que vêm para a mesa têm diferentes conhecimentos de um domínio, é isso que faz a diferença. Penso que ter essa mentalidade na formação da empresa é importante e depois é saber qual é o problema que queremos resolver. Já que quanto mais claro for o problema, qual será o impacto na sociedade e nos utilizadores torna as coisas muito mais reais.
Um bom exemplo é a Orbital Materials, que estabeleceram uma parceria com a AWS para a descarbonização dos nossos data centers. Eles foram muito claros desde o início. Sabendo que vai haver cada vez mais poder de processamento nos centros de dados e o que isso significa do ponto de vista do consumo de energia e para o ambiente. Assim, a ideia foi criar algo que vai ter impacto na sociedade do ponto de vista da sustentabilidade e essa mentalidade permitiu-lhes perceber que solução deviam construir.