A Atomico anunciou o relatório Estado da Tecnologia Europeia (SoET, sigla em inglês) em que revela que as tecnológicas portuguesas estão no bom caminho para angariar cerca de 92 milhões de euros, este ano. As empresas espanholas podem obter cerca de 1,3 mil milhões de euros, igualando os números de 2023, e as italianas podem arrecadar cerca de 800 milhões de euros, em comparação com os quase mil milhões de euros conseguidos o ano passado
Já a nível europeu, as organizações devem conseguir um total de quase 42 mil milhões de euros em investimentos, o que está em linha com os quase 44 mil milhões de euros conseguidos em 2023.
O SoET, que reúne dados quantitativos de 41 países europeus e um inquérito feito a milhares de fundadores, operadores e investidores, tem como objectivo de compreender o que está a acontecer no sector da tecnologia na Europa. Em 2024, o estudo mostra que na Europa há mais fundadores de startups do que os EUA e que existem 35 mil startups, mais do que em qualquer outra região do mundo.
Actualmente, existem no “Velho Continente” oito vezes mais empresas em fase de crescimento do que há dez anos, apesar de as condições de concorrência serem desiguais. No entanto, as startups dos EUA têm duas vezes mais probabilidades de angariar rondas superiores a cerca de 14 milhões de euros do que as suas concorrentes europeias.
A verdade é que, este ano, uma em cada duas empresas europeias de grande dimensão recorreu a um investidor americano para obter financiamento. Os fundos de pensões europeus investem apenas 0,01% do capital em capital de risco global, um valor que parece um erro de arredondamento para os cerca de 8 mil milhões de euros de activos que geram. No Sul da Europa, 0,014% dos fundos de pensões são destinados ao capital de risco – o segundo valor mais elevado de qualquer região europeia, mas ainda assim apenas uma gota no oceano.
A empresa de capital de risco celebra, este ano, o décimo aniversário do estudo com uma edição especial que faz um balanço desde 2015 e que conclui que o sector tecnológico europeu emprega 3,5 milhões de pessoas, o mesmo número que os EUA em 2020 e que mais de 2,5 milhões destes postos de trabalho foram criados na última década, o que significa que o mercado de talentos tecnológicos da Europa registou um aumento da Taxa de Crescimento Anual Composta de 24%.
Entre 2015 e 2024, o número de trabalhadores do sector tecnológico, em Portugal, passou de 5200 para 20 700, em Espanha o aumento foi de 14 mil para 175 mil e em Itália de 26 mil para 167 mil pessoas. Os países com o maior número de trabalhadores do sector tecnológico per capita são a Finlândia, a Estónia e a Suécia.
Nos últimos dez anos, a gestão do carbono foi o tema que registou um maior aumento na sua quota de financiamento na fase de arranque e subiu 39 lugares no ranking da Atomico desde 2015. Assim,1 em cada 5 dólares (21%) investidos na Europa destinam-se a construir um futuro mais sustentável, o que é o dobro do rácio dos EUA, que se situa nos 11%.
Este ano, a deeptech (incluindo a IA) captou 33% dos níveis de financiamento total da Europa. Nos últimos dez anos, as empresas europeias de deeptech angariaram mais de 87 mil milhões de euros, face aos 114 mil milhões de euros na Ásia e mais de 270 mil milhões de euros nos EUA.
«A reserva de talentos de inteligência artificial da Europa é um dos seus grandes trunfos», diz a Atomico. O número de funções relacionadas com a tecnologia aumentou seis vezes graças à s«excelentes instituições académicas do continente».
Há uma década, Portugal não tinha produzido empresas de mais de 900 milhões de euros e agora produziu 2. Em 2015, Itália não tinha criado nenhuma empresa e atualmente tem 7 e Espanha contava na época com 3 empresas e agora conta com 14.
A nível nacional, foram angariados cerca de 92 milhões de euros entre 2005 e 2014, aumentando para mais de 1,4 mil milhões de euros entre 2015 e 2024. Em Itália, as empresas angariaram cerca de 500 milhões de euros entre 2005 e 2014; na década seguinte, o valor cresceu 12 vezes mais, traduzindo-se em mais de 7 mil milhões de euros. No caso das empresas espanholas, estas cresceram 8 vezes mais, passando de 1,5 mil milhões de euros para 13 mil milhões de euros.
O relatório prevê que, na próxima década, a tecnologia europeia poderá ter um valor de ecossistema de mais de 7 mil milhões de euros e uma reserva de talentos de grande qualidade, que ronda os 20 milhões de empregados.
Sarah Guemouri, diretora da Atomico e co-autora do relatório, explica que «esta retrospetiva deve encorajar todos os intervenientes no ecossistema a perceberem até onde chegámos e até onde podemos ir. O próximo passo para a Europa passa agora por desenvolver o seu ecossistema em fase de crescimento. Para o efeito, precisamos de mais fundos de pensões e investidores públicos, para que as empresas europeias em fases posteriores possam construir um mundo melhor».
Já Tom Wehmeier, director de insights da Atomico e co-autor do relatório, referiu que «embora os participantes tenham referido uma série de questões que podem impedir o progresso do continente europeu, desde a I&D à regulamentação, acreditamos que o pessimismo injustificado é o principal obstáculo ao sucesso da Europa. Quando se tem uma visão a longo prazo, é evidente que o continente fez enormes progressos nos últimos dez anos, o que nos deve encorajar a redescobrir a nossa confiança e ambição. Não podemos desfazer aquilo que tem sido a chave do nosso sucesso».