No ‘cibertema’, designação que o CNCS dá aos seus eventos online, Tiago Pedrosa (professor adjunto, investigador e consultor de cibersegurança e segurança de informação do Instituto Politécnico de Bragança) indicou que, apesar do esforço que tem sido feito na criação de mais cursos e oferta formativa evidenciada no estudo do Observatório de Cibersegurança do CNCS, a mesma ainda não é suficiente: «Não é com 174 diplomados específicos nesta área que vamos conseguir resolver o problema da escassez de recursos. Acresce também que o mercado globalizado e a caça a talentos a nível internacional colocaram em questão a capacidade de retenção de talento não só na administração pública, mas também nas empresas». O responsável reconhece que o número de profissionais de segurança em Portugal «está a crescer de uma forma sustentada», mas lembra que é preciso mais, quer ao nível dos «cursos formais, quer não formais» já que são precisas «estas duas forças», ou seja, as pessoas com formação específica em cibersegurança desde o início, as «que desenvolveram essas competências de forma autodidacta e as que vieram da área da informática e que graças a formação contínua ganharam essas skills».
Grandes mudanças
Jorge Pinto, presidente da Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança da Informação, disse que, hoje, o panorama é diferente: «Há 25 anos, um profissional da área era alguém que tinha um bom conhecimento de redes e instalava firewalls e antivírus; neste momento, a cibersegurança cobre diversas áreas e todas elas têm avançado tecnologicamente e tecnicamente, portanto é natural que exista falta de profissionais». O responsável referiu que, segundo um inquérito feito em Portugal no ano passado, a maioria do talento «trabalha nas áreas de consultoria, logo seguida de auditoria de segurança e implementação de soluções de segurança em dispositivos» e revelou que os perfis que mais fazem falta são «criptografia, criptoanálise, inteligência artificial, segurança de ambientes na nuvem, engenharia de segurança em sistemas de controle Industrial, engenharia de segurança no desenvolvimento de equipamentos e no desenvolvimento de software».
Jorge Pinto disse que «todos os processos de requalificação são bem-vindos» e considerou que é preciso apostar no «sistema educativo», já que a associação sente que existe uma «falta de créditos a falta de disciplinas que se foquem áreas de cibersegurança nas licenciaturas relacionadas com tecnologias de informação e de informática de gestão».
Uma sociedade mais resiliente
O presidente da AP2SI destacou que, além da formação e da requalificação, é preciso sensibilização para se «atingir os números necessários de profissionais» e que isso «não vai acontecer próximos anos». Em relação a este último aspecto, Helena Monteiro, presidente da direcção da Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação salientou que cibersegurança «precisa de ser encarada como a sobrevivência dos cidadãos», tal como «comer e dormir, mas sem paranóia» e esclareceu qual deverá ser a estratégia adoptada: «Temos que encarar isto como sendo uma obrigação nacional e que tem de começar nas escolas, que são o ponto fulcral para os miúdos não só ficarem alerta como levarem para casa a comunicação».
A responsável falou ainda em «dar formação aos professores e motivar os jovens sobre o tema», para construir uma sociedade mais resiliente. Tiago Pedrosa partilhou esta visão sobre a importância de tudo começar na sala de aula, mas sublinhou que é «preciso ter também programas específicos para todas as faixas etárias», uma vez que são «riscos distintos», para a «sociedade ganhar como um todo».