O FutureScape marca sempre o início do ano e regresso dos eventos da consultora. Este é o palco onde, tradicionalmente, a IDC divulga as previsões tecnológicas feitas pelos seus analistas. No Centro Cultural de Belém, Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC Portugal, revelou que o «investimento em tecnologia digital vai crescer sete vezes mais que a economia, em 2024», que se espera que aumente apenas 1,2%, de acordo com o Banco de Portugal. Depois de crescer 34 e 21% em 2021 e 2022, respectivamente, a despesa em digitalização sofreu um decréscimo para 10%, no ano passado; contudo, as perspectivas da IDC para 2024 e para os próximos anos são positivas: os gastos devem «aumentar para um valor entre 14 e 15%».
O responsável salientou que as «tecnologias que estão a suportar a transformação digital», e a gerar investimento por parte das organizações, vão continuar a crescer «a dois dígitos» até 2025 são as das áreas de «infraestrutura, software e as da terceira plataforma, nomeadamente a cloud e a inteligência artificial». Gabriel Coimbra realçou ainda a importância que esta última tecnologia terá este ano e no futuro: «Na IDC, acreditamos que a inteligência artificial está a transformar a indústria das TI e que vai transformar todos os sectores da economia. A IA está a passar de uma peça de software para aquilo que é a plataforma que vai sustentar tudo o que é transformação digital nas organizações».
Aumento do investimento nacional
As áreas com maior impacto transversal em Portugal da introdução da IA são semelhantes às europeias – Gabriel Coimbra revelou quais: «O que vemos é que há uma série de use cases relacionados com a IA, em especial ligados à automação, segurança e compliance, que vão ter um impacto muito grande nas organizações, nos próximos anos. Vemos taxas de crescimento de 20 a 30% na área das vendas, suporte ao cliente, marketing e na automação das TI das organizações com grandes efeitos na produtividade».
O group vice president e country manager revelou as previsões da IDC sobre o investimento em transformação digital em Portugal, por verticais: «Vemos alguns sectores mais tradicionais como os seguros que vão aumentar os investimentos em 35% (CARG) até 2027, assim como a administração pública e a saúde», que vão também aumentar as despesas com tecnologia digital a uma taxa de cerca de 30% ao ano.
Cibersegurança e a NIS 2
No mercado nacional, as despesas com tecnologia que terão mais impacto serão na analítica, que vai chegar a «cerca de 350 milhões de euros»; isto, somado à IA, chegará aos 450 milhões de euros, só em 2024» disse o responsável. Além disso, há «grandes perspectivas de crescimento no que diz respeito à realidade aumentada, robótica, metaverso e blockchain» até 2027. Já na área da cibersegurança, as despesas vão continuar a crescer nos «managed services, obviamente por falta de recursos, e no software relacionado com IA para prevenção e recuperação de incidentes», avançou o responsável.
A nova regulação que entrará em vigor nos próximos anos, nomeadamente a AI Act e a Cybersecurity Act da União Europeia, entre outras, será outro dos elementos que vai trazer importantes transformações. «Perante este cenário, cumprir com as leis vai ser humanamente impossível. É aqui que a utilização da IA vai ajudar», disse Bruno Horta Soares, leading executive advisor da IDC Portugal. Concretamente em Portugal, Gabriel Coimbra salientou o desafio ligado à NIS 2, referente à segurança das redes e da informação, que terá de ser transposta a nível nacional até Outubro. Esta directiva vai passar a englobar não só as infraestruturas críticas, mas também outros sectores, como a saúde, a gestão de resíduos, o serviço postal e a administração pública. O responsável esclareceu as implicações desta situação: «Na nossa perspectiva, a NIS 2 será fundamental para garantir uma maior resiliência digital das organizações europeias, mas vai exigir um esforço significativo por parte das grandes e médias empresas, que terão de aumentar os seus investimentos em segurança da informação em mais 10 a 20%».
IA em todo o lado
Bruno Horta Soares foi responsável por apresentar as principais tendências globais previstas pela consultora: «Não há dúvida de que a IA generativa é um grande avanço, principalmente a «nível humano, já que, pela primeira vez, as pessoas entendem a tecnologia e para o que serve». De acordo com a IDC, a IA vai estar em todo o lado e, até 2025, «40% das organizações vão vender, envolver-se ou fornecer serviços on-demand através de ecossistemas digitais, para permitir novos modelos de negócio alimentados por recursos de IA everywhere».
No entanto, o analista deixou um alerta: «Há oportunidades, mas também ameaças. Se, por um lado, estamos a falar de uma ferramenta que toca as pessoas, naturalmente temos de falar em temas como a privacidade, a segurança e, naturalmente, as responsabilidades corporativas da sua utilização».
Tudo como um serviço será uma realidade
No que diz respeito às tendências, o responsável falou de quatro drivers em que o primeiro foi referente aos modelos de negócio: «O Everything as a Service vai intensificar-se; vamos passar de uma economia de ofertas para as de procura ,onde quem manda são os clientes». Já sobre o segundo driver, ligado às tecnologias emergentes, Bruno Horta Soares falou da importância da automação: «Estamos a transitar daquilo que é uma fase de transformação digital para uma de automação – isto significa que passamos a ter o OT ligado com o IT. É a capacidade de as organizações combinarem várias tecnologias para conectar as máquinas».
Nos riscos macro, o responsável falou da «confiança digital», ou seja, não só da cibersegurança, mas de outros elementos como a «privacidade, a conformidade e a responsabilidade social» e de como a IA generativa vai ser fulcral: «O aumento dos ataques vai ser muito facilitado por ferramentas de inteligência artificial, portanto a única forma de nos podermos proteger é adoptarmos, também, ferramentas semelhantes para a protecção. Temos de usar máquinas para nos defendermos das máquinas».
Por último, sobre o driver das pessoas e da sociedade, Bruno Horta Soares disse haver três factores a considerar: «O espaço» onde se trabalhar, o «aumento das capacidades dos trabalhadores» e a «cultura». Tudo tem de estar «alinhado» para «transformar o futuro do trabalho». Em Portugal, «tudo o que está ligado ao local de trabalho digital vai crescer até 2027, mas também na automação e IA, para aumentar a capacidade dos trabalhadores», acrescentou Gabriel Coimbra. No final, o leading executive advisor disse que é preciso ver o lado positivo da transformação trazida pela IA: «Vai ser uma oportunidade e, por isso, vão existir muitos incentivos ao investimento nesta transição digital».